CASO DANIEL

Morte brutal do jogador Daniel completa dois anos; o que aconteceu com os réus?

Apenas um dos sete acusados de envolvimento no caso Daniel está preso. Caso vai a júri popular, mas julgamento ainda não foi marcado

Philipe Santos
postado em 27/10/2020 06:00
Réus do caso Daniel -  (crédito: Reprodução)
Réus do caso Daniel - (crédito: Reprodução)

Há dois anos, a morte de um jogador de futebol, em São José dos Pinhais (PR), chocou o país e chamou a atenção pela brutalidade do assassinato. Daniel Correa Freitas, aos 24 anos, foi encontrado parcialmente decapitado e com o pênis decepado, em 27 de outubro de 2018, em uma plantação de pinos.

Quem matou o Daniel? O que teria motivado um crime tão brutal? Por que o jogador foi encontrado morto no Paraná, já que atuava por um time de São Paulo? Essas foram as primeiras perguntas que surgiram no início da investigação, que logo ficou conhecida como o Caso Daniel.

Dias depois, as respostas começaram a surgir. Na noite de 31 de outubro, Cristiana Brittes foi presa, suspeita de participar do assassinato. No dia seguinte, o marido dela, o empresário Edison Brittes, e a filha Allana Brittes também foram presos. À época, o advogado da família, Cláudio Dalledone Júnior, contou ao Correio a versão apresentada pelos acusados: Daniel teria sido morto após tentar estuprar Cristiana.

O crime de estupro por parte de Daniel foi descartado nas investigações da Polícia Civil e do Ministério Público do Paraná. Mas logo vieram a público fotos e áudios que Daniel mandou pelo WhatsApp no dia em que acabaria morto. Nas imagens, ele aparece deitado na cama de Cristiana, ao lado dela, que parece estar dormindo. É é possível ver que ambos estão, pelo menos, parcialmente vestidos, com a parte de cima das roupas.

Em áudio enviado a um amigo (ouça abaixo), Daniel conta que está na casa da família (para onde foram depois da festa de 18 anos de Allana, em uma boate de Curitiba) e ri, mas se diz preocupado com a situação, por não saber onde está "o marido da coroa", como se refere a Edison e Cristiana. Ao longo do processo, a defesa dos Brittes trocou a acusação contra o atleta para importunação sexual.

Mais três pessoas que teriam participado do assassinato (convidados da desta de aniversário de Allana) foram presos nos dias seguintes. Além deles e do três membros da família, uma jovem que trocou beijos com Daniel e que estava na casa onde começou o crime brutal também virou ré no crime. O caso vai a júri popular, que ainda não tem data marcada para ocorrer.

Veja o que de principal aconteceu com os réus do Caso Daniel nos últimos dois anos:

Edison Brittes

Único que permanece preso, Edison, que também é conhecido como Juninho Riqueza, confessou o crime e tentou inocentar os demais. Ele tinha relações pessoais com pessoas envolvidas em crimes que chamaram a atenção dos investigadores. Por exemplo, a moto usada pelo acusado, no valor de R$ 50 mil, estava em nome de um traficante preso e condenado. Além disso, o número de celular utilizado para dar os pêsames à família do jogador — antes de ele confessar o crime — era de um homem que havia sido assassinado em 2016. Em outro caso, ele já tinha sido condenado por receptação de carro roubado.

A defesa tentou soltar Juninho ou colocá-lo em prisão domiciliar por diversas vezes, mas a juíza do caso, Luciani Regina Martins de Paula, negou o pedido em todas as ocasiões, alegando que o assassino confesso possui, "ao menos em tese, periculosidade acentuada" e que testemunhas do caso demonstrarem medo do acusado.

Em março do ano passado, ele foi transferido de prisão, após uma suposta ameaça de fuga. A defesa, no entanto, nega e chamou de fake news essa versão. A mudança, segundo Dalledone, foi por questões administrativas. Também no ano passado, Juninho foi condenado a pagar pensão alimentícia de R$ 5 mil por mês à filha, de 2 anos, do jogador Daniel. Para garantir o pagamento, a Justiça bloqueou a casa e o carro dele.

Em fevereiro deste ano, Edison virou réu por homicídio triplamente qualificado, ocultação de cadáver, fraude processual, corrupção de menor e coação no curso do processo. A defesa recorre da pronúncia desses crimes.

Cristiana Brittes

Primeira a ser presa, Cristiana foi solta em troca de medidas cautelares e uso de tornozeleira eletrônica, em setembro do ano passado. Desde então, as aparições públicas foram poucas. Ela concedeu uma entrevista ao SBT e disse que Daniel causou a própria morte ao não respeitá-la. A empresária também registrou boletim de ocorrência de crimes contra a honra, dignidade humana e condição de mulher que teria sofrido durante o inquérito.

  • Decisão judicial detalha uso de tornozeleira eletrônica por Evellyn Brisola Perusso
    Decisão judicial detalha uso de tornozeleira eletrônica por Evellyn Brisola Perusso Reprodução
  • Eduardo réu do Caso Daniel
    Eduardo réu do Caso Daniel Reprodução
  • Réus do caso Daniel
    Réus do caso Daniel Reprodução
  • Réus do caso Daniel
    Réus do caso Daniel Reprodução
  • Réus do caso Daniel
    Réus do caso Daniel Reprodução
  • Réus do caso Daniel
    Réus do caso Daniel Reprodução
  • Réus do caso Daniel
    Réus do caso Daniel Reprodução

Cristiana não foi indiciada por homicídio pela Polícia Civil, mas o promotor do Ministério Público do Paraná João Milton Salles a denunciou pelo crime. Um dos motivos principais para isso foi o fato de duas testemunhas terem dito que ela pediu para que Daniel não fosse morto na casa dela. A juíza, no entanto, não acolheu. O MP recorreu.

Ela responderá por coação do curso de processo, fraude processual e corrupção de menor. A defesa trabalha agora para mostrar que Cristiana foi a primeira vítima na história. A defesa prepara uma ação para pedir uma indenização contra o espólio (patrimônio) do jogador.

Ao longo do último ano, as medidas restritivas contra ela foram flexibilizadas e ela deixou de usar tornozeleira eletrônica. Recentemente, a juíza do caso também autorizou uma viagem a Brasília para que ela passe o Natal com a família.

Allana Brittes

A filha de Edison e Cristiana foi a primeira a ser solta por decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ), em agosto do ano passado. Desde então, ela parece seguir uma vida normal. Muito ativa nas redes sociais, coleciona fãs, é influenciadora e recebe mimos de empresa em troca da propaganda, além de ter uma loja de acessórios femininos virtual. A jovem também estuda direito com a tutela do advogado da família.

No processo, assim como a mãe, ela vai a júri por coação no curso do processo, fraude processual e corrupção de adolescente. Com Edison, elas são acusadas de alterar a cena do crime e de intimidar testemunhas a contar uma versão que não envolvesse a família na morte do Daniel: a de que o jogador saiu da casa com rumo desconhecido.

Daniel e Allana se conheciam da época em que o jogador atuou no estado. A festa de 18 anos dela — que continuou na casa da família —, na noite anterior ao crime, foi o motivo que levou o atleta até São José dos Pinhais. Antes de o corpo ser encontrado, a jovem chegou a trocar mensagens com mãe da vítima, mostrou preocupação com ele e ofereceu ajuda da família para o encontrá-lo, mesmo já sabendo que ele estava morto.

David, Eduardo e Ygor

O trio Eduardo Henrique da Silva, David Willian da Silva e Ygor King também estava na festa e, posteriormente, seguiu para a casa do Brittes. De acordo com as acusações, eles participaram da agressão contra Daniel após Edison flagrá-lo na cama com Cristiana. Os jovens também teriam participado da decapitação, morte e ocultação do corpo do jogador, conforme os autos. 

Há pouco mais de um ano, a juíza Luciani Regina Martins de Paula revogou a prisão deles com base na Lei de Abuso de Autoridade. O advogado de Eduardo informou que, desde então, o jovem tem trabalhado com compra e venda de carros e aguarda o desfecho do processo. Procurada, a defesa de Ygor e David não pronunciou.

Evellyn Brisola

A situação da jovem que beijou Daniel na boate em Curitiba foi a que mais teve reviravoltas no processo nos últimos dois anos. Evellyn Brisola não foi indiciada pela polícia, mas o MP resolveu denunciá-la por falso testemunho, fraude processual, denunciação caluniosa e corrupção de menor. A Justiça, no entanto, só a tornou réu por fraude processual, já que ela teria ajudado a limpar as marcas de sangue que ficaram na casa dos Brittes.

Como a pena para esse crime é pequena, a juíza aceitou uma proposta do MP e suspendeu, em julho, o processo contra ela em troca de serviço social por dois anos. Mas a decisão foi revogada um mês depois, após ela descumprir um dos termos ao ser presa e tornar-se ré por tráfico de drogas. Ela foi flagrada com mais de 3kg de maconha dentro de uma bolsa.

Ela foi solta em 8 de agosto após a defesa alegar que era a única responsável pelo filho de 5 anos. Mas passou a usar tornozeleira eletrônica. Procurada pela reportagem, a defesa da jovem não se manifestou.

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