NARCISISMO

Saiba se você é vítima de abuso narcisista, como Ana Hickmann e Simony

O médico e terapeuta João Borzino explica como se proteger desses abusos

Vivemos em uma era de crescente fragilidade emocional, onde termos como "relacionamento tóxico" ou "abuso psicológico" são usados sem critério. Mas o abuso narcisista é real, meticuloso e destrutivo. 

O caso explosivo de Johnny Depp e Amber Heard revelou ao mundo o perfil clássico de uma relação marcada por abuso emocional mútuo, com forte presença de comportamentos narcísicos e gaslighting. As gravações mostraram manipulação verbal, inversões de culpa e tentativas explícitas de desestabilização emocional.

No Brasil, Ana Hickmann e Simony revelaram relações marcadas por controle, silenciamento e distorção emocional. 

Eu tentei sair desse relacionamento tóxico. Eu tentei sair de uma situação que não me fazia bem e começou a colocar meu filho em perigo também. Só que, de novo, vem todo mundo ao seu redor dizer: 'Não faça isso, você vai destruir sua vida. Olha o seu filho, você vai acabar com a sua família?'", contou Ana na época da separação de Alexandre Corrêa.

"Infelizmente, vivi um relacionamento narcisista. E, com toda minha fragilidade emocional e doença, me fortaleci e consegui sair. Todo abusador se disfarça de protetor. Nunca é sobre cuidado. É sobre poder. Eles sempre querem ser o bom moço. E sei que muitas mulheres vivem isso”, revelou Simony no Instagram.

De acordo com o médico e terapeuta João Borzino, não se trata de brigas comuns ou personalidades difíceis — estamos falando de um padrão de manipulação emocional crônico, que visa desestabilizar, controlar e dominar a vítima, muitas vezes de forma invisível.

"Segundo o DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), o Transtorno de Personalidade Narcisista envolve um padrão persistente de grandiosidade, necessidade de admiração excessiva e ausência de empatia. Em termos simples: o narcisista usa os outros como instrumentos emocionais para manter sua autoestima inflada — e descarta-os quando já não são mais úteis", esclarece o médico. 

Segundo Borzino, estudos da Elsevier e da Lancet Psychiatry mostram que, embora o diagnóstico clínico ocorra em cerca de 1% da população, traços narcísicos subclínicos — como frieza, controle emocional e manipulação — são muito mais comuns e frequentemente mascarados por carisma ou afeto inicial.

Como o abuso narcisista acontece?

João Borzino afirma que abuso segue um padrão quase matemático, descrito com consistência em pesquisas da American Journal of Psychiatry e da SciELO:

1. Idealização – No início, o abusador parece perfeito. É carinhoso, atencioso, envolvente. Você sente que encontrou sua "alma gêmea".

2. Desvalorização – Gradualmente, surgem as críticas veladas, os jogos mentais, a inversão de culpa. Você começa a duvidar de si mesmo.

3. Gaslighting – Esse é o ponto central do abuso narcisista. O termo vem de uma peça de teatro dos anos 30, onde um marido manipulava a esposa ao ponto de fazê-la acreditar que estava ficando louca. Hoje, gaslighting descreve exatamente isso: quando o abusador distorce fatos, nega acontecimentos ou reescreve narrativas para desestabilizar a percepção da vítima.

Frases típicas de gaslighting: "Você está exagerando de novo"; "Eu nunca disse isso." "Você está ficando paranoico(a)". A vítima começa a duvidar da própria memória, das próprias emoções e até da própria sanidade. A autoestima vai sendo corroída até restar apenas confusão e dependência emocional.

4. Descarte e retorno cíclico – Quando a vítima já está emocionalmente vulnerável, o narcisista se afasta, troca de parceiro ou desaparece. E, muitas vezes, retorna com gestos grandiosos — o chamado “hoovering”, sugando a vítima de volta com promessas falsas e manipulações emocionais. O ciclo recomeça.

Essas histórias envolvendo as celebridades brasileiras e estrangeiras mostram que ninguém está imune ao abuso narcisista — nem mesmo quem tem fama, nem quem tem força. O médico listou como se proteger:


  1.  Aprenda a identificar o gaslighting – Sempre que alguém te faz duvidar da sua percepção repetidamente, ligue o alerta. Não ignore o desconforto interno.

  2. Estabeleça limites firmes – Narcisistas se alimentam de pessoas que têm dificuldade de dizer “não”. Se você tem um histórico de agradar demais, trabalhar isso é fundamental.

  3. Recorra ao registro objetivo – Mantenha anotações, prints, registros. Gaslighting só funciona se a realidade da vítima estiver vulnerável à negação.

  4. Reconstrua sua rede de apoio – Narcisistas isolam suas vítimas. Reconectar-se com amigos, familiares e terapeutas confiáveis é um passo de libertação.

 

As vítimas de abuso narcisista compartilham um traço: têm histórico de negligência emocional, necessidade de validação e baixa autopercepção. Isso não é culpa da vítima, mas é um convite à consciência, segundo o terapeuta. "Se você reconhece esses padrões em sua história, isso não te enfraquece — te dá poder para transformar".

"Você não vence um narcisista tentando mudá-lo. Ele se alimenta da sua esperança e da sua dúvida. A vitória começa quando você se recusa a ser manipulado(a), quando diz “chega” e aprende a validar sua própria percepção.

Porque, no fim das contas, a maior armadilha do gaslighting não é fazer você acreditar no abusador. É fazer você deixar de acreditar em si mesmo.

Recupere sua visão. Reescreva sua história. E nunca mais aceite viver num roteiro que não foi você quem escreveu", finaliza.

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