
Um domingo de celebração, bênçãos, pedidos de cura e agradecimentos na Praça dos Orixás, na orla do Lago Paranoá. Assim foi, ontem, a celebração de Iemanjá para as pessoas que foram ao local participar da Festa das Águas, em sua sexta edição. Muitas delas levaram oferendas em homenagem à orixá — espelhos, perfumes, flores, pentes etc —, costume que se repete em todo o país. O evento reuniu cerca de 3 mil pessoas, segundo os organizadores.
Reconhecidos, respectivamente, como patrimônios material e imaterial do Distrito Federal, a Praça dos Orixás e a festa são símbolos de memória histórica, luta contra o preconceito e preservação de tradições, como ressaltam lideranças religiosas. Uma delas, Mãe Vilcilene Ty Jagun — integrante da Rede Nacional de Religiões de Matriz Africana para a Saúde (Renafro) — destaca que, todos os anos, fiéis e apoiadores se somam à festividade para reafirmar importância da água na vida e na espiritualidade do ser humano.
"A água nos traz vida, e precisamos dizer para as pessoas que ela importa. Nós estamos preocupados com as águas e queremos que essa preocupação chegue a todos. A água é um bem essencial e a sua preservação é, também, uma questão espiritual para nós", ressaltou Mãe Vilcilene.
Além do culto ao sagrado e à fé, ela disse que ocupar a praça é um ato político que reforça a necessidade de reconhecimento e valorização dos povos de terreiro. "Essa praça tem um grande significado para nós. Ela é um espaço de afirmação, onde dizemos quem somos, onde estamos e o que precisamos", afirmou.
A Festa das Águas celebra a devoção a Iemanjá, orixá associada às águas salgadas e considerada a dona do orí — a cabeça —, simbolizando a conexão espiritual e o respeito dos pessoas que professam crenças de matriz africana. "Hoje (ontem), em todo o território nacional, estamos comemorando o Dia de Iemanjá. Para nós, ela é a dona de todas as cabeças", reforçou Mãe Vilcilene.
O evento — que teve apoio do Governo do Distrito Federal, pela Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Secec-DF) — também ofereceu atendimento a mulheres vítimas de violência, com encaminhamento de denúncias à Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF).
Siga o canal do Correio no WhatsApp e receba as principais notícias do dia no seu celular
Devoção e tradição
Na celebração, que reuniu seguidores de Iemanjá, estava Natália Oliveira, 28 anos, estudante de enfermagem, que participa da festa anualmente e ressaltou a importância do evento em sua vida. "Eu comemoro sempre o 2 de fevereiro. Sou devota de Iemanjá, sou filha dela. Desde pequena, eu convivo com esse sincretismo", contou.
Neste ano, Natália decidiu compartilhar a experiência com o namorado, Sidartha Souza, 40, que participou da celebração pela primeira vez. "Para mim, é uma felicidade. Este ano, quis trazer meu namorado. É muito especial estar aqui com ele porque viemos pedir felicidade e leveza para nosso relacionamento", afirmou.
Embora criado na Igreja Católica, Souza conhecia a tradição. "Nunca tinha vindo, foi uma oportunidade para ampliar minha compreensão", explicou. Além da experiência religiosa, ele também destacou a beleza do local. "A vista do Lago Paranoá, daqui, é maravilhosa, uma das mais bonitas de Brasília, que conquista todo mundo que passa", completou.
Saiba Mais
Para saber mais
A Festa de Iemanjá é celebrada no dia 2 de fevereiro e é considerada a maior manifestação religiosa pública do candomblé na Bahia, sendo uma das festas populares mais intensas e tradicionais do estado. Assim como em Salvador, a festa popular é tombada como Patrimônio Imaterial do Distrito Federal desde 2017, após homologação do Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural (Condepac).