Cinema

'Ainda estou aqui' e a escalada da excelência até o Oscar

A próxima batalha do longa brasileiro será no próximo domingo, na disputa do cobiçado prêmio Bafta

 Fernanda Torres, ao centro, no papel de Eunice Paiva -  (crédito: Sony Pictures)
Fernanda Torres, ao centro, no papel de Eunice Paiva - (crédito: Sony Pictures)

Com duas novas etapas internacionais ultrapassadas, o longa brasileiro Ainda estou aqui passou pelo Critics Choice Awards (prêmio perdido para Emilia Pérez) e Goya (o chamado Oscar espanhol, no qual foi vitorioso), e se prepara para, no próximo domingo, disputar o cobiçado prêmio Bafta inglês. Isso, até a chegada ao Oscar, no dia 2 de março. O rendimento das conquistas foi formulado na base da extrema aplicação de profissionais irretocáveis.

Com mais de 100 projetos desenvolvidos, a VideoFilmes já carrega mais de 400 prêmios e se juntou, na produção, à RT Features, além da coprodução junto à Globoplay, Conspiração e Arte France Cinéma. Desde a caracterização dos personagens a cargo de Luigi Rocchetti, pesa a excelência de um trabalho que já conferido por 4 milhões de espectadores.

Singular no talento para organizar a ação dos atores e trabalhar quesitos como direção de arte, trilha sonora, edição e direção de fotografia, além do roteiro, o diretor Walter Salles não emplacou a indicação ao Oscar, mas já tem prêmios como o Robert Bresson, pelo conjunto da obra no Festival de Veneza e venceu prêmios com filmes em Cannes e Berlim.

Na relação com elementos como o silêncio e com a ausência, Salles contou que teve inspiração no pintor dinamarquês Vilhelm Hammershoi. Junto com a discrição no colorido dos figurinos, acusada por Cláudia Kopke. Há extrema solidez no time de Salles, que inclui o diretor de arte argentino radicado na França Carlos Conti, com trabalho de nível surpreendente, a exemplo do que fez em Na estrada e Diários de motocicleta.

Do último, repetiu o diretor de fotografia Adrian Teijido, argentino reconhecido por muitas obras como os longas Elis e Marighella, além da série A pedra do reino (de Luiz Fernando Carvalho). Com alternância de épocas, Teijido estipula usos dinâmicos do Super 8 e do 35mm, criando multiplicidade de gramaturas para imagens.

Verdadeiro manancial de informações e emoções, o escritor (além de filho de Rubens Paiva) e também roteirista Marcelo Rubens Paiva, entregou o livro que deu base ao filme roteirizado pela dupla conhecida pelos filmes de Karin Aïnouz, Murilo Hauser e Heitor Lorega.

O nível de condensação de personagens e dados dispostos na tela impressiona. Nisso, a perícia da montagem assinada por Affonso Gonçalves — que faz sutis malabarismos emocionais — traz incrível dobradinha. Por fim, junto com a trilha do australiano Warren Ellis, Ainda estou aqui reúne talentos sonoros que vão de Roberto Carlos a Juca Chaves, passando por Erasmo Carlos, e contempla músicas finíssimas como Jimmy, renda-se; É preciso dar um jeito, meu amigo; Açauã e Baby.

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Ricardo Daehn
postado em 11/02/2025 04:00
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