O relator da CPMI do INSS, deputado federal Alfredo Gaspar (União Brasil-AL), afirmou ao Correio, nesta segunda-feira, que vai pedir a convocação do senador Weverton Rocha (PDT-MA) e do deputado Euclydes Pettersen (Republicanos-MG) para prestarem depoimento à comissão. Os nomes dos parlamentares surgiram nas investigações que apuram um esquema de descontos ilegais em aposentadorias e pensões do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Segundo Gaspar, a convocação tem "caráter esclarecedor" e busca dar transparência ao trabalho do colegiado, que atua de forma "ampla e imparcial".
Durante a oitiva de Alexandre Guimarães, ex-diretor de Governança do INSS, Gaspar afirmou que o deputado Kim Kataguiri (União-SP) já protocolou o requerimento de convocação dos dois parlamentares. "Minha condição de relator exige uma investigação isenta. Adotei como linha de trabalho tratar todos com a mesma seriedade, sem exceções", declarou. Weverton e Pettersen foram citados após revelações de que o senador teria dividido um jatinho com o empresário Antônio Carlos Camilo, conhecido como "Careca do INSS", enquanto o deputado teria vendido um avião a uma ONG suspeita de envolvimento no esquema. Ambos ainda não se pronunciaram oficialmente sobre a eventual convocação.
O nome de Antônio Carlos Camilo tem aparecido com frequência nas apurações da CPMI. O empresário é apontado como um dos articuladores de um sistema de associações e empresas de fachada que desviava recursos de aposentados por meio de descontos indevidos em benefícios previdenciários.
No depoimento, Alexandre Guimarães admitiu ter se encontrado com Camilo em Brasília, em 2022, para tratar de um projeto de aplicativo de educação financeira. "Fui tomar uma cerveja com amigos, e o assunto surgiu de forma informal, sem ligação com o INSS", sustentou. O relator reagiu com ironia: "O senhor, como diretor do INSS, foi chamado para um bar e lá tratou de importação e exportação de frutas?".
Guimarães também confirmou ter se reunido novamente com o empresário no Gilberto Salomão, centro comercial de Brasília, onde Camilo apresentou o projeto de um aplicativo que ofereceria "benefícios a clientes". O ex-diretor afirmou que, a partir desse contato, criou uma empresa para desenvolver conteúdos sobre educação financeira, a Vênus, mas negou qualquer envolvimento com irregularidades.
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Segundo Gaspar, porém, a Vênus recebeu mais de R$ 2 milhões de empresas ligadas ao "Careca do INSS", além de transferências pessoais de R$ 85 mil para Guimarães. O relator apontou que o contador da Vênus, Rubens Oliveira Costa, também seria operador financeiro do grupo investigado.
Guimarães alegou que os valores recebidos correspondem à venda de um veículo particular e que a empresa foi criada para atividades lícitas. Gaspar, contudo, destacou que "as conexões são evidentes" e que familiares do contador atuavam em gabinetes parlamentares ligados ao grupo político de Camilo.
O relator ainda ressaltou que documentos da Controladoria-Geral da União (CGU) e da Polícia Federal indicam um esquema de desvio de bilhões de reais do INSS por meio de associações de fachada. "Estamos falando de uma organização criminosa que usou a estrutura pública para desviar dinheiro de quem mais precisa. Cada elo será devidamente rastreado", frisou.
Guimarães, que ocupou cargos na autarquia entre 2017 e 2023, negou irregularidades e ressaltou que o aumento das denúncias de descontos indevidos ocorreu após a criação da ouvidoria interna do INSS, sob sua gestão.
"O crescimento das reclamações demonstra mais capacidade de registrar queixas, não mais irregularidades", defendeu. O relator, entretanto, reiterou que as coincidências entre nomes, empresas e transações financeiras "colocam sob suspeição" a atuação do ex-gestor e reforçam a necessidade de ouvir parlamentares e demais envolvidos.
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