A Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher da Câmara dos Deputados realizou, na véspera da 2ª Marcha Nacional das Mulheres Negras, uma audiência pública sobre o tema “Jovens Mulheres Negras e o Desafio para o Acesso e Garantia do Direito ao Trabalho Digno”.
O intuito do evento, que aconteceu nesta segunda-feira (24/11), foi discutir as dificuldades e desigualdades de mulheres pretas no acesso e na permanência no mercado de trabalho.
A deputada Juliana Cardoso (PT-SP), que solicitou a reunião, afirmou que o racismo é “um projeto de desigualdade, é um projeto de morte, é um projeto de desrespeito”. De acordo com ela, esse preconceito também se mostra na Câmara com um número menor de parlamentares negras, vindas de cotas.
“Essa estrutura econômica nunca se reconcilia com a vida das pessoas negras. E, inclusive nesse espaço, nesse Parlamento, vocês vêem que nós somos 513 deputados. Se você for olhar as mulheres negras, são muito poucas. Nós estamos falando, eu acho que em 12, na média", disse a parlamentar.
"Aliás, na Câmara, a representação negros e negras só cresceu por conta das cotas, que foi uma luta, para constar. A luta para as mulheres terem espaço no partido, mas também terem seus espaços para conseguirem ser candidatas e ter recursos, tanto mulheres, quanto homens”, acrescentou.
Na avaliação da coordenadora de justiça racial e de gênero da Oxfam Brasil, Bárbara Barboza, é triste ter que discutir esse tema em 2025. Para a pesquisadora, as mulheres negras são as que mais pagam taxas no Brasil, mesmo recebendo salários 62% mais baixos do que as mulheres brancas, enquanto milionários não são taxados de forma proporcional.
Ela destacou a necessidade do reconhecimento do trabalho doméstico, majoritariamente ocupado por mulheres pretas, no Plano Nacional de Cuidados, que tem a finalidade de garantir o direito ao cuidado.
“Existe uma falha muito grande nesse plano, que é da gente não conseguir ainda abarcar a questão das trabalhadoras domésticas. A própria questão, como eu falei, deve agregar dados sobre jovens mulheres negras", disse a coordenadora.
"Me impressiona jovens mulheres negras não estarem representadas no Plano Nacional de Cuidados. Porque quem está neste momento cuidando desse país, se não as jovens e mulheres negras?”, indagou ainda Bárbara.
Ministério tenta mitigar desigualdades
A coordenadora-geral de fiscalização e promoção do trabalho decente do Ministério do Trabalho e Emprego, Dercylete Lisboa Loureiro, ressaltou que, apesar de tardio, o ministério trabalha para amenizar as assimetrias de gênero, classe e raça do trabalho.
"Na Política Nacional de Cuidados há uma série de ações para justamente atender as trabalhadoras domésticas. E inclusive, em 2024, foi criada a Coordenação Nacional de Fiscalização do Trabalho Doméstico, que tem uma campanha nacional permanente para trazer o assunto do trabalho doméstico decente", disse.
“É triste que, depois de 50 anos de você ter a lei dizendo que elas tinham direito à carteira, vai começar a estruturar uma fiscalização do trabalho doméstico institucionalizada. Demora para caramba, mas eu celebro demais”, concluiu a coordenadora.
*Estagiária sob a supervisão de Victor Correia
Siga o canal do Correio no WhatsApp e receba as principais notícias do dia no seu celular
Saiba Mais
-
Política Lula propõe 'retomada histórica' da presença brasileira na África
-
Política PL reúne bancada para alinhar estratégia após prisão de Bolsonaro
-
Política Alexandre Silveira posterga saída do PSD e considera candidatura ao Senado
-
Política Após flagra, Nikolas reage e acusa Globo de "violação grave de privacidade"
-
Política Benedita da Silva defende cotas e diz não abrir mão de suas bandeiras
-
Política Sertralina e pregabalina: os medicamentos tomados por Bolsonaro e para que servem
