
A Galeria de Arte do Templo da Boa Vontade é o cenário da exposição Cerâmica Tradicional do Japão, do artista Honjo Masayuki, aberta ao público até 27 de setembro. A mostra oferece uma oportunidade rara de apreciar peças únicas que unem as técnicas milenares japonesas com a riqueza da argila brasileira, criando uma fusão entre cultura e tecnologia nipônica em forma de arte.
O ceramista de 70 anos dedica-se há mais de uma década à produção de cerâmica de alta temperatura, utilizando a técnica tradicional japonesa yakishime. Todos os materiais utilizados — do barro à lenha — são de produção própria, tornando sua cerâmica quase 100% autossuficiente, algo raro.
As obras são moldadas manualmente, garantindo que cada peça tenha uma forma única e carregada de personalidade. Após a modelagem, as peças são secas naturalmente por cerca de um mês, permitindo a eliminação gradual da umidade interna e evitando rachaduras, antes de serem levadas ao forno.
Método
O método yakishime consiste na queima em alta temperatura feita em um único processo, diferentemente do método tradicional de duas etapas. A temperatura sobe a um ritmo de cerca de 25° C por hora até atingir 1.000° C em aproximadamente 40 horas. Depois, a elevação é mais lenta, aproximadamente 10° C por hora, até alcançar 1.250° C. É nesse intervalo que ocorre a vitrificação da superfície e a cristalização das cinzas, criando imagens naturais comparáveis a pinturas. Esse processo reduz o tamanho da peça para cerca de 80% do original, o que dá origem ao termo yakishime (alta queima).
As peças expostas carregam a estética japonesa do Wabi-sabi, que valoriza a beleza na imperfeição e na simplicidade. Elas revelam texturas únicas e efeitos oxidados que lembram o ferro, trazendo profundidade e variação de tons. Para Masayuki, a cerâmica vai além do aspecto visual. "É uma cerâmica extraordinária, que absorve energia de fora e deixa até o sabor das coisas mais rico. É diferente de tudo que existe no mercado", afirmou.
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O processo de produção é longo e minucioso. Atualmente, o ceramista concentra-se na criação de grandes peças, que podem chegar a 1,50 metro de altura. Essas obras são mais voltadas para exposição do que para venda, refletindo a inspiração de Masayuki em criar algo singular. "Minha inspiração é justamente isso: criar algo tão diferente de outro mundo, que possa servir tanto para utilidade doméstica quanto para decoração", destacou.
A exposição conta com mais de 200 peças, entre xícaras, bules, tigelas, vasos refinados e outras obras-primas. Todas as obras estão disponíveis para venda, o que permite ao público levar para casa um pouco dessa arte única. Os preços variam de R$ 50 a R$ 3 mil, dependendo do tamanho e da complexidade da peça.
"Diferente de tudo"
Entre os visitantes, o brasiliense Gabriel Nunes, de 28 anos, conheceu a exposição por acaso. "Eu estava passando por aqui perto, fazendo um exame, e me falaram da mostra. Resolvi conferir e achei bem interessante, muito bonito", contou. Ele admitiu que nunca tinha ouvido falar da técnica japonesa yakishime. "Não conhecia esse tipo de cerâmica, mas achei todas as peças lindas, muito diferente do que eu já tinha visto", disse, encantado com a diversidade e a beleza das obras.
Já Solange Mendes, 42, foi à exposição com a intenção de conhecer o trabalho do artista. Moradora do Guará, ela destacou a importância de eventos culturais gratuitos. "Eu tinha visto um pouco sobre a exposição, mas me impressionou mesmo assim. É tudo muito lindo e diferente do que eu já vi", afirmou. Para ela, iniciativas como essa são fundamentais para aproximar o público geral da arte. "Iniciativas assim são muito bacanas porque temos a oportunidade de conhecer artistas e obras muito diferentes do que estamos acostumados", completou.
O Templo da Boa Vontade, na 915 Sul, recebe visitantes todos os dias, incluindo feriados e fins de semana, das 8h às 20h. A entrada é franca e a classificação indicativa é livre, o que torna a exposição acessível para pessoas de todas as idades.
O designer gráfico Mateus Moreira, 26, também valorizou o acesso livre à cultura. Para ele, exposições como essa ampliam o olhar do público e despertam o interesse pela arte. "Ajuda a gente a entender mais, a sair daquela mentalidade de que é só um vaso ou um rabisco abstrato", comentou.
Honjo Masayuki expõe na galeria do Templo da Boa Vontade há oito anos e ressalta a importância de manter viva essa tradição. "No Brasil, a argila tem muito ferro, o que ajuda a tornar a cerâmica mais resistente para queimar a altas temperaturas", explicou. Ele acredita que sua obra une tradição japonesa e materiais brasileiros em criações únicas no mundo. "Essa cerâmica que faço é única, não existe outro lugar com esse tipo de peça", concluiu.
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