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Pet influencer: bichos dão match e criam laços pelas redes sociais

Tutores de pets com perfis em redes sociais transformam-se em verdadeiros grupos de apoio, trocando experiências, cultivando a solidariedade e fortalecendo laços de amizade

Fabiana com o cachoro Theodore  -  (crédito: Arquivo )
Fabiana com o cachoro Theodore - (crédito: Arquivo )

O amor sempre encontrou caminhos inesperados. Antes, bastava um passeio pela praça para que dois cachorros se encarassem e, dali, surgisse uma amizade. Hoje, esses encontros ultrapassaram os parques e chegaram ao universo virtual. Na era dos aplicativos e das redes sociais, não são apenas os humanos que buscam companhia: os animais de estimação também passaram a "dar match" em perfis criados especialmente para eles.

Essas páginas digitais funcionam como pontes invisíveis, capazes de aproximar desconhecidos que compartilham a mesma sensibilidade diante do olhar de um cachorro ou do ronronar de um gato. São laços que nascem da pureza dos bichos, mas que reverberam no íntimo humano, lembrando-nos, todos os dias, de que não estamos sozinhos.

No Distrito Federal, os números mostram a dimensão dessa paixão: são cerca de 837 mil animais de estimação vivendo em 679,7 mil lares — o equivalente a 55% dos domicílios. Os cães lideram a presença nos lares brasilienses, com 45,8%, seguidos pelos gatos, com 11,1%. Os dados são do Instituto de Pesquisa e Estatística do DF (IPEDF) e da Secretaria de Meio Ambiente (SEMA).

Laços pela tela

Julia Rodrigues, 29 anos, é a tutora de Pérola, uma Golden Retriever de 2 anos, e Kali, uma Border Collie de 1. Para elas, criou o perfil @perolaekali, que já soma quase 3 mil seguidores. A página começou como um álbum de recordações, mas acabou se transformando em ponto de encontro com outros apaixonados por pets.

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"No início era só para registrar momentos, mas logo as pessoas começaram a acompanhar a rotina delas", conta. "Hoje, vejo o perfil como um hobby que carrega responsabilidade. Compartilho alimentação, treinos e cuidados diários, e sei que isso influencia quem acompanha."

Segundo Júlia, a experiência ultrapassa curtidas: "Criamos amizades com tutores de vários lugares. As interações são muito positivas, e os vídeos de alimentação natural ou os momentos fofos são os que mais engajam. Mas, acima de tudo, é uma forma de espalhar carinho."

Ela lembra, rindo, das conexões inusitadas: "Tem dois goldens que vieram do mesmo canil da Pérola. A gente brinca que eles são primos distantes, mas que se acompanham pelas redes." Para Júlia, o perfil das cadelinhas é um verdadeiro refúgio: "Recebo mensagens de pessoas dizendo que os posts ajudam no humor do dia. É incrível ver como um animal consegue criar laços até pela tela."

  • Fabiana com o cachoro Theodore
    Fabiana com o cachoro Theodore Arquivo
  • Julia Rodrigues com seus dois pets
    Julia Rodrigues com seus dois pets Ed Alves CB/DA Press
  • Mary Jane
    Mary Jane Arquivo
  • Cachorrinha Mary Jane
    Cachorrinha Mary Jane Arquivo
  • Milena com a cadelinha Mary Jane
    Milena com a cadelinha Mary Jane Arquivo
  • Bruna e Matheus com  Maya, Romey juju e o Bili
    Bruna e Matheus com Maya, Romey juju e o Bili Arquivo Pessoal

Risadas e travessuras

A cadelinha Mary Jane, de 3 anos, também ganhou sua própria página: o perfil @mary.janeff, criado pela tutora Milena Fischer, 24. "Ela é muito engraçada, e eu queria mostrar isso para o mundo", conta.

Entre os vídeos de brincadeiras, roupinhas e momentos de dondoca, Mary Jane também conquista seguidores com suas travessuras: "Ela revirou o lixo, espalhou no sofá e depois ficou com a cara mais inocente do mundo. Choveram comentários defendendo a 'meliante'", diverte-se Milena.

Para além do humor, o perfil virou espaço de conexão. "Conheci pessoas maravilhosas por meio dela. O mais bonito é que nem os animais sabem, mas eles nos conectam com gente do bem. Já me reconheceram na rua por causa dela, e isso é muito curioso. Tudo começou como brincadeira, mas hoje, sei que é um espaço que ajuda até a falar de adoção. Mary foi abandonada, e sempre reforço: não compre, adote."

Superação e esperança

Entre os perfis, alguns contam histórias de luta. É o caso de Bili, o cãozinho sem patinhas que conquistou quase cinco mil seguidores no Instagram (@meupequenobili) e oito mil no TikTok. Resgatado de um canil clandestino, ele nasceu com deformações nos joelhos e encontrou no amor de Bruna Rayane, 34, e Matheus Alvarenga, 34, uma nova chance de vida.

"Criamos o perfil para mostrar que ele estava sendo cuidado e amado, mas logo virou uma rede de apoio", relata Bruna. Após cirurgias e fisioterapia, Bili hoje se locomove com a ajuda de uma cadeirinha. "Ele é um guerreiro e inspira muita gente. Recebemos mensagens todos os dias de pessoas que querem saber como ele está. Isso criou um elo ainda mais forte entre nós e ele. Cada detalhe do dia virou oportunidade de registro e de aprendizado. Bili nos ensina o que é amor verdadeiro, sem esperar nada em troca."

Comunidade de afeto

Para Fabiana Veríssimo, 27, o perfil @theodoreverissimo foi uma forma de celebrar a vida do seu cãozinho Theo. Com apenas 78 seguidores, a página mostra que o número importa menos que o carinho. "Sempre amei registrar os momentos dele, e percebi que ele tinha uma personalidade tão especial que merecia um espaço próprio", diz.

As interações, segundo ela, são leves e divertidas. "As pessoas comentam como se o Theo estivesse respondendo. Isso traz humor para o meu dia e para o de quem acompanha. Também trocamos experiências com tutores de pets idosos. Esse espaço me faz sentir parte de uma comunidade que entende a importância desses companheiros."

Mais que uma tendência

A psicóloga Kênia Ramos de Souza avalia que o fenômeno de perfis de pets vai além da moda. "É uma expressão do vínculo afetivo entre humanos e animais. Criar essas páginas externaliza o carinho e integra os pets ao espaço social virtual, refletindo a importância que eles assumem como membros da família."

Segundo ela, os perfis podem reforçar o vínculo tutor-animal. "Ao fotografar, escrever legendas e compartilhar experiências, o tutor passa a observar melhor o comportamento do pet e celebrar sua presença. Isso fortalece a conexão emocional."

Para Kênia, os animais funcionam como facilitadores de vínculos. "As redes sociais se tornam um espaço de troca, onde tutores compartilham aprendizados e até momentos difíceis, como luto ou adoecimento, encontrando apoio e pertencimento. O importante é manter o equilíbrio: o perfil deve complementar a vida real, e não substituí-la."

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postado em 06/10/2025 04:00
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