
Novos nomes emergem de gêneros diferentes e têm feito sucesso no Brasil recentemente. Artistas e bandas que têm em comum o fato de não trabalharem no nicho pop, lideranças femininas e o amor do público brasileiro. As cantoras Laufey, Samara Joy e a banda The Last Dinner Party são algumas representantes dessa novíssima cena que surge do alternativo, jazz, rock e conquistam a superfície, o chamado mainstream, de pouco a pouco.
A mais popular no Brasil é com certeza a jazzista Samara Joy. Porém, o motivo dessa popularidade não é o ideal. A cantora estadunidense ficou conhecida entre os brasileiros após ganhar o prêmio de artista revelação no Grammy 2023 em cima de Anitta e, posteriormente, por vencer de Milton Nascimento em uma categoria de jazz. "Sei que o pessoal estava torcendo para a Anitta e o Milton Nascimento quando ganhei o Grammy e eu juro que não estou tentando roubar nada de ninguém", brinca em entrevista ao Correio.
No entanto, o que poderia ser um ressentimento do público brasileiro se tornou um amor pela arte que Samara faz. Ela começou a ser ouvida pelos brasileiros e entre o fim de julho e o início de agosto deste ano faz a segunda passagem para shows no Rio de Janeiro e em São Paulo. A vencedora de cinco Grammys em cinco indicações também ganhou o coração do público nacional. "É um privilégio e uma honra ser amada no Brasil", comemora.
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Como retribuição a cantora demonstrou de volta o amor pelo país com uma regravação de uma das suas músicas favoritas do cancioneiro do país. Ela lançou Flor de lis (upside down), uma versão do clássico de Djavan cantada em português e em inglês. "Sou muito grata por ser abraçada pelo Brasil e de ter a oportunidade de gravar minha própria versão de Flor de Lis em português e em inglês", conta a artista que define a faixa como: "uma música muito bonita, apesar da história ser triste".
Outra artista com fortes influências da música brasileira é a cantora Laufey, islandesa, de ascendência chinesa e radicada nos Estados Unidos. Ela se encontrou em uma mistura de sons, mas viu as canções influenciadas pela bossa nova fazerem sucesso com o público no mundo inteiro. "É muito difícil me colocar em uma caixa. Tenho músicas mais jazz, mais bossa nova, algumas que soam clássicas e outras que têm uma base mais rock pop", declara a cantora em agenda de imprensa antes do Festival Popload em São Paulo.
Essas canções carregadas do estilo bossa nova são fruto de anos de estudo. Laufey passou anos em Berklee, a principal universidade voltada para música no mundo, localizada nos Estados Unidos. Lá, ela se capacitou como queria para escrever músicas com influência do gênero, mas foi a estrada e a maturidade que também elevaram o patamar das canções. "Sempre tentei soar mais autêntica o possível, sabendo que nunca faria parte da cena bossa nova. Dá para ver o quanto eu cresci nessa sonoridade", revela.
Esse trabalho foi revertido em uma grande quantidade de fãs pelo Brasil. No início de junho, Laufey tocou pela primeira vez no país quando foi uma das principais atrações do Popload Festival em São Paulo. Mesmo com Norah Jones, St. Vincent e Kim Gordon, ex-Sonic Youth, na line-up, a jovem islandesa de 26 trouxe mais público e também emoção. "O show no Brasil tem um peso maior para mim, porque eu me inspiro muito nessa cultura. Antes mesmo de eu vir para cá, esse lugar já era muito importante para mim", exalta a cantora. "Sempre senti que os comentários de 'come to Brazil' (venha para o Brasil em tradução literal) eram especialmente para mim porque eu tenho uma ligação com música e brasileira (risos)", completa em tom de brincadeira.
No final, o que resta para a cantora é a mesma gratidão de ser abraçada que Samara Joy mencionava. "É muito doido, eu nunca imaginaria que conseguiria isso, especialmente pelo tipo de música que eu faço. Significa muito para mim, eu quase não consigo acreditar", diz. "Não sei o que fiz para merecer isso, mas eu faço a música que é mais autêntica e natural para mim. Fazer sucesso com o que vem do meu coração é muito especial", acrescenta.
Quem também teve uma relação de surpresa ao ver o carinho dos brasileiros foi a banda inglesa The Last Dinner Party. Formado por Abigail Morris, Lizzie Mayland, Emily Roberts, Georgia Davies e Aurora Nishevci, o grupo se apresentou pela primeira vez no Brasil no final de maio durante o C6 Fest e presenciou um dos públicos mais apaixonados do evento. Fãs esperaram, ansiosamente, levaram trechos de letras impressos e jogaram balões para o alto para que elas fossem bem recepcionadas.
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"É maravilhoso estar aqui, o Brasil nos acompanha desde o início. Mesmo antes da gente ter mil seguidores no Instagram, já tinham brasileiros lá", lembra Georgia Davies, baixista da banda. As integrantes sentiram todo o calor brasileiro, principalmente porque já eram pedidas em eventos pelo país desde os primeiros singles que lançaram em 2023. "Nem sei como eles nos acharam, mas fico sempre muito feliz quando lembro que eles nos acharam", brinca em entrevista nos bastidores do festival brasileiro.
Parte de um cenário de rock alternativo, as britânicas se diferenciam muito do pop atual. Com vestimentas que parecem referências ao período rococó das artes visuais, sonoridade moderna e uma linguagem digna da atitude rockstar, elas conquistaram o público por meio da autenticidade. "Nós gostamos de escolher a dedo, roubar um pouquinho e brincar com as coisas que nos influenciam. Nós nunca quisemos recriar algo, nós pegamos o que gostamos para fazer algo novo", explica a vocalista Abigail Morris.
Por serem tão diferentes, elas sempre lidam com grande expectativas quanto ao trabalho. Mesmo antes do disco de estreia, Prelude to ecstasy, elas já tinham os olhos dos fãs e da crítica especializada à espreita. Entretanto, desde que estivessem juntas, conseguiriam passar por isso. "A pressão e a expectativa são aliviadas pelo fato de que estamos em grupo. Estar em uma banda é como viver em comunidade, isso ajuda muito na pressão", avalia a tecladista Aurora Nishevci. "A gente sabe que não está sozinha, nós apoiamos umas as outras, nunca estamos sozinhas e sabemos como nos sentimos", complementa.
Mulheres no comando
A cena dominada por mulheres talentosas e populares é fruto de anos de trabalho para que os acessos fossem mais possíveis e que as artistas pudessem ter mais controle da carreira para, justamente, fazerem música de forma diferente. "As mulheres antes da gente tiveram que sacrificar a própria independência pela carreira, ou a própria carreira pela independência. Era algo muito grande poder falar sobre esses problemas e essa falta de igualdade", reflete Samara Joy. "Graças a esse sacrifício, nós podemos mais, somos mais livres", adiciona.
A jazzista destaca que o mais importante é que o caminho para o ápice seja em conjunto, para que todo esse trabalho das antecessoras não seja para poucas colherem os frutos. "É uma responsabilidade e um privilégio grande que temos hoje de poder erguer umas às outras em direção ao topo nesse mercado que parece tentar nos dividir e nos fazer brigar", pondera. "A geração mais jovem é muito bonita de se compartilhar", ressalta.
Saiba Mais
Fonte de talentos
A cena está bem representada por Samara Joy, Laufey e The Last Dinner Party, mas o Correio apresenta outros nomes que têm se destacado nos últimos tempos e já correm por fora para alcançar o mainstream.
Clairo
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