REPRESENTATIVIDADE

Benedita da Silva defende cotas e diz não abrir mão de suas bandeiras

Deputada denuncia o apagamento da trajetória de mulheres negras, critica disputas internas dos partidos e afirma que políticas de cotas são essenciais para a democracia

A deputada Benedita da Silva (PT-RJ) levou ao encontro “Democracia: Substantivo Feminino” um discurso marcado por memória e indignação. Ela relembrou ataques que recebeu ao anunciar sua pré-candidatura ao Senado que, segundo disse, revelam o quanto ainda se tenta invalidar mulheres negras na política.

“Coloquei meu nome para ser candidata ao Senado e é impressionante o que eu pude ouvir. ‘A minha idade’, ‘eu tenho que dar a vez para outro’, como se eu estivesse tomando a vez de outra pessoa. Como se eu já estivesse com a minha validade vencida”, relatou. “Esqueceram totalmente que eu já passei pelo Senado. Esqueceram totalmente toda a trajetória que fiz", acrescentou.

Benedita contou que, diante desse apagamento, reafirmou sua identidade e seu propósito: “Eu não posso abrir mão daquilo que me fortalece, daquilo que me faz ser quem eu sou… Para que mulheres iguaizinhas à Benedita da Silva estejam no tribunal, no Congresso Nacional, na Presidência da República, onde elas quiserem”.

A parlamentar criticou ainda a forma como a democracia se esvazia quando chega a hora de repartir recursos e oportunidades. Para ela, as disputas que se travam dentro dos partidos e até dentro das próprias bancadas mostram que a igualdade ainda é muito distante da prática.

“Quando gera os recursos para serem divididos, essa democracia deixa de existir. Vai-se com ponto de vista ideológico, faz-se a disputa ideológica, faz-se a disputa política”, afirmou.

Bancada feminina surgiu por cotas

Ela também reforçou a importância histórica das políticas de cotas, lembrando seu papel decisivo na construção de uma bancada feminina que simplesmente não existiria sem elas.

“Se não fossem políticas de cotas, nenhuma de nós estaria no Congresso Nacional. Nem branca nem negra. Isso eu posso garantir”, enfatizou a parlamentar.

Ao citar o debate iniciado por Marta Suplicy na Câmara e por ela própria no Senado, Benedita disse que foi naquele momento que os partidos passaram a discutir seriamente as cotas, embora, até hoje, a aplicação plena dos 30% previstos na lei siga distante da realidade.

“A política de cotas é uma denúncia da fragilidade, da má formação ideológica (…) de uma população majoritariamente feminina e negra que não tem representatividade à altura", disse Benedita.

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