MÚSICA

Dia do Samba: como a Tia Zélia virou 'templo sagrado' em Brasília

Roda na Vila Planalto conquista o DF ao tratar o samba como memória viva, política e ancestral, atraindo novos públicos e fortalecendo a cultura comunitária

O Dia do Samba, celebrado nesta terça-feira (2/12), evidencia um gênero musical nascido da resistência, cuja trajetória retrata a luta de povos historicamente silenciados, e, atualmente, é considerado patrimônio cultural brasileiro. Entre as novas gerações brasilienses, o samba tem ganhado destaque devido à promoção de diversos eventos musicais realizados no Distrito Federal — entre eles, o Samba da Tia Zélia, na Vila Planalto

Marcelo Ribeiro e Melissa Silva, produtores da roda de samba, explicam que o repertório do evento busca honrar a história de marginalização do gênero musical exaltando todos aqueles que viveram o samba quando ele ainda era hostilizado. “Samba é memória. E o legado dele deve ser respeitado e seguido à risca”, argumentam. “Lembramos a cada edição de tudo que o samba representa, que ele é uma cultura do povo preto, que precisa ser político e defender bandeiras por um país menos injusto.”

No contexto cultural de Brasília, uma cidade diversa e marcada pela mistura de sotaques, o samba representa o acolhimento. A dupla de produtores nota a adesão do público da capital com os eventos, justificado pelo ambiente plural e agregador das rodas de samba. Embora muitos apareçam devido a popularidade da casa, o desafio é a permanência pelo amor ao gênero. “Ali é um templo. O samba é o protagonista. Ele tem que ser exaltado e respeitado”, esclarecem. “Não queremos barrar ninguém, mas queremos que as pessoas entendam que o samba é lugar sagrado e que ele tem que ser tratado como tal. Quem tem essa consciência é nosso público-alvo.”

Além disso, o Samba da Tia Zélia busca conscientizar a plateia sobre a memória ancestral afro-brasileira que cerca o gênero. “E muitas das vezes o público faz ponderações que faz com que aprendamos também. É uma construção coletiva, é feito pelo povo”, acrescentam. Desde produções da época da criminalização até o reconhecimento nacional, o samba aparece em todas as nuances na curadoria do Samba da Tia Zélia. 

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O pertencimento nasce, segundo Marcelo e Melissa, do senso de comunidade quando o público participa ativamente do samba. “Acredito que o fato de chamarmos o povo para fazer junto, colocar o tijolinho a muitas mãos faz com que muitos do público se sintam parte da nossa história. E, de fato, são”, dizem. “A nossa construção, tanto de evento como de comunicação, é com base em defender o samba como algo comunitário e um movimento afetivo.”

Mesmo reconhecendo as limitações em uma cidade jovem e em construção, os produtores relatam que o investimento em equipamentos de qualidade e músicos com formações técnicas compensa devido ao aumento de interessados no samba. Os desafios de promover um grande samba de rua são estritamente financeiros. “Seguimos inspirados, porque vivemos um sonho. É muito bonito impactar a vida das pessoas com a música, com o samba”, completam. 


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