JULGAMENTO DA TRAMA GOLPISTA

Crimes contra a democracia não têm anistia, afirma Flávio Dino

O ministro enfatizou que a proteção à democracia exige resposta penal rigorosa, rejeitando indulto ou absorção das condutas

O ministro Flávio Dino afirmou, nesta terça-feira (9/9), ao contextualizar seu voto no julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF) do ex-presidente Jair Bolsonaro e de militares acusados de tentativa de golpe, que não há possibilidade de anistia ou indulto para crimes contra o Estado Democrático de Direito.

Enfático, ele questionou: “Que interesse público haveria em perdoar aquele que foi devidamente condenado por atentar contra a própria existência do Estado Democrático, suas instituições e institutos mais caros?”

Dino recordou manifestações de outros ministros para reforçar o argumento. “Crime contra o Estado Democrático de Direito é um crime político e impassível de anistia, porquanto o Estado Democrático de Direito é uma cláusula pétrea que nem mesmo o Congresso Nacional pode suprimir”, disse, citando o ministro Luiz Fux.

Ele também mencionou a ministra Cármen Lúcia, que outro momento do andamento do processo disse que “um indulto, a anistia, resultaria na mensagem indevida a detratores da democracia e à Constituição de que eles poderiam continuar a praticar os crimes".

O ministro destacou que os atos praticados não podem ser tratados apenas como condutas preparatórias. “Não há, nesse caso, delito meio e delito fim. Foram duas condutas com desvalor próprio, que precisam ser devidamente mensuradas, sob pena de proteção insuficiente a bens jurídicos fundamentais”, afirmou. Dino ressaltou ainda que os fatos são incontroversos. “Praticamente, os fatos são incontroversos quanto ao que ocorreu empiricamente em nosso país."

Em sua análise, o magistrado explicou que os atos preparatórios assumiram caráter executório no caso em julgamento. “Não se tratou de mera cogitação. Houve atos executórios que expuseram o bem jurídico — o Estado Democrático de Direito — a uma gravíssima lesão. Não há espaço, portanto, para qualquer outro raciocínio”, enfatizou.

Ele listou episódios que comprovam o caráter violento das ações. “Houve invasão violenta da Esplanada, ataques contra policiais, fechamento de rodovias federais, tentativa de fechar aeroportos, bomba em Brasília, rompimento de barreiras policiais em 8 de janeiro. Não se tratou de violência contra coisas, mas contra pessoas, contra instituições”, citou.

Dino também ironizou os acampamentos golpistas: “Se você está com intuito pacifista, vai à missa, vai ao culto. Mas não foi isso. Os acampamentos foram na porta de quartéis, onde há fuzis, metralhadoras, tanques."

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Ao concluir, Dino rejeitou qualquer tese de absorção ou desproporcionalidade nas penas. “Não houve meras reflexões postas em cadernos. Não. A cogitação foi acompanhada de atos executórios. As penas são congruentes. Esses crimes não admitem benevolência, porque significaram um ataque frontal ao Estado Democrático de Direito."

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