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Especialistas defendem mais acesso ao diagnóstico precoce

Oncologistas destacam a importância da mamografia para ampliar a taxa de cura entre as pacientes

O segundo painel do CB.Debate "Câncer de mama: uma rede de cuidados" teve como tema os desafios reais da jornada oncológica -  (crédito:  Ed Alves CB/DA Press)
O segundo painel do CB.Debate "Câncer de mama: uma rede de cuidados" teve como tema os desafios reais da jornada oncológica - (crédito: Ed Alves CB/DA Press)

O segundo painel do CB.Debate “Câncer de mama: uma rede de cuidados” ocorreu ontem, no auditório do Correio Braziliense, e teve como tema os desafios reais da jornada oncológica. O oncologista Anderson Silvestrini, do Hospital DF Star (Rede D’Or) e vice-presidente do Conselho Científico da Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama (Femama), destacou a importância do rastreamento como estratégia fundamental para detectar o câncer em estágios iniciais. Segundo ele, o evento marca o início de um mês de mobilização. “Estamos abrindo com chave de ouro, discutindo acessibilidade ao diagnóstico precoce e melhores práticas para aumentar as taxas de cura e de sobrevida das pacientes”, afirmou.

Silvestrini ressaltou que a mamografia de rastreamento é essencial porque permite identificar lesões ainda não palpáveis. “Quando diagnosticamos cedo, aumentamos muito a taxa de cura”, explicou. De acordo com o médico, cerca de 30% dos diagnósticos no Brasil ocorrem antes dos 40 anos, o que exige atenção redobrada das mulheres a qualquer alteração no corpo. Ele defendeu que a faixa etária para a realização do exame seja repensada. “Hoje, abaixo dos 40 anos, a mamografia é feita sob demanda médica. Mas, entre 40 e 50 anos, deveria estar disponível para todas, sem necessidade de solicitação prévia, exceto nos casos de suspeita clínica”, afirmou.

Silvestrini lembrou ainda que 10% a 15% dos casos têm origem genética, o que torna importante investigar mutações em famílias com histórico da doença. “A avaliação molecular pode ser decisiva para orientar prevenção e tratamento”, disse. Além do aspecto clínico, ele ressaltou a relevância do apoio familiar e psicológico: “Muitas pacientes se preocupam mais com os filhos ou o parceiro do que com elas mesmas. Ter alguém que ouça, acolha e participe da discussão faz diferença. Isso inclui familiares e também a equipe de saúde que acompanha a paciente ao longo dos anos.”

Avanços

O oncologista também abordou os progressos nos tratamentos medicamentosos. “Cada droga tem seus benefícios e efeitos colaterais, mas hoje existem medidas preventivas eficientes que minimizam os impactos. Além disso, terapias-alvo, imunoterapia e bloqueadores hormonais permitem melhor qualidade de vida durante o tratamento. Por isso, não se deve ter receio de iniciar a terapia por medo dos efeitos colaterais”, ressaltou.

Silvestrini reforçou que a prevenção e o rastreamento devem estar disponíveis durante todo o ano. “Mamografia, papanicolau, PSA e, futuramente, o teste de HPV são medidas essenciais. O Outubro Rosa é um lembrete importante, mas a atenção à saúde deve ser constante”, concluiu.

Sem "ponto final"

Também presente no painel, a oncologista clínica da Rede D’Or, Ana Carolina Salles, destacou que o câncer de mama metastático não deve ser encarado como um ponto final. “O diagnóstico mexe muito com a paciente e a família. Mas hoje, com os avanços, muitas mulheres com câncer metastático vão viver muito tempo — e uma pequena parcela, inclusive, pode alcançar a cura”, afirmou.

Para a especialista, a atenção deve ser integral. “Estamos cuidando de uma paciente, não apenas de uma doença. Muitas mulheres escolhem continuar trabalhando mesmo durante o tratamento. Não é fácil, mas tratamos para que elas possam viver”, disse.

Ana Carolina ressaltou a importância da equipe de cuidados paliativos, que deve acompanhar a paciente desde o início do diagnóstico. “Esse apoio traz um olhar completo, considerando demandas psicológicas, expectativas e desejos. A paciente pode optar, por exemplo, por não ser entubada e passar seus últimos momentos em casa, com a família”, explicou.

A médica lembrou que, apesar das dificuldades, é fundamental valorizar a vida. “Um câncer metastático não é o fim da linha. É um percurso marcado por desafios, mas a mulher continua viva, e essa luta precisa ser reconhecida”, reforçou.

Mulheres jovens

A oncologista chamou atenção para o aumento de diagnósticos em pacientes jovens. “A mediana de idade é de 50 anos ou mais, mas temos recebido mulheres entre 35 e 40 anos. Isso acende um alerta e está relacionado a fatores como sedentarismo, obesidade, sobrepeso, questões ambientais e até o uso de implantes hormonais”, explicou.

Embora 75% dos casos ocorram em mulheres acima de 50 anos, cerca de 25% são diagnosticados antes dessa faixa etária. “Uma grande vitória foi a aprovação da mamografia anual a partir dos 40 anos pelo SUS, assim como ocorre na rede privada. Antes, o exame era ofertado apenas a partir dos 50 e de forma bianual”, destacou.

Para ela, a informação é uma das armas mais poderosas contra a doença. “O Outubro Rosa é um momento de divulgar informação de qualidade. Muitas vezes, é a porta de acesso para quem depende do sistema público de saúde”, concluiu.

Genética 

De acordo com a oncologista clínica Andreza Souto, deve ser realizado o aconselhamento genético para identificar possíveis causas hereditários de câncer. "Às vezes, apenas os homens da família apresentam quadros de câncer, mas isso pode indicar uma mutação genética na família", afirmou.

"Toda mulher, até os 65 anos, que teve um diagnóstico de câncer deve passar por um aconselhamento genético e realizar uma testagem genética para avaliar o tipo desse câncer", afirmou Andreza. Segundo a médica, em casos hereditários, as chances de câncer de ovário sobem para 50%. Taxa muito elevado do que as chances de uma pessoa média, que chega a 1%. "Por isso é importante realizar exames. Se temos essa informação antes, conseguimos promover uma prevenção oncológica", ressaltou.

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No cenário nacional, Andreza lamenta que ainda é muito difícil ter acesso ao aconselhamento genético. "Conseguimos em alguns locais, mas é algo que ainda está distante em um contexto geral. Temos um atraso muito grande entre as cidades", afirmou. Ela acredita que quanto mais essas informações forem disseminadas, melhor. "No meu consultório, 40% das mulheres não são pacientes do câncer e procuram essas informações do teste genético. O cenário de escassez está mudando", ressaltou. 

No cenário nacional, Andreza lamenta que é muito difícil ter acesso ao aconselhamento genético. "Conseguimos em alguns locais, mas é algo que ainda está distante em um contexto geral. Temos um atraso muito grande entre as cidades", afirmou. Ela também acredita que quanto mais essas informações foram disseminadas, melhor. "No meu consultório, 40% das mulheres não são pacientes do câncer e procuram essas informações do teste genético. O cenário de escassez está mudando", disse.

 

 

Frase

Quando diagnosticamos cedo, aumentamos muito a taxa de cura”

Anderson Silvestrini, oncologista do Hospital DF Star (Rede D’Or) e vice-presidente do Conselho Científico da Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama (Femama)

Frase 2

"Hoje, com os avanços, muitas mulheres com câncer metastático vão viver muito tempo"

Ana Carolina Salles, oncologista clínica da Rede D’Or

FRASE 3

"Toda mulher, até os 65 anos, que teve um diagnóstico de câncer deve passar por um aconselhamento genético", disse oncologista clínica Andreza Souto

  •  Para Dra Andreza Souto deve ser realizado o aconselhamento genético para identificar possíveis causas hereditários de câncer
    Para Dra Andreza Souto deve ser realizado o aconselhamento genético para identificar possíveis causas hereditários de câncer Foto: Fotos: Ed Alves CB/DA Press
  •  01.10.2025. Ed Alves CB/DA Press. CB Debate. Cancer de Mama. 2 Painel. Anderson Silvestrini
    01.10.2025. Ed Alves CB/DA Press. CB Debate. Cancer de Mama. 2 Painel. Anderson Silvestrini Foto: Ed Alves CB/DA Press
  •  01.10.2025. Ed Alves CB/DA Press. CB Debate. Cancer de Mama. 2 Painel.  Dra Andreza Souto.
    01.10.2025. Ed Alves CB/DA Press. CB Debate. Cancer de Mama. 2 Painel. Dra Andreza Souto. Foto: Ed Alves CB/DA Press
  •  01.10.2025. Ed Alves CB/DA Press. CB Debate. Cancer de Mama. 2 Painel. Dra Ana Carolina Salles.
    01.10.2025. Ed Alves CB/DA Press. CB Debate. Cancer de Mama. 2 Painel. Dra Ana Carolina Salles. Foto: Ed Alves CB/DA Press
  • O segundo painel do CB.Debate "Câncer de mama: uma rede de cuidados" teve como tema os desafios reais da jornada oncológica
    O segundo painel do CB.Debate "Câncer de mama: uma rede de cuidados" teve como tema os desafios reais da jornada oncológica Foto: Ed Alves CB/DA Press
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postado em 02/10/2025 04:10
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