Um estudo da Universidade Estadual Paulista (Unesp), no câmpus de Bauru, analisa a presença de microplásticos em animais da fauna marinha, especialmente grandes crustáceos como os camarões-de-sete-barbas (Xiphopenaeus kroyeri). O intuito é avaliar tanto os riscos biológicos como os malefícios que podem atingir a saúde humana por meio da ingestão dos crustáceos contaminados. As informações foram divulgadas pela Agência Fapesp.
O Programa BIOTA da Fapesp, lançado em 1999, destina recursos para compreender e analisar a biodiversidade da fauna e da flora no estado de São Paulo. Os integrantes do programa são os responsáveis pela pesquisa, que investiga dois lugares com características distintas: a Baixada Santista, que apresenta maior intervenção humana, e Cananéia, um local mais preservado localizado no litoral sul.
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Os resultados obtidos até o momento revelam que 80% a 90% dos camarões que foram analisados apresentavam resíduos de microplásticos no intestino. Mesmo com a quantidade de partículas variando entre os locais, a alta porcentagem de contaminação preocupa os pesquisadores e traz uma reflexão sobre as consequências que o consumo a longo prazo pode ocasionar na saúde das pessoas e na do meio ambiente.
Daphine Herrera, pós-doutoranda do projeto, afirma que pelo fato de os camarões serem animais detritívoros, ou seja, se alimentam dos detritos do mar, são mais suscetíveis à poluição que está presente neste ecossistema, por isso são os objetos de estudo ideais para esta investigação.
Poluição por microplásticos
Os microplásticos são partículas que possuem menos de 5 milímetros. Eles são responsáveis por 92,93% dos detritos plásticos que estão presentes no ambiente marinho, desde beiras de praias até o fundo do mar. Como os microplásticos representam um grande risco para a vida marinha e humana, os pesquisadores do Laboratório de Biologia de Camarões Marinhos e de Água Doce da Unesp decidiram analisar os camarões-de-sete-barbas para identificar o nível de contaminação.
Como funciona a pesquisa?
Primeiramente, os especialistas analisam o nível de exposição no trato gastrointestinal dos crustáceos, onde podem estar alojados os microplásticos. Após essa análise, eles avaliam se a contaminação representa um risco nutricional para o consumo dos camarões.
“Este estudo é um passo importante para compreender melhor os efeitos da poluição marinha no Brasil e as potenciais repercussões para a saúde pública, especialmente em um país onde o consumo de frutos do mar é tão expressivo”, diz Herrera.
Além dos camarões, outros seres marinhos como siris, lagostas e caranguejos também são alvos do estudo. O projeto avalia vários aspectos da vida desses animais, desde ciclo de vida e reprodução até padrões biogeográficos e evolução. Os resultados do estudo devem contribuir para projetos de conservação e preservação do habitat marinho.
* Estagiária sob supervisão de Roberto Fonseca