Por apenas um voto de diferença, o governo atingiu o objetivo de comandar a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Crime Organizado, no Senado. Numa sessão tensa e marcada por bate-boca entre parlamentares governistas e de oposição, o senador Fabiano Contarato (PT-ES) ganhou a briga para presidir o colegiado. O vice será Hamilton Mourão (Republicanos-RS), e o relator, Alessandro Vieira (MDB-SE). Em outra vitória do governo, a Câmara adiou a votação do projeto de lei que enquadra facções criminosas como grupos terroristas — uma ofensiva da oposição.
Na CPI, senadores bolsonaristas, que veem a comissão como um flanco para enfraquecer o governo, reclamaram da vitória apertada de Contarato, por 6 votos a 5. O senador Eduardo Girão (Novo-CE) chamou o resultado de "manobra vergonhosa", enquanto o presidente temporário da sessão, Otto Alencar (PSD-BA), rebateu, afirmando que "não aceita lições" da oposição.
Já na presidência, Contarato enfatizou que a comissão deve atuar "com base em critérios técnicos e independência institucional". "Essa CPI precisa ser um divisor de águas na segurança pública brasileira", afirmou. Segundo ele, o objetivo é "transformar a indignação da sociedade em respostas concretas". A pedido dele, o colegiado fez um minuto de silêncio em homenagem aos quatro policiais mortos na megaoperação no Rio de Janeiro contra o Comando Vermelho (CV). A ação das forças de segurança do estado resultou em 121 mortes.
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Com duração inicial de 180 dias, prorrogáveis por mais 90, a CPI do Crime Organizado investigará a atuação de grupos como o CV e o Primeiro Comando da Capital (PCC), além de milícias que operam em diferentes estados. O colegiado também pretende apurar fontes de financiamento, lavagem de dinheiro e possíveis conexões entre facções e agentes públicos.
O colegiado já aprovou os primeiros requerimentos de informação e convites a autoridades. Estão previstos depoimentos dos ministros da Justiça, Ricardo Lewandowski, e da Defesa, José Múcio Monteiro. Também foram aprovadas as oitivias de 11 governadores e seus secretários de Segurança Pública. Entre os convidados, estão Tarcísio de Freitas (Republicanos) e Guilherme Derrite, de São Paulo; Cláudio Castro (PL), do Rio de Janeiro; e Jerônimo Rodrigues (PT), da Bahia. Também serão chamados os governadores de Santa Catarina, Paraná, Rio Grande do Sul, Amapá, Pernambuco, Ceará, Alagoas e Distrito Federal, representando tanto estados com altos índices de violência quanto aqueles com indicadores mais baixos.
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De acordo com Vieira, os depoimentos pretendem ajudar a traçar um panorama nacional sobre a atuação das organizações criminosas e a resposta dos governos estaduais.
Os senadores também aprovaram convites para o promotor de Justiça Lincoln Gakiya, do Ministério Público de São Paulo, conhecido por investigar o PCC e que foi jurado de morte pela facção.
Já Lewandowski e José Múcio devem ser convidados para prestar esclarecimentos sobre as estratégias de enfrentamento ao crime organizado e a integração entre forças federais e estaduais.
A CPI ainda avalizou um pedido de informações ao Ministério da Justiça. O relator solicitou o envio de relatórios e documentos produzidos entre 2021 e 2025 que detalhem dados sobre o crime organizado, rotas de tráfico e a presença de facções nos estados. "É necessário entender o alcance real das facções e propor medidas efetivas, sem improvisos nem disputas políticas", disse Vieira.
Terroristas
Na Câmara, a sessão na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) que analisaria o projeto de lei para classificar facções de terroristas foi adiada para hoje, segundo o presidente do colegiado, Paulo Azi (União-BA). O adiamento ocorreu após pressão do governo, que é contra o texto relatado por Nikolas Ferreira (PL-MG) e tenta aprovar sua própria proposta, o chamado Projeto Antifacção, enviado à Casa na semana passada.
O texto de Danilo Forte (União-CE) é uma das principais bandeiras do bolsonarismo no Congresso e ganhou força após a operação policial no Rio de Janeiro. O Planalto, no entanto, argumenta que a proposta pode ser usada para criminalizar movimentos sociais, e defende o projeto alternativo, que cria o crime de "organização criminosa qualificada", com pena de até 15 anos, podendo chegar a 30, em caso de homicídio.
"O Projeto Antifacção é mais preciso e traz mecanismos para combater a infiltração desses grupos no mercado formal e no poder público", afirmou o líder do PSB, Pedro Campos (PE).
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