ANIVERSÁRIO DE BRASÍLIA

Poeta detalha o surgimento do movimento literário brasiliense

O poeta Sóter testemunhou o surgimento do movimento literário brasiliense. Noélia Ribeiro também faz parte da geração de escritores que celebra a capital

O poeta Sóter testemunhou o surgimento do movimento literário brasiliense -  (crédito:  Ed Alves/CB/DA.Press)
O poeta Sóter testemunhou o surgimento do movimento literário brasiliense - (crédito: Ed Alves/CB/DA.Press)

Apesar das origens goianas, José Luiz do Nascimento Sóter, natural de Catalão, respira arte candanga desde a década de 1970. Nascido em 1953, o poeta Sóter, como é conhecido, desembarcou em Brasília em 1977, e de cara foi capturado pela cena literária brasiliense. Desde então, o artista, que faz parte da geração mimeógrafo de Brasília e foi responsável pela criação do selo Semim Sóter Edições Mimeográficas, participa ativamente do movimento cultural da cidade.

Sóter lembra que foi com a mudança para a capital federal, há quase 50 anos, que aceitou o destino literário. "Eu me assumi poeta aqui em Brasília, em 1977. E tudo foi graças à estupefação que tive ao ver Brasília com ares futuristas de ficção científica. Fiquei tão deslumbrado que pensei logo: 'É aqui que quero viver'. Assim nasceu o meu amor pela cidade e suas gentes, e me senti livre para ousar, mostrar os meus poemas e a minha poesia", conta.

Segundo o artista, naquela época, ainda não havia movimento literário na cidade. Diante da falta de uma identidade própria da capital, uma mobilização artística surgiu, liderada pela então nova geração de moradores da cidade. Foi assim que criou-se "não um movimento", segundo Sóter, mas "uma relação de cumplicidade entre todos e todas as que se dispuseram a produzir artes". "Ninguém cobrava currículo de ninguém e ninguém inibia ninguém. Havia, sim, um companheirismo e uma admiração mútua por todos e todas", descreve o artista.

Resultado da revolução artística brasiliense, a geração mimeógrafon teve Sóter como peça importante. Ele  adquiriu um mimeógrafo a tinta usado e criou o selo Semim Sóter Edições Mimeográficas, dando oportunidade aos artistas de se expressarem em meio ao momento conturbado. "A geração mimeógrafo não foi um movimento, pois foi uma construção espontânea, como uma chama na vereda", declara o artista.

Hoje, Sóter faz um paralelo entre os primeiros passos do movimento literário e os dias atuais. "A literatura brasiliense ainda tem muito do DNA libertário e contestatório da sua origem ainda no início de sua história, quando ela e seus artistas tinham quase a mesma idade de 16 anos. Basta você pegar os textos produzidos por toda a comunidade de brasilienses nativos, brasilienses adotivos e brasilienses do Entorno. Há uma linha ideológica em sua construção montada no humor, no escracho, na descontração da visão do contexto e da alegria de quem vive com o mar sobre a cabeça e o horizonte na linha do olhar", afirma.

"A cidade era nossa"

Não foram as avenidas e ruas de Pernambuco, onde nasceu, ou do Rio de Janeiro, estado que a acolheu, e no qual impulsionou os primeiros textos, que tornaram célebre a trajetória da poeta Noélia Ribeiro. Com a idade de Brasília, a atual moradora da Asa Norte era uma anônima pedestre, mas festejada anfitriã para parte da fina nata da cultura da capital, quando virou tema de poema assinado por Nicolas Behr, em 1979.

Um ano mais tarde, Nonato Veras, integrante do Liga Tripa, transformou o poema em música. Travessia do Eixão acompanhou as faixas do derradeiro álbum de estúdio da Legião Urbana em 1997 — Renato Russo tinha morrido no ano anterior. "Renato era fã do Liga Tripa e do poeta Nicolas Behr. Acredito que por isso a tenha deixado gravada", pontua a autora de seis livros, entre os quais Espevitada e Escalafobética.

"Sinto-me completamente brasiliense", pontua a poeta, que lembra, saudosa, da época maravilhosa que vivenciou, na qual não havia ninguém produzindo cultura, exceto a turma dos "jovens artistas". "A cidade era nossa", simplifica ela.

Com a expressão de erotismo e paixões, ao longo da carreira, Noélia propaga a gratidão pela capital diferenciada que a inspira. "O verde e o concreto dialogam sem grandes problemas, assim como pistas retas e as curvas dos monumentos. Esses contrastes da cidade influenciam seus artistas e impactam sua criação. Tudo aqui é muito novo: Brasília tem uma história de apenas 64 anos", sublinha.

Confira o especial sobre o aniversário de Brasília


  • Daniela Firme lidera a banda brasiliense Rock Beats
    Daniela Firme lidera a banda brasiliense Rock Beats Foto: Henrique François
  • Daniela Firme lidera a banda brasiliense Rock Beats
    Daniela Firme lidera a banda brasiliense Rock Beats Foto: Henrique François
  • Daniela Firme lidera a banda brasiliense Rock Beats
    Daniela Firme lidera a banda brasiliense Rock Beats Foto: Henrique François
Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:
Ícone do whatsapp
Ícone do telegram

Dê a sua opinião! O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores pelo e-mail sredat.df@dabr.com.br

postado em 21/04/2024 06:00
Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação