O primeiro dia da Cúpula de Líderes da COP30, em Belém, repercutiu entre especialistas. Em nota, o Greenpeace classificou o discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva como "forte". O chefe do Executivo disparou críticas à falta de ação climática, disse que é hora de “levar a sério” os alertas feitos pela comunidade científica e defendeu “mapas do caminho” para superar a dependência dos combustíveis fósseis. A organização apontou, no entanto, contradição do governo ao autorizar a exploração de petróleo na Margem Equatorial a menos de um mês da conferência.
"Para essa COP entrar para a história, é preciso concretizar a promessa de sairmos de Belém com um mapa do caminho para reverter o desmatamento até 2030 e superar a dependência dos fósseis. Precisamos de planos concretos, mecanismos de implementação e fontes claras de financiamento. O desafio agora é transformar essas palavras em ação, sob liderança do Brasil", diz o Greenpeace, em texto assinado pela diretoria executiva da organização, Carolina Pasquali. "Seguir insistindo em explorar petróleo na Foz do Amazonas ou atrasar a demarcação de territórios indígenas, que aguardam há décadas por essa garantia, expõe contradições que não cabem em um momento tão importante para o nosso país e para o planeta. Que as palavras, mas, principalmente, as ações do Brasil, sejam a injeção de coragem que os demais líderes globais precisam para também fazerem a sua parte", acrescentou.
Para o secretário-executivo do Observatório do Clima, Marcio Astrini, o Brasil terá êxito se conseguir incluir todos os objetivos citados pelo presidente em seu discurso no documento final da Conferência.
"Em seu discurso, o presidente Lula afirmou que precisamos de um mapa do caminho para acabar com o desmatamento e o uso dos combustíveis fósseis. É exatamente do que precisamos, e é exatamente o que esperamos que a presidência da conferência coloque como proposta sobre a mesa. O sucesso da COP30 se dará ao transformar as palavras do presidente brasileiro em resolução final", afirmou Astrini.
Já sobre o fundo para florestas tropicais, o CEO da plataforma de gestão MyTS, Valmir Rodrigues, destacou que, apesar de a iniciativa ser positiva e atrair investidores, o que vai determinar seu sucesso é a aplicação dos recursos em medidas concretas, com transparência, relatórios públicos e acompanhamento constante das iniciativas. Ele destaca também o envio de parte (20%) dos valores para indígenas e comunidades tradicionais como "um bom começo", mas aponta que a fatia deveria ser amplificada no futuro.
"Deveria ser a maior parte (dos recursos). São essas pessoas que cuidam da floresta no dia a dia e conhecem os problemas reais. Em muitos fundos anteriores, o dinheiro ficou preso em estruturas complexas, e pouco chegou ao território", argumentou. "O TFF precisa inverter essa lógica. O essencial é garantir simplicidade na execução, acompanhamento direto e capacitação local. Sem isso, o risco é repetir erros do passado: projetos bonitos no papel, mas com pouco impacto real."
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Congresso
Também no primeiro dia da cúpula, discursaram os presidentes do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), e da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB). Ambos saíram em defesa do protagonismo brasileiro na preservação ambiental.
Alcolumbre destacou a importância da agenda global do clima e da Amazônia brasileira para o mundo. Também pontuou o fato de que a preservação da floresta não exclui o desenvolvimento. "Chegamos aqui, hoje, de cabeça erguida, para falar em nome do Congresso brasileiro, do Brasil e dos brasileiros, da nossa capacidade, da nossa resiliência, em proteger, mas também queremos mostrar que precisamos desenvolver a Amazônia brasileira, o pulmão do mundo, que precisa do apoio para mantermos a floresta em pé", afirmou ele, um dos defensores da exploração do petróleo na Margem Equatorial.
Já Motta citou a importância do Parlamento brasileiro para a consolidação de uma agenda ambiental robusta. "Em sintonia com as pautas debatidas na COP30, a Câmara aprovou, só na sessão de ontem (quarta-feira), uma série de projetos que fortalecem a proteção ambiental e o combate a crimes ecológicos", afirmou.
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