A recente passagem de Rosalía pelo Brasil movimentou as redes sociais. No domingo (30/11), a cantora foi ao Rio de Janeiro para encontrar fãs e falar sobre o novo projeto Lux. Além disso, aproveitou a estadia para conhecer a cidade e visitar uma loja de vinis no centro do Rio, de onde saiu com um conjunto de clássicos da música brasileira.
Entre os discos escolhidos pela artista estão Em pleno verão (1970), de Elis Regina; Circuladô (1991), Bicho (1977), Caetano Veloso (1986) e Caetano e Chico – Juntos e ao vivo (1972), todos de Caetano Veloso; Stillness (1970), de Sérgio Mendes; além de Elis, E Como e Porque (1969). A descoberta da seleção foi feita pelo jornalista musical e criador de conteúdo Pietro Reis, que decidiu percorrer as ruas onde Rosalía esteve para identificar a loja, conversar com os vendedores e reconstruir a curadoria da artista.
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Entrevista // Pietro Reis
Como surgiu a ideia de investigar os discos que a Rosalía comprou?
Tudo surgiu de uma ideia que eu estava trocando com um amigo meu, que é jornalista também. A gente falou: “Cara, e se a gente conseguisse descobrir quais vinis a Rosalía comprou?”. A gente tinha as fotos dos paparazzi, então eu sabia que era uma região muito específica ali do Rio, do centro. Era ali perto da Rua da Confeitaria Colombo, então ela não ficou andando muito, não dava pra ser um raio grande.
Eu errei o primeiro lugar. Entrei me gravando discretamente e perguntei ao vendedor se uma cantora famosa tinha passado ali no dia anterior. Ele ficou meio grosso, perguntando se podia me ajudar com outra coisa, aí já entendi que não era lá. No segundo lugar, antes mesmo de subir, as informações começaram a bater. Quando fui falar com o vendedor da Allegro Discos, ele falou: “Foi aqui, sim, mas o Marcelo, que recebeu ela, só volta amanhã”. Aí desci e comecei a conversar com o pessoal da rua, segurança, porteiro, o pipoqueiro. Todos contaram a mesma história.
O pipoqueiro era uma figura. Ele contou que ela quis pipoca doce, que era um amor, que achou o Rio muito bonito. Ele falou que ela deu 5 dólares e não quis troco. Foi muito legal.
Voltei no dia seguinte meio inseguro, pensando: “Será que o Marcelo vai lembrar? Será que foi essa loja?”. E ele reconheceu quase todos os discos pelas fotos. Ele lembrou do do Sérgio Mendes, dos Caetanos… Aí fui anotando tudo, voltei pra casa, montei o vídeo e a parada explodiu. Eu sabia que o que tinha era muito bom. E era algo que eu queria que ganhasse repercussão mesmo, não só “descobri e acabou”. Era sobre levantar essa bola: por que ela escolheu esses discos?
O que essas escolhas revelam sobre o gosto musical dela?
A Rosalía é muito antenada à música global, isso ela provou no disco dela. E ela é fã declarada do Caetano, ele está creditado nos agradecimentos do El Mal Querer, então é natural que ela buscasse discos dele. A Elis é a maior voz do Brasil, reconhecida no mundo inteiro. O que me intriga é o recorte dos anos 1970. O Sérgio Mendes tem muita força lá fora, o que justifica também. Mas dá para especular que ela tem uma pesquisa direcionada.
Qual disco te surpreendeu mais?
Nenhum me surpreendeu muito, porque ela não conhece os discos exatamente. Ela sabia que queria uma época, um gosto. Então pegar Caetano não surpreende, pegar Sérgio Mendes também não surpreende. Talvez eu destacaria o Caetano e Chico — Juntos e ao vivo, porque acho que ela piraria em conhecer as composições do Chico. Pode ser uma boa porta de entrada.
Se você fosse recomendar outro disco nessa mesma linha, qual seria?
Acho que Clube da Esquina (1972). Acabou Chorare também é de 1972. E tem Tabu de Esmeralda, que tem todo um lance da religiosidade, do divino, que ela poderia se interessar.
Para quem ficou curioso e quer começar a comprar vinil no Rio, onde ir?
Eu vou ser simpático com quem foi simpático comigo: a Allegro Discos é um ótimo lugar. Vinis conservados, preço bom e atendimento excelente. Mas a Feira da Praça XV é onde muita gente começa. Ali você tem que garimpar, mas encontra de tudo. Pode até ir só pela capa, eu comprava muito capa bonita.
E você? Se tivesse que montar uma curadoria sua, de uma época específica, qual seria?
Eu pegaria algo ali do início dos anos 2000 até quase 2010. Foi quando o vinil caiu, por causa da pirataria e depois do streaming. Então quem lançou vinil nessa época arriscou. Eu pegaria discos desse período. O Criolo, por exemplo, Ainda há tempo, Espiral de ilusão, que tem capa do Elifas Andreato, que é um ídolo meu. Daria uma moral pra galera que ainda está no corre.
O que você mais tem ouvido agora?
Eu escuto muita coisa, então é difícil uma só ficar rodando. Mas vou dar três:
– Priscila Senna – 15 anos ao vivo em Recife: gostei muito, saiu semana passada.
– Sambista Perfeito, do Arlindo Cruz: fui esquentando pro Trem do Samba ouvindo.
– Melodia e Barulho, do Maui: ele foi no meu podcast e virou um dos meus mais ouvidos do ano.
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