
Se você acha que vai passar um dia tranquilo na Água Mineral de Brasília, com sua toalha esticada na grama e um lanchinho estratégico guardado na mochila, pense de novo. Lá, quem dá as ordens não são os fiscais nem os visitantes. São os macacos. Cerca de 30 deles circulam com confiança, interagindo com os frequentadores todos os dias. Contudo, é importante estar atento para não atrapalhar o ecossistema e colocar os animais em risco.
"Tem dia que a gente escuta no rádio: 'A gangue tá chegando!'", conta, rindo, Rafael Ribeiro da Silva, o encarregado geral da Água Mineral, que conhece cada integrante do bando pelo nome. "O líder é o Rambo. Ele é o maior, mais peludo e tem a cara fechada. A Cotoca, por exemplo, perdeu o rabo numa disputa territorial.
O cuidado com os apelidos vai além da brincadeira, mas também é uma estratégia de monitoramento. "A gente consegue se comunicar rapidinho, só dizendo: 'Rambo tá chegando perto do cooler do fulano'. Todos eles têm nomes e conseguimos identificá-los. Sempre com uma característica física ou uma situação inusitada que usamos para criar os apelidos. Existe uma relação de respeito entre os animais e os funcionários, para que nenhum ultrapasse os limites do outro", conta.
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Os macacos-prego são os astros da vez. Extremamente inteligentes, eles são os que mais interagem com os humanos e mexem em bolsas, em mochilas e em coolers. "Eles sabem abrir o cooler, abrem o refrigerante, e tomam tudo. Já vi um tomar meia garrafa de Coca-Cola de uma vez só", relata Rafael.
"Uma vez, um macaco pegou uma bolsa com um celular e subiu numa árvore. Na hora que o celular vibrou, ele se assustou e derrubou o aparelho lá de cima. A dona até recuperou o telefone, mas todo o resto ele levou para a floresta. Outra vez, um cara amarrou uma rede entre duas árvores. De repente, os macacos estavam lá se balançando", completa.
Há também os momentos dramáticos em que, ao aprontarem, dependem da equipe de funcionários para o salvamento. "Tem vezes que um macaco entra na lixeira procurando comida e fica preso. Ele começa a gritar, os outros se desesperam. Eles são uma família e se preocupam uns com os outros. A gente vai lá e ajuda."
Essa convivência próxima leva muitos visitantes a terem histórias para contar. O militar Felipe Palma, 37 anos, do Jardim Botânico, frequentador assíduo do parque, estava curtindo um dia de Sol com a esposa e a mãe quando presenciou uma situação. "Em um dia cheio de crianças de uma escola, concentraram todas as mochilas em uma árvore e um macaco aproveitou para pegar um objeto de uma delas e ir embora. Sempre que vier é bom ficar atento. Quando menos esperavam, ele levou embora", contou. "Eles são abusados mesmo."
As trilhas do Parque Nacional de Brasília brilham aos olhos dos visitantes e são um ótimo local para se deparar com os macacos. A arquiteta Mariah Freire, 32, do Guará, ama essa interação que pode ter com os bichos.
"É uma das melhores partes ter esse contato com os animais. Ver os macaquinhos é sempre satisfatório. Quando não os vejo, é um dia quase perdido. Dependendo da trilha que você faz, eles sempre vão acompanhando. É só questão de cuidado. O ser humano estraga mais o convívio deles do que eles o nosso. Temos que nos adaptar a eles, e não ao contrário", sublinhou.
Responsabilidade
No parque, existem três espécies diferentes de primatas, cada uma com suas particularidades. São elas: bugio-oreto, mico-estrela e o mais visto pelos visitantes, o macaco-prego (veja quadro). O analista ambiental do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) Luciano Malanski reforça que essa interação, embora engraçada, exige atenção. "O macaco-prego tem um cérebro mais desenvolvido. Por isso, interage mais com os humanos. Mas quando eles recebem alimento e se concentram em áreas com pessoas, perdem o hábito de cumprir sua função ecológica: dispersar sementes e interagir com a mata", explica.
E o apelo é claro: não alimente nem toque nos animais. Além de perigoso para os humanos, pode ser prejudicial para os próprios macacos. "Eles têm tudo o que precisam aqui. Ambiente seguro, alimentação e espaço seguro para transitar".
Enquanto isso, os humanos têm outras opções para curtir o parque. "As piscinas são só 1% do Parque Nacional", explica Larissa Moura Diehl, analista ambiental e zootecnista do ICMBio. "Temos 42 mil hectares e dezenas de trilhas, desde as mais leves, de 1,5 km, até as desafiadoras, de 23 km. E atividades como highline, yoga e mountain bike."
No fim das contas, a mensagem que fica é que os macacos são engraçados e inteligentes, mas são, acima de tudo, animais selvagens. Eles vivem ali. Nós estamos apenas de passagem.
Saiba Mais
Espécies
Macaco-prego
É um primata muito inteligente e ativo. Vive em grupos e habita principalmente florestas do Brasil.
Mico-estrela
Pequeno e ágil, tem tufos de pelos nas orelhas e uma cauda longa. Alimenta-se de frutas, insetos e seiva de árvores. Vive em grupos familiares e é comum no Cerrado e em áreas urbanas.
Bugio-preto
É conhecido pelo seu forte rugido, usado para comunicação. Vive em florestas e é folívoro, se alimentando principalmente de folhas. Mais reservado, fica em lugares altos no meio da floresta.
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