INOVAÇÃO

Pesquisador da UnB leva nanotecnologia à indústria e ganha destaque na 'Nature'

João Paulo Longo transforma nanotecnologia em inovação para a indústria cosmética

Amanda S. Feitoza
postado em 07/11/2025 17:11 / atualizado em 07/11/2025 17:12
João Longo, professor da UnB, está ajudando a fomentar o empreendedorismo científico no Brasil -  (crédito: Victor Carlos Mello Da Silva)
João Longo, professor da UnB, está ajudando a fomentar o empreendedorismo científico no Brasil - (crédito: Victor Carlos Mello Da Silva)

Por mais de uma década, o professor João Paulo Longo, da Universidade de Brasília (UnB), tem se dedicado a encurtar uma distância que ainda persiste no Brasil: a que separa o conhecimento produzido dentro dos laboratórios das inovações que chegam ao mercado. Doutor em nanociência e nanotecnologia, ele é um dos pioneiros no país em transformar descobertas científicas em produtos aplicados, com impacto direto na indústria — um trabalho que recentemente lhe rendeu destaque em um editorial da revista Nature.

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Longo é cofundador da Glia Innovation, startup que desenvolve matérias-primas nanotecnológicas para o setor cosmético. A empresa fornece atualmente para mais de 80 indústrias brasileiras, além de exportar para países como Colômbia, Peru e Estados Unidos, com expansão prevista para a Ásia. Em entrevista ao Correio, o pesquisador e empreendedor deixa claro o objetivo: fazer com que a ciência produzida nas universidades chegue à sociedade por meio da inovação.

“A inovação é o instrumento de transferência do conhecimento que a própria sociedade paga”, resume o pesquisador. “A gente tenta devolver esse investimento público em forma de valor, competitividade e bem-estar.”

O caminho até essa transposição, da ciência básica para o mercado, é o que Longo chama de “jornada de translação científica”. No Brasil, essa trajetória começou a ganhar força após a criação do Marco Legal de Inovação, em 2016, que flexibilizou as parcerias entre universidades e o setor produtivo. Antes disso, professores e pesquisadores enfrentavam barreiras legais para cooperar com empresas privadas.

A mudança abriu espaço para que projetos acadêmicos se transformassem em negócios. Na UnB, Longo implementou disciplinas que estimulam os alunos a criar startups tecnológicas em vez de fazer provas tradicionais. O resultado já é concreto: pelo menos oito novas empresas nasceram das atividades em sala de aula.

Mas o avanço da inovação científica no país ainda enfrenta desafios. Segundo o professor, os principais obstáculos estão na burocracia regulatória, na escala de produção industrial e na aceitação de novas tecnologias pelo público. “Quando algo é muito novo, o ser humano tende a olhar com desconfiança, é natural. É como o carro autônomo: poucos teriam coragem de entrar nele e ir até Goiânia”, exemplifica.

Mesmo assim, Longo acredita que a aproximação entre ciência e indústria é o caminho para o desenvolvimento do Brasil. “Nos países desenvolvidos, o crescimento econômico foi impulsionado por inovações baseadas em ciência. É isso que aumenta a produtividade das nações”, afirma. Ele cita o exemplo da Suíça, que, mesmo sem plantar café, gera riqueza com produtos de alto valor agregado, como as cápsulas que revolucionaram o consumo da bebida.

Para o pesquisador, o raciocínio é simples: prosperidade vem por meio da inovação. “Se a gente conseguir fortalecer essa ponte entre universidades e empresas, como já fizemos com a agricultura e a aviação, o país pode alcançar competitividade global em vários setores”, defende.

Mais do que criar tecnologias, João Paulo Longo quer consolidar uma cultura de empreendedorismo científico. A curiosidade de laboratório em motor econômico, o que coloca o Brasil mais perto de fazer da ciência um ativo real de desenvolvimento.

  • João Longo, professor da UnB, está ajudando a fomentar o empreendedorismo científico no Brasil
    João Longo, professor da UnB, está ajudando a fomentar o empreendedorismo científico no Brasil Victor Carlos Mello Da Silva
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    João Longo, professor da UnB, está ajudando a fomentar o empreendedorismo científico no Brasil Cedido ao Correio
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