
Em meio à correria cotidiana nos corredores da Câmara dos Deputados, com votações, debates, visitas e tensões, uma exposição no Salão Verde chama atenção justamente para a história da casa do povo que, em 2026, celebra seu bicentenário. A mostra Sedes da Câmara convida o público a uma viagem no tempo pelos diferentes palácios que abrigaram a instituição e tornaram-se palco de importantes acontecimentos na política brasileira.
Entre as sedes representadas estão a Cadeia Velha (de 1826 a 1889 e de 1891 a 1914); o Palácio de São Cristóvão (de 1890 a 1891), onde foram realizados os trabalhos da primeira Constituinte da República; o Palácio Monroe (de 1914 a 1922); a Biblioteca Nacional (de 1922 a 1926); e o Palácio Tiradentes (de 1926 a 1960).
"Todos os edifícios revelam um pouco da arte, tecnologia e vivência daquelas épocas. Além das imagens e dos textos explicativos, trouxemos objetos que compuseram esses espaços e, hoje, fazem parte do acervo do Museu da Câmara, que possui mais de 200 itens das antigas sedes", explica Marcelo Sá, chefe do Museu e curador da exposição.
A exposição terá longa duração, até o final de 2026, e a previsão é de que, a cada dois meses, os objetos e documentos expostos sejam trocados. Todos são do acervo do Museu da Câmara, que possui itens de grande valor histórico, como urnas de votação, objetos decorativos, esculturas, mobiliário, máquinas e equipamentos. Neste primeiro momento, estão expostos um telefone castiçal, uma máquina de escrever e duas poltronas de plenário — todos da década de 1920 e do Palácio Tiradentes.
"As poltronas, que têm ao menos 100 anos, foram confeccionadas especialmente para o Palácio Tiradentes, que funcionou de 1926 a 1960, quando houve a transferência para Brasília. Comparando-as (poltronas) com as demais dependências da Câmara hoje, dá para perceber que houve uma mudança considerável na estética, tanto das formas quanto dos materiais, antes mais restritos a madeiras e ao uso da palhinha", pontua Marcelo. Um dos assentos, inclusive, possui o monograma da instituição no couro.
Arte e história
A arquiteta da Câmara Bruna Lima, 41 anos, caminhava apressada pelo Salão Verde quando parou em frente aos painéis da exposição para saber do que tratavam. "Gosto de história e, como é de praxe para a área em que trabalho, me chama atenção o contraste entre o Palácio Tiradentes, com elementos que valorizam ordem e soberania, e a sede atual, cuja proposta foi bastante inovadora, mais minimalista. É curioso, porque isso diz muito sobre cada período da nossa história", afirma a servidora.
A Câmara dos Deputados teve sua primeira sede no edifício da Cadeia Velha, que reunia a Câmara e a Cadeia do Rio de Janeiro. O edifício, construído no século 17, tinha formas simples, bem distantes das fachadas ricas em detalhes e interiores ornamentados — presentes nos palácios seguintes. Foi lá que Tiradentes e os inconfidentes foram mantidos presos até o julgamento, que resultou em sua execução, em 1792. O prédio foi demolido em 1923 e seu terreno deu lugar ao Palácio Tiradentes.
Apaixonado por história e política, o recepcionista Cláudio Vieira, 51, não perdeu a chance de visitar a exposição. Sempre atento às mostras da Casa, ele coleciona livros sobre a trajetória da Câmara, onde trabalha há 30 anos.
Ao passar por cada painel, adiantava-se a contar curiosidades acerca dos edifícios. "Foi aqui (Palácio de São Cristóvão) onde ocorreu aquele incêndio que destruiu vários objetos históricos, lembra?", referindo-se à destruição do Museu Nacional, ligado à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em 2018.
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Valorização
Para Cláudio, conhecer a história do Legislativo é essencial para entender o funcionamento do poder, as leis que regem a sociedade e a formação das instituições. "Mais ainda: é importante para aprendermos a valorizar nossa democracia", destaca.
Segundo Marcelo Sá, curador da exposição, a mostra também leva os visitantes a refletirem sobre o futuro da Câmara dos Deputados. "É importante que a população participe dessa comemoração, porque a Câmara é a casa do povo, não é? Temos uma história bonita em relação à consolidação da democracia do país, mas é preciso pensar no que se espera para os próximos 200 anos", ressalta.
Quem também parou ao frente aos painéis para apreciar as fotografias e os objetos da mostra foi o brigadista Vanderley Alves, 59. De olho nas imagens dos edifícios da Biblioteca Nacional e do Palácio Tiradentes, ele ficou curioso para conhecer, presencialmente, os espaços.
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"Sempre que posso, vou ao Rio de Janeiro, mas nunca conheci esses locais, porque o costume é ir à praia. Na próxima viagem, vou me programar para levar família a esses lugares", conta.
Ao longo do próximo ano, a Câmara dos Deputados promoverá vários eventos em comemoração ao seu bicentenário, como sessões solenes, exposições culturais, seminários, programações especiais de seus veículos de comunicação e espetáculos musicais. A programação será divulgada no portal e nas redes sociais da Casa.
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» Mais curiosidades
O Palácio Monroe, onde a Câmara funcionou de 1914 a 1922, recebeu esse nome em referência à doutrina de James Monroe, que estabeleceu que as Américas não deveriam mais ser colonizadas por potências europeias. O palácio, considerado um marco arquitetônico da Belle Époque, foi demolido em 1976. Hoje, encontra-se um estacionamento subterrâneo e uma praça no local.
Na década de 1920, os Estados da federação contribuíram financeiramente e com matérias-primas, móveis (confeccionados em madeiras nobres como jacarandá, imbul e pau-brasil) e objetos decorativos para o edifício do Palácio Tiradentes. Atualmente, a Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro ocupa o prédio, tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
O Congresso Nacional, em Brasília, é o primeiro palácio a abrigar Câmara e Senado juntos em uma única edificação.
Serviço
Exposição “Sedes da Câmara”
Visitação: até dezembro de 2026, diariamente, das 9h às 17h
Local: Salão Verde, Edifício Principal da Câmara dos Deputados, Brasília/DF
Entrada franca
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