
Por Bruna Teixeira e Laíza Ribeiro*
O Distrito Federal atravessa o auge do período seco, com índices de umidade do ar em níveis críticos. Ontem, o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) emitiu alerta vermelho para baixa umidade no Distrito Federal, o que indica a possibilidade de índices abaixo de 12%. Hoje, a partir do meio-dia, entra em vigor o alerta laranja, que vai até as 17h. A previsão é de temperatura entre 17°C e 29°C, com umidade variando de 20% a 70%.
Segundo o meteorologista do Inmet Olívio Bahia, a situação é considerada típica da época, mas preocupa pelos riscos à saúde e ao meio ambiente. “Estamos dentro da normalidade climática, mas isso não significa conforto para a população. O ar seco exige atenção redobrada”, alertou.
Nos últimos dias, estações registraram valores de umidade abaixo de 12%. “Chegamos a 9%, o que é extremamente baixo. Mesmo quando fica em 15% ou 20%, o corpo já sente de forma semelhante. O organismo se desidrata, assim como a vegetação seca no solo”, explicou Bahia.
Siga o canal do Correio no WhatsApp e receba as principais notícias do dia no seu celular
O especialista reforça que, diferente de 2023 e 2024 — anos marcados por recordes históricos de calor —, 2025 apresenta condições climáticas mais equilibradas. “Este ano estamos em neutralidade. Não há El Niño nem La Niña atuando. Isso significa que não há fenômenos intensificando calor ou frio. Apesar disso, a seca no DF continua severa”, afirmou.
Os próximos dias devem manter o mesmo cenário, com pouca variação. “Podemos ter registros pontuais abaixo de 12%, mas a realidade é que está tudo seco. Entre 9% e 20%, a sensação é de extremo desconforto. A situação só deve mudar com a chegada das chuvas regulares, previstas para a segunda quinzena de outubro”, disse Bahia.
Até lá, a população do DF deve se preparar para mais semanas de tempo quente e seco. “Não podemos descuidar. O alerta continua extremo, tanto para o meio ambiente quanto para a saúde da população ”, concluiu o meteorologista.
Falta de ar
Severina Vitor, 56 anos, tem Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC), uma inflamação crônica das vias aéreas que dificulta a respiração. Ela relatou que, durante o período de seca, essa condição é agravada, principalmente, pela falta de ar. “Quando está seco eu passo mal, fico sem ar, isso me impossibilita de fazer muitas coisas, muitos movimentos”, contou.
Severina acrescentou que não tem cuidados específicos durante essa época, mas evita atividades que a façam sentir indisposição. “A única coisa que eu posso fazer é ficar com a bomba de oxigênio o dia inteiro e evitar fazer algumas coisas, não tem mais nada que me ajude”, relatou.
A médica infectologista Sylvia Freire explicou que as doenças respiratórias costumam se agravar durante a seca devido às condições ambientais que favorecem a piora da qualidade do ar. “A dinâmica das doenças respiratórias depende da interação de fatores ambientais, comportamentais e relacionados a aspectos imunes da população. É sabido que o ar seco propicia maior concentração de poluentes, o que pode funcionar como um estímulo inflamatório para as vias respiratórias”, instruiu.
A especialista chamou atenção para o papel das queimadas e incêndios florestais mais frequentes nesse período. “No contexto da poluição atmosférica, destaca-se a grande quantidade de incêndios. O ressecamento das mucosas, observado nessa época, facilita o acesso de agentes infecciosos à via respiratória”, complementou a médica.
Queimadas
Após 124 dias sem chuvas, os efeitos são visíveis no cotidiano. Folhas secas acumulam poeira nas ruas, parques e praças ficam amarelados e os incêndios florestais se multiplicam. “Cerca de 99% dos focos de fogo no Brasil têm origem humana. Basta uma bituca de cigarro jogada na estrada para o fogo se espalhar”, alertou o meteorologista Olívio Bahia.
Entre sexta-feira e domingo, um incêndio no Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros (GO) atingiu mais de 800 hectares de vegetação. Segundo o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), mais de 30 profissionais atuaram no combate e a equipe continua a monitorar a unidade e seu entorno a fim de evitar novos incêndios florestais. O ICMBio afirmou que o caso não interferiu na visitação do Parque, que permaneceu aberto durante o final de semana, já que não ameaçou os atrativos.
Ontem, moradores do Plano Piloto amanheceram com o céu coberto pela fumaça. Segundo o coordenador Florestal do Corpo de Bombeiros do DF, a fumaça foi causada pelos vários focos de incêndio na capital federal, além de queimadas em São Paulo, Amazônia e na região Pantaneira. A fumaça era tão intensa que dificultou a vista do Lago Paranoá nos andares mais altos de alguns prédios.
O aumento dos incêndios também tem afetado a vida animal. Durante o combate a um incêndio em Planaltina, na tarde de sábado, o Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal (CBMDF) localizou um mico com marcas de queimaduras. O animal foi resgatado e levado ao quartel e, em seguida, transportado para o Hospital da Fauna Silvestre (HFAUS), onde receberá tratamento e, assim que possível, será devolvido à vida silvestre.
Cidades DF
Cidades DF
Cidades DF