FUNCIONALISMO PÚBLICO/

Mais uma etapa vencida no CNU; DF teve 30,8% de abstenção, a menor do país

Sensação de dever cumprido marcou a aplicação das provas para mais de 100 mil inscritos em Brasília, que registrou a menor taxa de abstenção do país: 30,8%

Adiman Oliveira, com o pé engessado:
Adiman Oliveira, com o pé engessado: "Importante é vencer os objetivos" - (crédito: Keity Naiany/CB/DA Press)

Mais de 100 mil inscritos no Concurso Público Nacional Unificado (CNU) 2025 em Brasília concluíram a prova com sucesso. Até o início da noite de ontem, apenas uma ocorrência grave havia sido registrada. Um candidato sofreu uma parada cardiorrespiratória e precisou ser levado ao Hospital de Base. Muitos avaliaram a prova como cansativa, mas elogiaram a organização do certame.

O Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal (CBMDF) foi acionado por volta das 15h para atender à ocorrência de parada cardiorrespiratória, com três carros e o resgate aéreo, no câmpus da UDF, na Asa Sul. Após cerca de 20 minutos de manobras de reanimação, o candidato voltou a apresentar sinais vitais, foi estabilizado e encaminhado de helicóptero ao Hospital de Base do DF. A unidade de saúde confirmou que o paciente deu entrada e recebeu atendimento médico. A ministra da Gestão e Inovação em Serviços Públicos, Esther Dweck, informou que ele passa bem.

Entre os candidatos que concluíram a primeira etapa, de provas objetivas, o CNU voltou a simbolizar mais do que uma disputa por vagas. Ao fim da prova, o clima era de alívio, cansaço e, para muitos, de esperança. Alguns deixavam o local trocando impressões sobre o conteúdo das questões, enquanto outros preferiam o silêncio. Para quem encarou meses de estudo e concorreu a uma das mais de 3 mil vagas oferecidas pelo governo federal, o sentimento predominante era de missão cumprida. No DF, o percentual de abstenção foi de 30,8%, o menor do país.

"É o retrato de um Brasil que sonha com estabilidade, reconhecimento e oportunidade", disse a engenheira florestal Maria Eduarda Curado Picorelli, 27 anos, ao se preparar para entrar na sala, na Asa Sul. "O CNU deste ano está mais organizado. A logística está mais clara, e as informações chegaram com antecedência. Isso faz muita diferença para quem está tentando um cargo público", completou o engenheiro Gustavo Bomfim, 45 anos, que fez a prova na UDF, deixou o Rio de Janeiro e está há quatro meses em Brasília se preparando para a seleção.

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A piauiense Giovana Jael Vieira da Silva Santana, 35 anos, chegou cedo ao local de prova, no câmpus do UniCeub na Asa Norte, local de prova que recebeu o maior número de inscritos em Brasília. Servidora pública e policial civil, ela sonha agora com um cargo na Esplanada dos Ministérios. Inscrita no Bloco 7, para o cargo de analista técnico de justiça e defesa, mira uma vaga no Ministério da Justiça. "Quem trabalha, estuda e cuida de casa sabe como é difícil equilibrar tudo, mas hoje é o dia da colheita", disse, emocionada, enquanto aguardava a abertura dos portões.

piauiense Giovana Jael Vieira da Silva Santana, de 35 anos, veio a Brasília em busca de novos horizontes na carreira pública. Servidora da Polícia Civil do Piauí, ela conta que decidiu tentar um cargo federal e almeja permanecer de vez na capital. "Sou servidora pública já, mas quero um cargo melhor. Estou passando um tempo aqui em Brasília e quero ficar de vez na Esplanada", afirma, sorrindo, enquanto aguarda o início da prova.
A piauiense Giovana Santana veio a Brasília em busca de novas oportunidades (foto: Mariana Campos/CB/D.A Press)

Outros candidatos não conseguiram chegar a tempo, e a organização foi rigorosa: os portões dos locais de prova foram fechados pontualmente às 12h30. Na entrada do UniCeub, cenas de desespero marcaram o fechamento. Alguns concorrentes chegaram a implorar para entrar, mas a fiscalização manteve o rigor do cronograma.

Entre os candidatos que não conseguiram entrar a tempo estava Pedro Henrique de Sousa, 27 anos, que chegou poucos minutos depois. Morador de Valparaíso, ele enfrentou dificuldades com o transporte público. "Saí cedo, mas o ônibus demorou muito na rodoviária, e não consegui chegar a tempo. Devia ter mais opções de transporte em um dia como esse", lamentou. Era a primeira vez que ele tentava o CNU, inscrito no bloco 9, para o cargo de técnico da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). Mesmo frustrado, o candidato disse que pretende continuar estudando, para  tentar novamente na próxima edição.

Pedro Henrique saiu de Valparaíso de Goiás para realizar a prova
Pedro Henrique saiu de casa duas horas antes, mas encontrou os portões fechados (foto: Mariana Campos/CB/D.A Press)

Confiança

O baiano Bruno Reis, 41 anos, veio de Salvador para fazer o CNU e não escondeu a confiança no resultado. "Vim com muito esforço, muito sacrifício para estar aqui, então, só posso sair com vitória", afirmou o concurseiro, que é militar e busca uma vaga na área de Justiça e Defesa. Mesmo experiente na rotina de disciplina e preparo, Bruno reconhece o desafio do conteúdo extenso da prova. "Zerar o edital é impossível, é muito grande, mas me preparei bastante", contou. 

Durante a preparação, Bruno se dedicou cerca de quatro horas por dia aos estudos, conciliando o tempo entre trabalho e revisão do material. Para ele, o ponto forte é justamente a bagagem profissional na área de segurança. "É o que eu faço há muito tempo, então, é uma parte que eu domino. A prova é ampla, mas o que deu para fazer, eu consegui fazer", diz, confiante.

Mesmo com o pé engessado, Adiman de Sousa Oliveira participou do CNU neste domingo. Assistente social com 46 anos de experiência na área, chegou determinada ao local de prova, em Ceilândia. "O mercado está difícil. Agora é buscar uma vaga", afirmou, com um sorriso que misturava cansaço e esperança. A fratura, segundo conta, ocorreu em julho, durante um passeio de bicicleta na Floresta Nacional de Brasília. "Agora que eu estou podendo pisar, mas o importante é vencer os objetivos", completou.

Sobre a prova, Adiman foi direta ao avaliar a banca organizadora. "FGV não é coisa fácil. É preciso vir com muita tranquilidade, porque as questões são extensas. É cansativo, você sai da prova realmente esgotado", avaliou. Apesar disso, ela se mostrou confiante no desempenho na área específica de serviço social. Com a sala adaptada para garantir acessibilidade, ela conseguiu fazer a prova sem grandes dificuldades. Ao final, entre alívio e expectativa, resumiu seu desejo de forma simples e sincera: "Descansar eu vou, sim. Mas o que eu espero mesmo é passar. Só preciso de uma vaga."

Conhecida pelas questões com textos motivadores mais extensos, a Fundação Getulio Vargas (FGV), responsável pela aplicação da prova este ano, imprimiu sua marca no CNU 2025. Moradora de Ceilândia, Fernanda de Oliveira Silva, 40 anos, fez a prova no CEM 10 da região administrativa e avaliou a seleção como equilibrada, embora extensa. Técnica de enfermagem, ela concorre a uma vaga na área da saúde, com foco no Hospital das Forças Armadas (HFA). "A parte de conhecimentos básicos estava bem longa, um pouco cansativa, mas tudo dentro do que estava previsto no edital", contou. Segundo ela, os textos das questões exigiram atenção redobrada, especialmente nos trechos de interpretação.

Do lado de fora, familiares aguardavam com expectativa os concurseiros que concluíam a prova. Apesar do sol forte e do cansaço, o clima era de otimismo. Muitos candidatos prometeram continuar na jornada, caso o resultado não venha desta vez. O professor Aerton Martins, 43 anos, demonstrava tranquilidade e um leve sorriso de dever cumprido. Morador de Ceilândia Norte, ele concorreu a um cargo na área administrativa do Bloco 6, voltado ao setor de cinema e audiovisual. "A prova estava tranquila, mas é nesse tipo de tranquilidade que moram as pegadinhas", observou. Mesmo experiente em concursos, o educador admite que o nervosismo sempre aparece na hora decisiva. "Se eu passar, vai ser motivo de muita alegria com minha esposa e minha família — com sorriso e oração, como tem que ser", completou.

A gestão do tempo de prova foi um dos pontos cruciais. "Eram questões muito longas, com enunciados enormes. Em algumas, a gente perdia mais tempo lendo do que respondendo", contou Alessandra Soares, 27 anos, cuidadora, logo após sair da prova, no UniCeub. A percepção é compartilhada por Nathalia Mattos, 33 anos, militar da Força Aérea, que também sentiu o impacto da extensão das perguntas. "As questões estavam bem elaboradas, mas muito grandes. Acho que o principal desafio foi administrar o tempo", disse.

Comerciantes reclamam

Os comerciantes relataram que, ao contrário do que ocorre em grandes vestibulares e concursos tradicionais, as vendas ficaram significativamente abaixo do esperado
Comerciante Irassi Mendes: horário da prova atrapalhou (foto: Mariana Campos/CB/D.A Press)

Enquanto a expectativa tomava conta dos candidatos, um outro grupo observava o movimento com apreensão e frustração: os comerciantes e vendedores ambulantes que montaram ponto em frente aos locais de prova. Ao Correio, eles relataram que, diferentemente do que ocorre em grandes vestibulares e concursos tradicionais, as vendas ficaram significativamente abaixo do esperado. O motivo, segundo os próprios vendedores, foi o horário de prova — que teve abertura dos portões às 11h30 e começou às 13h.

A comerciante Irassi Vieira de Carvalho, 60 anos, contabilizou o prejuízo do dia, após a realização do CNU na Asa Norte. Conhecida entre os concurseiros da região, ela monta sua barraca de marmitas e refrigerantes sempre que há grandes seleções. "Eu venho em todo concurso grande. No ano passado foi bom, vendi tudo. Mas, este ano, não prestou", desabafou, enquanto guardava as panelas quase intactas.

Irassi explica que o movimento foi fraco porque os portões abriram mais cedo e fecharam rapidamente, reduzindo o tempo de permanência do público nas imediações. "Abriram 11h30 e fecharam 12h30. Ninguém comeu, o pessoal já veio 'almoçado'", contou. Segundo ela, o faturamento caiu cerca de 80% em relação ao último grande concurso realizado na cidade. "Eu vim de marmita, acredita? Mas não vendi quase nada. Foi um horário muito ruim", lamentou, frustrada.

Apesar do prejuízo, a comerciante mantém o bom humor. Disse que, talvez, volte em outras edições, mas com uma estratégia diferente. "De repente eu até venho, mas não faço mais estande grande de comida como fiz desta vez. Faço só um pouco, para não sobrar", afirmou. 

A mesma queixa veio de Ermi Miranda, 62 anos, que vendia canetas, águas e doces variados. Ele, no entanto, encarou a situação com otimismo. "A cada ano que passa, as vendas estão diminuindo. Temos que ir pulando de concurso em concurso. O fato de o concurso não ser o dia todo afetou a todos. Perdi entre 30% e 35% de vendas. Mas temos que vir de qualquer jeito. Para vender tem que estar na rua", reforça.

Próximos passos

Diferentemente da primeira edição, o CNU 2 terá duas fases. Os candidatos que forem aprovados nas provas objetivas aplicadas ontem farão a prova discursiva em 7 de dezembro. A imagem do cartão de respostas, das notas finais das provas objetivas e a convocação para a prova discursiva serão em 11 de novembro. Já o resultado definitivo da prova discursiva sairá em 18 de fevereiro de 2026. A primeira convocação para confirmação de interesse das pessoas classificadas está prevista para 20 de fevereiro e, em março, devem começar as convocações para nomeação.

Participaram da cobertura Aline Gouveia, Giovanna Sfalsin, Junio Silva, Keity Naiany, Khalil Santos, Luiz Fellipe Alves, Mariana Campos e Raphaela Peixoto.

 


  • A piauiense Giovana Santana veio a Brasília em busca de novas oportunidades
    A piauiense Giovana Santana veio a Brasília em busca de novas oportunidades Foto: Mariana Campos/CB/D.A Press
  • Comerciante Irassi Mendes: horário da prova atrapalhou
    Comerciante Irassi Mendes: horário da prova atrapalhou Foto: Mariana Campos/CB/D.A Press
  • Pedro Henrique saiu de casa duas horas antes, mas encontrou os portões fechados
    Pedro Henrique saiu de casa duas horas antes, mas encontrou os portões fechados Foto: Mariana Campos/CB/D.A Press
  • Bruno Reis veio da Bahia só para fazer o concurso e se diz confiante
    Bruno Reis veio da Bahia só para fazer o concurso e se diz confiante Foto: Mariana Campos/CB/DA Press
  • Ermi Miranda estimou prejuízo de 20 a 25% nas vendas
    Ermi Miranda estimou prejuízo de 20 a 25% nas vendas Foto: Mariana Campos/CB/D.A Press
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JA
postado em 06/10/2025 01:01
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