
O dia seguinte ao voto de mais de 12 horas de duração, no julgamento dos integrantes do núcleo crucial da trama golpista, foi de isolamento do ministro Luiz Fux diante dos demais integrantes da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF). Calado e cabisbaixo, teve de se submeter à própria regra que cobrou, com veemência, logo na primeira sessão, quando relembrou ao presidente do colegiado, Cristiano Zanin, que não deveria haver apartes quando da leitura das manifestações. Mas a postura do magistrado demonstrou, também, o quanto ficou isolado em função do longo, surpreendente e contraditório voto — se comparado com decisões anteriores relacionadas ao mesmo processo —, que causou mal-estar entre os próprios pares.
Por conta disso, teve de escutar (poucas, registre-se) ironias e indiretas dos demais ministros, mantendo-se, todo o tempo, absorto em relação aos papeis que manuseava. Enquanto isso, na leitura do voto da ministra Cármen Lúcia, havia uma intensa troca de ideias e amenidades entre ela, Alexandre de Moraes e Flávio Dino. Houve espaço, também, para comentários bem humorados, tal como quando a ministra cobrou de Moraes a devolução da palavra ao alongar-se em um comentário — "tenho um voto para ler", brincou a magistrada.
A certo momento do voto da ministra, Fux deixou o plenário. Afastou-se da sessão por cerca de cinco minutos no momento em que a decana do colegiado sustentava que houve violência na tentativa de golpe de Estado e que foi constituída organização criminosa para atentar contra a democracia. Os dois fatos tinha sido refutados por Fux no dia anterior, pois que ele não enxergou, ao votar, a existência de uma organização criminosa formada para dar o golpe de Estado e que essa mesma tentativa de ruptura da institucionalidade democrática não passou de uma cogitação.
De volta ao plenário, Fux falou algo com Dino. Mas a expressão corporal de ambos demonstrava haver um desconforto entre eles. O ex-ministro, que estava à frente da pasta da Justiça quando da invasão dos bolsonaristas às sedes dos Três Poderes, em 8 de janeiro de 2023, apenas balançou a cabeça em resposta ao colega — foi a única interação com o restante da turma no momento em que eram lidos os votos. Fux apenas se manifestou quando o colegiado passou a debater a dosimetria das penas dos condenados.
O único momento em que o ministro abandonou a postura de isolamento foi quando Moraes pediu a palavra para reforçar o argumento de Cármen de que Jair Bolsonaro chefiou a organização criminosa golpista. Quando o relator da ação penal exibiu vídeos que exemplificavam que o golpismo esteve em curso enquanto o ex-presidente esteve à frente do governo, Fux se colocou atento ao que passava no telão da Primeira Turma. Mas, assim que as imagens se encerraram, voltou a abaixar a cabeça e manusear documentos.
Nos bastidores da Corte, o que se comentava enquanto Fux gastava mais de 12 horas para justificar suas decisões, é que o dia seguinte seria de respostas contundentes ao ministro. O que se viu, porém, foi o contrário, apesar de uma ou outra ironia. No mais, a percepção era de que, depois da maratona do dia anterior, o colegiado pretendia dar celeridade ao julgamento e concluí-lo no dia de ontem, inclusive debatendo a dosimetria dos oito do núcleo crucial do golpe. Tanto que o voto da ministra não foi lido na íntegra — ela preferiu comentá-lo, da mesma forma como optou pelo mesmo formato para refutar as preliminares propostas pelos advogados dos agora condenados. O mesmo foi feito por Zanin, que não chegou a gastar duas horas para expor sua manifestação.
Na sequência, o colegiado passou à decisão das penas a serem impostas aos réus. Foi quando Fux deixou a postura de alheamento. (Com Agência Estado)Saiba Mais
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