
O Distrito Federal tem mais de 87 mil pessoas acima de 18 anos que se autodeclaram LGBT. O número, objeto da Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios (PDAD) do Instituto de Pesquisa e Estatística do Distrito Federal (IPEDF), corresponde a quase 4% do total de moradores da região e representa uma parcela de pessoas que luta por direitos diariamente. Mesmo com as legislações destinadas à comunidade, tanto distritais quanto nacionais, a população LGBT não está totalmente protegida contra o preconceito e a vulnerabilidade social, contando com o apoio de iniciativas feitas por voluntários, que buscam garantir que o DF possa se tornar, cada vez mais, um lugar seguro e justo.
"Vamos do início ao fim em cada situação. Para nós, um caso é tão importante quanto 10 ou 100", conta Michel Platíni, diretor do grupo LGBT Estruturação. Desde 1994, a organização conquista e protege direitos da comunidade no Distrito Federal. Com campanhas de saúde sexual, acolhimento, saúde mental e oficinas junto a profissionais de diversas áreas, a equipe também atua junto ao governo nacional e local para aprovar leis e se posicionar como resistência a possíveis retrocessos.
- Metrô terá horário ampliado no domingo devido à Parada LGBTQIA+
- Com bandeiras, Esplanada dos Ministérios ganha cores do orgulho LGBTQIA+
- MC Carol e Grag Queen são atrações da Parada do Orgulho LGBTQIA+ de Brasília
"Estamos do lado do poder, local, nacional e internacional. Nosso papel é diferente de outros grupos do país inteiro. Apesar de nos dedicarmos tanto ao nosso território, temos compreensão de que o nosso papel de protagonizar essas lutas aqui tem um reflexo lá fora", afirmou Michel. "Recebemos muitas demandas individuais também, como o caso de uma pessoa trans que sofreu um estupro coletivo no ambiente de trabalho. Acompanhamos desde a ida ao SUS até o aborto legal, e à delegacia. Também garantimos que as pessoas responsáveis pelo crime fossem responsabilizadas", completa.
Acolhimento
Oferecendo cursos de capacitação, encontros, feiras, atividades de conscientização e campanhas de doação de cestas de alimento, a Casa Rosa, em Sobradinho, apoia pessoas LGBT em situação de vulnerabilidade. Fundador do espaço, Marcos Vennison, de 59 anos, conta que sua experiência de vida o levou a querer ajudar outras pessoas. "Desde minha adolescência, já assumido homossexual, meus amigos pediam para ficar em minha casa, muitas vezes por não ter apoio da família ou por estarem em situações difíceis", contou o aposentado. "A gente não consegue transformar o mundo todo, mas consegue melhorar o mundo à nossa volta se conseguirmos mudar a vida de duas ou três pessoas", completou.
Siga o canal do Correio no WhatsApp e receba as principais notícias do dia no seu celular
Atualmente, há 124 pessoas assistidas por meio de alimentação, com cestas básicas, ou de apoio psicológico oferecido pelo projeto, que começou como uma casa de acolhimento. "Quando a Casa Rosa Nasceu, em 2016, acolhíamos as pessoas que não tinham para onde ir ou onde ficar. Por anos atuamos assim, mas pela falta de recursos não tivemos como continuar", explicou.
Marcos disse que muitos dos acolhidos precisavam de atendimento psiquiátrico específico e, sem recursos do governo, a Casa Rosa não podia oferecer a estrutura física e profissional que a demanda exigia. "Durante a pandemia, chegamos a ter 22 pessoas em uma casa de três quartos. Foi difícil, mas era o necessário para ajudar", contou. O fundador da Casa Rosa ressaltou a necessidade do apoio do estado para iniciativas assim. "Nossa equipe é toda de voluntários e vivemos de doações e, muitas vezes, de dinheiro que invisto sozinho. São necessárias políticas públicas para projetos que são importantes não só para essa parcela de pessoas, mas para toda a sociedade", defendeu.
Representatividade
Embora a comunidade LGBT seja extensa e composta por diversos perfis que encontram, em seu dia a dia, dificuldades em comum, a representatividade de cada grupo também é essencial. A Coturno de Vênus é a primeira associação lésbica feminista aqui do DF e completa, este ano, 20 anos de existência.
Desenvolvendo várias atividades, principalmente de mobilização e visibilização da causa lésbica, as mulheres já conseguiram organizar um livro com compilados de legislação e jurisprudência LGBT do Brasil, em parceria com o Ministério da Justiça, a Anís e o Lesbocenso Distrital, aqui do DF, feito junto a Liga Brasileira de Lésbicas (LBL). "A importância de se ter um coletivo de lésbicas é a questão de mobilizar e dar visibilidade às nossas causas. Óbvio que tem uma causa em comum, que é do movimento da população LGBT , mas tem causas específicas que a gente faz a militância, principalmente na questão de saúde, direitos humanos", explica a cofundadora do projeto, Melissa Navarro.
De acordo com Tony Bezerra, que tem doutorado em Sociologia e leciona na Universidade de Brasília (UnB), o DF ainda é muito deficitário em termos de politicas para a população LGBT . "Precisamos, por exemplo, que haja mais delegacias como essa nas cidades satélites e no Entorno, que é onde mais ocorrem casos de LGBTfobia. Na área de assistência social, há apenas um Creas especializado em LGBT", afirmou.
Segundo Tony, as iniciativas de acolhimento são fundamentais, principalmente para pessoas LGBT em situação de rua, assim como movimentos de visibilização para a causa. Ainda de acordo com Bezerra, a Parada do Orgulho deste ano é mais significativa ainda. "Estamos muito felizes porque temos o apoio do Governo Federal e do Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania que estão marcando presença. Então, a parada LGBT é um momento de falar de política e, ao mesmo tempo, é uma festa e uma celebração", ressaltou. "Hoje nós saímos do gueto e estamos em todos os lugares. Lugar de LGBT não é no armário, lugar de LGBT é onde ela quer estar. Isso é liberdade, isso é diversidade, isso é direitos humanos", completou.
Parada LGBT
Este ano a Parada do Orgulho LGBT será realizada amanhã, 6 de julho, com concentração prevista para as 14h, no Congresso Nacional, na Esplanada dos Ministérios. A iniciativa é promovida pelo coletivo Brasília Orgulho, que atua na inclusão, visibilidade e mobilização da comunidade LGBT na capital.
Para Igor Albuquerque, cocoordenador do Brasília Orgulho, é essencial visibilizar as causas LGBTQIAP em Brasília, que é lar da política nacional. "Estamos no coração do Brasil, em frente ao Congresso Nacional e subindo a Esplanada dos Ministérios, demandando mais direitos à comunidade diretamente ao Legislativo e Executivo Federais", ressalta. Segundo Igor, a manifestação deste ano deve ser ainda maior e mais significativa. "Nossa expectativa é que seja a maior parada da história da cidade, pois temos cinco atrações nacionais se apresentando e também será a primeira vez que teremos o transporte público gratuito", prevê.
Saiba Mais
Parada LGBT
Este ano a Parada do Orgulho LGBT será realizada amanhã, 6 de julho, com concentração prevista para as 14h, no Congresso Nacional, na Esplanada dos Ministérios. A iniciativa é promovida pelo coletivo Brasília Orgulho, que atua na inclusão, visibilidade e mobilização da comunidade LGBT na capital. Para Igor Albuquerque, cocoordenador do Brasília Orgulho, é essencial visibilizar as causas LGBTQIAP em Brasília, que é lar da política nacional. "Estamos no coração do Brasil, em frente ao Congresso Nacional e subindo a Esplanada dos Ministérios, demandando mais direitos à comunidade diretamente ao Legislativo e Executivo Federais", ressalta. Segundo Igor, a manifestação deste ano deve ser ainda maior e mais significativa. "Nossa expectativa é que seja a maior parada da história da cidade, pois temos cinco atrações nacionais se apresentando e também será a primeira vez que teremos o transporte público gratuito", prevê.