ANIVERSÁRIO DE BRASÍLIA

A música no coração do país: artistas contam histórias com Brasília

O instrumentista Hamilton de Holanda guarda memórias de uma infância feliz na capital e revenrencia as instituições que contribuíram para o sucesso alcançado na carreira

 2024. Divirta se Mais. Cantor Hamilton de Holanda. -  (crédito: Nando Chagas/Divulgação)
2024. Divirta se Mais. Cantor Hamilton de Holanda. - (crédito: Nando Chagas/Divulgação)

Instrumentista reverenciado nacional e internacionalmente, Hamilton de Holanda vem obtendo destaque também como autor de composições, atividade à qual passou a se dedicar com afinco há algum tempo. No período da pandemia, por exemplo, se impôs hercúlea tarefa: criar uma música diariamente.

O bandolinista acaba de lançar nas plataformas digitais um single duplo com canções inéditas em homenagem aos pais, intituladas Mestre Américo (falecido em 2022) e Bolero de mãe, que trazem referências íntimas e pessoais. Na gravação, teve ao seu lado o tecladista Salomão Soares e o baterista Big Rabello. Ele se desdobrou na produção, acompanhado por Marcos Portinari, parceiro de longa data.

Para Hamilton, a música é o meio pelo qual consegue dizer coisas além do que é perceptível pelas palavras. Ele vê a música como um sentimento de gratidão, admiração, carinho e respeito, aflorado no seu esplendor sonoro-espiritual; e afirma que, com os dois singles, busca trazer essa ideia.

Artista filho de pernambucanos, nascido no Rio de Janeiro foi criado em Brasília e iniciou a trajetória artística, ainda na infância, ao lado do irmão e violonista Fernando César, com que formou o grupo Dois de Ouro, no âmbito do Clube do Choro, incentivado pelo pai, o violonista José Américo de Oliveira Mendes.

Hamilton, hoje um cidadão do mundo, guarda na memória a lembrança da infância feliz, livre e com muita música em Brasilia. "Eu me lembro da secura de Brasília, como me impressionava com o céu da capital. Uma outra coisa que me marcou foi conviver com pessoas de vários lugares do Brasil e até de fora, tanto na minha quadra, quanto no colégio e na Escola de Música, na L2 Sul."

"Recordo-me também do Parque da Cidade, do Teatro Nacional, onde assisti a concertos, shows e espetáculos com frequência. Só me vêm boas lembranças da infância na Capital da Esperança. Morei com minha família na 202 Sul, 206 Sul e na 103 Sul. Das quadras 202 e 206, tenho poucas lembranças, pois era muito pequenino. Minha memória afetiva está completamente ligada à 103 Sul, onde passei a maior parte da minha vida em Brasília."

Sons na infância

Nascido numa família de músicos, Hamilton conta que o avô paterno tocava trompete, um tio era saxofonista e o pai violonista. "Assim que chegamos a Brasília, em 1977, meu pai logo se enturmou com o pessoal do Clube do Choro. Lá tivemos as portas abertas desde a primeira infância", recorda-se. "À época do Dois de Ouro, tinha como referência Jacob do Bandolim, Luperce Miranda, Joel Nascimento e Armandinho Macedo. Via com admiração Heitor Villa-Lobos, Tom Jobim, João Gilberto, Baden Powell, Raphael Rabello e Chico Buarque; e músicos internacionais como Chick Corea, Keith Richards, Pat Metheny e Paco de Lucia", acrescenta.

Ele conta que a primeira apresentação do Dois de Ouro no Clube do Choro foi em 5 de setembro de 1981. "Foi o começo de tudo e, por isso, tenho uma imensa gratidão por essa instituição brasiliense", declara. Na cidade, por meio do amigo Beto do Pandeiro, conheceu Cinara, com que se casou. Já os filhos deles, Gabriel e Rafaela, nasceram no Rio de Janeiro, para onde migrou no começo década passada. "Eles amam Brasília e a avó, que os paparica bastante. O Gabriel participou neste ano, pela primeira vez, do Curso de Verão da Escola de Música."

Um outro elo na capital é o irmão, violonista e professor do instrumento Fernando César. "Estou sempre em contato com o César. Falamos, por telefone, pelo menos três vezes por semana, compartilhando questões e assuntos diversos. Ele preferiu se manter em Brasília, embora pudesse estar brilhando aqui no Rio e Janeiro e em turnês por outros países", relata Hamilton.

Joia da MPB

Em 8 de fevereiro de 2006, por volta das 22h, Rosa Passos recebeu uma ligação telefônica do Rio de Janeiro. Ao atender, entre surpresa e emocionada, percebeu que quem estava do outro lado da linha era ninguém menos que seu ídolo maior, João Gilberto, o inventor da Bossa Nova. Ele queria desejar boa sorte e sucesso no show que ela faria em Nova York, na mítica casa de espetáculo Carnegie Hall.

Anos antes, intermediada por uma amiga em comum, Rosa havia feito uma visita a João no exclusivo flat no Leblon, bairro da Zona Sul do Rio de Janeiro, onde, juntos, interpretaram o samba clássico Aurora, de Mário Lago. Aquele encontro daria início a uma fraterna amizade, que a cantora, compositora e violonista soteropolitana guarda em sua memória afetiva.

Para acompanhar o marido Paulo Sérgio Oliveira Passos, servidor do Ministério dos Transportes, Rosa deixou Salvador, onde nasceu, em 1976, e veio morar na capital do país, inicialmente na Asa Sul e depois na Asa Norte. "À época, como não conhecia ninguém, achei uma cidade fria", lembra. "Hoje, não troco Brasília por lugar nenhum", afirma, convicta. Residindo no Lago Sul, próximo ao Jardim Botânico, ela destaca a tranquilidade e a praticidade daquele bairro.

E o que não faltam são motivos para Rosa ter afinidade com Brasília. "Aqui nasceram meus filhos, Alexandre e Leonardo, e minha filha, Juliana; e, efetivamente, dei início à minha carreira de cantora, cantando em casas noturnas, como Degraus (302 Norte) e Amigos (105 Norte). O barzinho foi uma grande escola para mim", afirma. "Cantei pela primeiro num teatro, na antiga Sala Funarte, que era um palco muito importante e concorrido na década de 1980", recorda-se. "À época, conheci e fui acompanhada por grandes músicos, entre os quais Jorge Helder e Lula Galvão, Erivelto Silva e Zé Antônio."

 

 

Relevância internacional

"Mesmo longe do eixo Rio-São Paulo, gravei 21 discos, considerados relevantes, nos quais interpreto grandes nomes da MPB e composições de minha autoria, entre os quais o Curare, tido como o que marcou o início da era do CD. Gosto muito dos que presto tributo a Ary Barroso, Dorival Caymmi, Tom Jobim e Djavan. O mais recente, com Lula Galvão, chegou às plataformas digitais em junho de 2023, via Biscoito Fino", destaca a cantora.

"Daqui saí para lançar os discos em outras cidades brasileiras e de vários países. A minha carreira internacional é inesquecível e maravilhosa! Meu trabalho lá fora é super reconhecido desde sempre! Todos os anos recebo convites para voltar a fazer apresentações em países da América Latina, Estados Unidos, Europa e Ásia. Minha carreira internacional é super sólida. Sou muito feliz e realizada profissionalmente! Tudo isso tendo Brasília como base", reforça.

Rosa não esconde o orgulho ao falar sobre os netos, que têm envolvimento com a música. Guilherme Passos toca piano muito bem. "Minha neta Alice também toca piano, enquanto Théo Passos, que já fez vários vídeos comigo, cantando, estuda violão na Escola Brasileira de Choro, onde tem muitos fãs", conta a avó coruja.


Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:
Ícone do whatsapp
Ícone do telegram

Dê a sua opinião! O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores pelo e-mail sredat.df@dabr.com.br

postado em 21/04/2024 06:00
Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação