
Há 34 anos ajudando crianças em situação de vulnerabilidade e combatendo desigualdades sociais no DF, a Casa Azul Felipe Augusto promove uma feira natalina para resgatar tradições, promover a convivência familiar e ajudar o próximo. O evento começou nesta quinta-feira (27/11) e segue nesta sexta e sábado, das 10h às 22h, e domingo, das 10h às 20h, em dois ambientes no Estádio Mané Garrincha, em frente ao portão L.
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Idealizada por Daise Moisés, uma das fundadoras da organização sem fins lucrativos, a feira reúne instituições para arrecadar recursos e ajudar a quem mais precisa. Segundo ela, o projeto resgata um antigo modelo de feira que, por anos, funcionou no Centro de Convenções e foi descontinuado após a pandemia. "Para nós, essa atividade sempre foi uma fonte importante de receita, especialmente para pagar a folha e o décimo terceiro", detalhou.
Daise explicou que organizava almoços e chás beneficentes, mas percebeu que sempre as mesmas pessoas contribuiam, e que os pedidos constantes acabavam sendo incômodos. "Estava virando a 'chata' que fica pedindo ajuda. Participar de feiras, como esta, me abriu os olhos: as pessoas compram o que desejam e, ao mesmo tempo, ajudam, sem insistência, apenas com propósito", contou.
Apaixonada pelo Natal, Daise decidiu retomar a feira para arrecadar recursos não apenas para a Casa Azul, mas para organizações parceiras, como a Casa do Pequeno Polegar, creche que atende a crianças carentes, o Lar dos Velhinhos Maria Madalena, a Associação Maria de Nazaré e o Instituto Reciclando Sons, que realizou uma apresentação musical nesta quinta-feira.
Marina Abdo, presidente da Casa do Pequeno Polegar, afirmou que esse tipo de iniciativa faz toda diferença para a instituição. "A creche está ligada ao GDF, então, recebemos o pagamento dos funcionários, além de água e luz. Mas qualquer gasto extra, como repor um simples prato quebrado, não está previsto. As feiras nos permitem arrecadar recursos para respirar um pouco", ressaltou.
De acordo com ela, todas as peças vendidas no evento são produzidas por voluntários, e o lucro será revertido para as crianças. "Quando alguém compra um presente ou algo para si, não está apenas adquirindo um produto. Está doando amor, cuidado e dignidade para dezenas de crianças que realmente precisam. Isso é o que faz tudo valer a pena", celebrou Marina.
Além de produtos artesanais e opções variadas de presentes, há um estúdio fotográfico no local, especialmente montado para registrar momentos em família, além de oficinas de decoração de biscoitos, panetones e montagem de mesa posta, que convidam pais e filhos a compartilharem experiências. "A ideia é que as famílias venham conhecer a decoração, buscar ideias de presentes e aproveitar o espaço", ressaltou Daise.
A programação inclui atividades culturais, recreativas e palestras sobre empreendedorismo, fortalecimento da mulher e temas voltados à família.
Nas primeiras horas de funcionamento, a feira já recebia visitantes. Júlia Castro, de 29 anos, que trabalha no Mané Garrincha, decidiu conferir o evento. “Comecei a decorar minha casa para o Natal e aproveitei para comprar mais algumas peças aqui. Também estou olhando opções de presentes para pessoas queridas”, disse. Segundo ela, a qualidade dos produtos impressionou, assim como os preços. “Realmente acessíveis, até mais do que encontrei na internet”, completou.
História
A história da Casa Azul Felipe Augusto começou em 1982, quando Daise Moisés perdeu um filho, de 16 anos, em decorrência de um choque anafilático. Diante da tragédia, ela passou a buscar um novo significado para a vida por meio do trabalho voluntário.
“Encontrei um grupo que atuava no Setor de Abastecimento e Armazenamento Norte. A coordenadora já atendia famílias que viviam havia mais de 10 anos em uma invasão, oferecendo lanches aos sábados, e eu me juntei a ela”, relembrou.
Pouco tempo depois, o governo Roriz transferiu famílias de ocupações do Plano Piloto para a recém-criada Samambaia. Assim, Daise e outras voluntárias decidiram acompanhar as 30 famílias, com cerca de 100 crianças, para que o atendimento continuasse na nova região.
“No início, marcávamos as atividades aos sábados, mas o número de crianças cresceu de forma exponencial. Percebemos que, daquele jeito, não chegaríamos a lugar nenhum. Foi então que decidimos criar uma instituição jurídica, para pleitear um espaço em Samambaia e estruturar melhor o atendimento”, contou Daise.
O nome “Casa Azul” veio de um sonho de uma voluntária, que viu mãos de dedos compridos indicando o caminho para uma casa azul. O simbolismo foi acolhido pelo grupo, e o nome “Felipe Augusto” foi escolhido em homenagem ao filho de Daise. Assim nasceu a Casa Azul Felipe Augusto.
Nos primeiros anos, as atividades ocorreram em um espaço emprestado por uma das moradoras atendidas. Depois, a Terracap foi acionada para a concessão de um terreno. A instituição foi oficialmente criada em 25 de setembro de 1989 e registrada em cartório em 10 de outubro do mesmo ano.
Hoje, a Casa Azul mantém duas unidades em Samambaia, uma no Riacho Fundo II e outra na Associação Atlética Banco do Brasil (AABB), em parceria com a Fundação Banco do Brasil e a AABB de Brasília. Ao todo, cerca de 1.100 crianças, adolescentes e famílias em situação de vulnerabilidade são atendidos.
O foco principal é o contraturno escolar para crianças de 6 a 17 anos, com oficinas de música, dança, informática, robótica, literatura, esportes e outras atividades. A proposta é clara: garantir que, fora do horário escolar, as crianças estejam protegidas, acolhidas e com a oportunidade de reescrever suas histórias. A maioria é encaminhada pelos Centros de Referência de Assistência Social (CRAS).
A instituição conta com parcerias com o GDF, por meio da Secretaria de Desenvolvimento Social, empresas privadas, emendas parlamentares e projetos financiados pela Lei de Incentivo à Cultura (Lei Rouanet). Ainda assim, Daise ressalta que os desafios financeiros são constantes.
“Precisamos nos reinventar o tempo todo. Mesmo assim, nos esforçamos ao máximo para não deixar a qualidade cair, porque as crianças e as famílias depositam em nós uma esperança enorme”, assinalou.
Além do atendimento a crianças e adolescentes, a instituição realiza o encaminhamento de jovens aprendizes ao mercado de trabalho e oferece cursos de capacitação voltados à geração de renda para mulheres. “Só no último ano, 600 mulheres foram qualificadas”, destacou a fundadora.
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