A megaoperação policial que já soma 120 mortos nos complexos da Penha e do Alemão, como informou a Defensoria Pública nesta quarta feira (29/10) no Rio de Janeiro, virou pauta no plenário do Congresso Nacional, onde divide opiniões.
Siga o canal do Correio no WhatsApp e receba as principais notícias do dia no seu celular
Parlamentares de esquerda criticaram a falta de comunicação entre o Palácio Guanabara e o governo federal, além da quantidade de mortes. Para o deputado Chico Alencar (PSol-RJ), a operação foi resultado de uma política “de guerra aberta” que ignora a presença de civis nas comunidades.
“O governador Cláudio Castro reconheceu que não comunicou o Ministério da Justiça sobre uma operação extremamente letal. Isso é grave. Uma ação que mata mais de 100 pessoas, muitas fora de confronto, não pode ser chamada de êxito.[...] Falta inteligência e articulação entre os entes federativos", afirmou Alencar, em entrevista ao Correio. Ele defendeu um debate “sereno e sem viés eleitoreiro” ao falar da PEC da Segurança Pública e de outras propostas em tramitação.
A deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ) também criticou a condução da operação e questionou o silêncio do governo estadual. “Nós não temos pena de morte no Brasil. Cláudio Castro precisa ser investigado por sua política de segurança e vai ter que responder pelo que está acontecendo, ele está criando um fato político-eleitoral”, declarou em discurso no Plenário, ao rebater acusações de que a esquerda seria conivente com o crime organizado.
Em tom ainda mais duro, Ivan Valente (PSol-SP) comparou a ação à chacina do Carandiru e chamou o governador do Rio de “despreparado”. “O Rio superou o Carandiru. Essa operação sem inteligência colocou policiais e civis em perigo para poder culpar o governo federal. [...] Pensar em segurança pública é uma coisa que a direita não quer pesar, é articulação, colaboração”, disse.
Oposição
Na outra ponta, parlamentares da base bolsonarista defenderam a operação e responsabilizaram o governo federal pela escalada da violência. O Coronel Chrisóstomo (PL-RO) cobrou a decretação de uma Garantia da Lei e da Ordem (GLO) no estado. “Basta o presidente Lula assinar o decreto. [...] As Forças Armadas quando entram é pra resolver, eles não usam pistola, usam é fuzil pra cima de bandido. Tá faltando vontade do governo”, afirmou.
O Cabo Gilberto Silva (PL-PB) foi além e disse que o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Executivo deveriam “engessar” a polícia e “fortalecer o crime organizado”.
"O Estado precisa retomar os territórios dominados pelo tráfico. Cadê o Brasil soberano? [...] O Congresso está sendo omisso, temos que lutar contra o crime organizado de forma dura", declarou, defendendo mudanças no Código Penal e endurecimento das penas.
Batizada de Operação Contenção, a ação conjunta das polícias Civil e Militar do Rio de Janeiro foi deflagrada na terça-feira (28) na Zona Norte da capital fluminense e reuniu cerca de 2,5 mil agentes policiais para conter o avanço do Comando Vermelho e prender lideranças da facção. O episódio, descrito por autoridades como um dos mais violentos da década, expôs divergências política sobre a coordenação nacional da segurança pública.
