o caminho do samurai

5 anos de Ghost of Tsushima: como jogo relata a experiência suprema de um samurai

Jogo traz um clássico que mistura diversos estilos para criar um combate dinâmico acompanhado de uma trama histórica sobre a invasão mongol ao Japão

Ghost of Tsushima chegou em 2020 e completa 5 anos de lançamento, o jogo traz uma das experiências mais satisfatórias em quesito combate, não mimetizando, mas homenagendo o tradicional e respeito mundo cultural dos guerreiros japoneses.  -  (crédito: Reprodução/Sucker Punch)
Ghost of Tsushima chegou em 2020 e completa 5 anos de lançamento, o jogo traz uma das experiências mais satisfatórias em quesito combate, não mimetizando, mas homenagendo o tradicional e respeito mundo cultural dos guerreiros japoneses. - (crédito: Reprodução/Sucker Punch)

Os samurais de Tsushima se reúnem, unidos sob o comando do Lorde Shimura. O motivo da convocação é crucial para o futuro da ilha: os guerreiros se preparam para interceptar a chegada dos mongóis ao país, ainda na praia para resguardar, e proteger seu povo da ameaça. 

Jin Sakai, sobrinho do Lorde Shimura é o último membro restante de seu clã. Ele foi criado nos caminhos do guerreiro pelo tio, que atuou como figura paterna, após a morte de seu pai em combate. Jin luta ao lado do mestre para defender a ilha, mas a defesa falha e o Lorde Shimura é capturado pelo algoz e neto de Genghis Khan, Kothun Khan, que tem um punho de ferro tão cruel quanto seu antepassado.

Derrotado e dado como morto, Jin parte em uma jornada para reunir aliados com a missão de salvar seu tio e provar que não só é um verdadeiro samurai, mas uma força vingativa da ilha, o Fantasma de Tsushima. 

Lançado pela Sucker Punch Productions — responsável pela franquia do guaxinim ladrão, Sly Cooper e a trilogia de super humanos, Infamous. — em 17 de julho de 2020, Ghost of Tsuhima (O Fantasma de Tsushima, em tradução livre) traz um clássico conto de samurai para dentro do mundo dos games, misturando diversos estilos de jogabilidade para criar um combate dinâmico acompanhado de uma trama histórica sobre a invasão mongol ao Japão.

O próximo pass(ad)o

 

A história do Japão foi um dos principais pilares de como estabelecer a trama da Sucker Punch.
A história do Japão foi um dos principais pilares de como estabelecer a trama da Sucker Punch. (foto: Reprodução/Sucker Punch)

Com nove anos focados apenas na série de jogos, Infamous, a Sucker Punch queria muito seguir em frente depois da conclusão da expansão de Infamous: Second Son. Contando com 160 funcionários em 2014, a empresa queria produzir um título focado em combate e principalmente em mundo aberto que desse liberdade ao jogador. Várias temáticas foram pensadas para o novo jogo, piratas, guerreiros escoceses e até os três mosqueteiros. 

Foi quando surgiu a ideia de um jogo focado em um samurai durante a era do Japão feudal. Depois de muita pesquisa, o time se deparou com um fato histórico que seria o pontapé para a trama de Ghost of Tsushima: a Invasão Mongol das ilhas japonesas, em especial Tsushima. 

No evento histórico, o neto de Genghis Khan, Kublai Khan, lidera uma frota de navios pelo Oceano Pacífico, utilizando do poderio militar para conquistar mais território para seu império. Em 4 de novembro de 1274, depois de ter conquistado a Coreia, a frota de Khan partiu para o Japão com mais de 20 mil soldados, entre mongóis, chineses e coreanos, prontos para luat.

Eles aportaram na praia de Komoda, na ilha de Tsushima. So Sukekuni, o Jitodai (Espécie de governante) de Tsushima, reuniu às pressas 80 samurais para uma batalha impossível, após horas de conflito, as forças japonesas cederam e terminaram todos mortos. Com poderio militar mais forte e táticas complexas demais para os samurais, os guerreiros japoneses ficavam em desvantagem em combate com o império mongol.

Em menos de uma semana, os mongóis haviam tomado a ilha de Tsushima, matando aos montes e, logo em seguida, partiram para ilha mais próxima, Iki. Quando chegaram a terceira maior ilha do Japão, Kyushu, onde ficava a capital do país, à época, foram combatidas pelas forças militares japoneses na baía de Hakata.

Mas depois de muitas baixas, faltas de recursos e rebeliões dos “aliados” coreanos e chineses, os mongóis foram forçados a recuar para o litoral, onde uma tempestade destruiu uma grande parte das embarcações, encerrando a invasão de vez. O fenômeno recebeu o nome de “Vento Divino” ou Kamikaze.

Kublai Khan tentou algumas vezes invadir o arquipélago japonês, mas nunca avançou tanto quanto da primeira vez, já que os soldados japoneses começaram a ficar cientes do estilo de combate dos mongóis, e finalmente encerrou as tentativas em 1281, com uma investida mais séria, que resultou em um desastre pior para o lado dos mongóis. A história ficou registrada como um marco de força do Japão, e pela ajuda “divina” do Deus do Vento com a tempestade. 

A mão de Akira Kurosawa

O diretor visionário imprimiu um estilo próprio em suas obras, o que inspirou muitas pessoas a criar, incluindo a ideia do samurai ideal da Sucker Punch.
O diretor visionário imprimiu um estilo próprio em suas obras, o que inspirou muitas pessoas a criar, incluindo a ideia do samurai ideal da Sucker Punch. (foto: Reprodução/Sucker Punch)

Akira Kurosawa, cineasta japonês, é conhecido por fazer vários filmes clássicos do cinema mundial, que trazem como personagens principais os guerreiros do Japão Feudal. As obras foram também um dos pilares inspiradores para Ghost of Tsushima surgir. Os Sete Samurais, Yojimbo, Sanjuro e Rashomon são alguns dos filmes dirigidos por Kurosawa focados na era dos samurais. 

Nate Fox, diretor criativo da Sucker Punch Productions, disse em uma entrevista para a Game Informer que o time se inspirou nos títulos de Kurosawa, usando a definição de samurai do diretor como uma linha guia para os guerreiros: “Acho que os samurais têm muita dignidade e quietude que você não vê em outros heróis de ação, eles são geralmente pessoas de poucas palavras, quando ameaçam alguém, não fazem para aparecer, são bem diretos, quando eles agem é com a eficiência de um raio".

"Também no filme Os Sete Samurais, que para mim é o pilar de como enxergo os samurais, eles são esses guerreiros de elite que mostram um respeito enorme por todos em volta deles e recebem muito respeito, lutam generosamente com o coração, como você não vê em nenhuma situação de luta de espadas ocidental, isso que faz eles tão admiráveis”, completou. 

Não é à toa que o diretor foi homenageado com um modo de jogo que é inteiramente preto e branco e com a dublagem japonesa, o modo Kurosawa, feito pela Sucker Punch para reviver o tom dos filmes de samurai. 

Desenvolvimento

Jogo passou por um longo processo de 6 anos, desde encontrar o tema para o título até o lançamento.
Jogo passou por um longo processo de 6 anos, desde encontrar o tema para o título até o lançamento. (foto: Reprodução/Sucker Punch)

Além de tentar trazer a ideia do samurai de Kurosawa para os games com fidelidade e respeito, o evento histórico da primeira invasão serve como plano de fundo para a trama de Ghost of Tsushima, mostrando Jin e o Lorde Shimura lidando com a chegada de Khotun Khan na abertura do título. 

O jogo levou 6 anos de produção, com um foco incontestável em criar um mundo vivo que revisitasse os horrores da invasão brutal dos mongóis ao Japão em contraste com as belezas naturais de Tsushima. O time de desenvolvimento viajou até a ilha para ver de perto e ter como referência a verdadeira riqueza natural de Tsushima, conhecendo por intermédio dos moradores, arte, festivais e as tradições da cultura local.

Nate Fox apontou durante uma entrevista que um dos pontos mais importantes para eles de mostrar foi a ambientação, que tinha de ter cor presente em um nível quase irreal. “Não é necessariamente realista, mas cria algo impactante na cabeça enquanto você fica andando para cima e para baixo nessas montanhas em seu cavalo”, disse o diretor ao vídeo especial da PlayStation. 

Focado em manter o jogador imerso no mundo, Ghost of Tsushima praticamente não tem uma “HUD” (Interface mostrando dados do personagem como a vida, os poderes e equipamentos), a ideia do jogo era ser o menos “intrusivo” possível para o jogador, tendo informações da forma mais simples possível. Brian Fleming, co-fundador da Sucker Punch, disse em uma entrevista sobre a escolha de reduzir as informações em tela: “A arte, o jeito como as construções são aparelhadas, tudo no Japão tende a celebrar o espaço negativo. Não é nada desorganizado, quer simplicidade, então isso tinha que irradiar em tudo”.

O combate do jogo foi todo trabalhado para mimetizar o estilo de luta verdadeiro de um samurai, graças a tecnologia de captura de movimento. Dois samurais da atualidade, Ryusetsu Ide e Masako Kuwami, ajudaram o time de animação da Sucker Punch a atingir um nível maior de fidelidade, no que seria o principal elemento dentro do novo título.

Um dos fatores dessa interface mais limpa é o mapa ser um elemento fora da tela, com o sistema do vento como o guia do personagem, sem ter que direcionar ou poluir a tela com um traço exato de onde o jogador deve ir. 

Apresentado na E3 de 2018, Ghost of Tsushima, assustou muitos jogadores, não só por seus gráficos demonstrando o potencial da nova geração com o PlayStation 4, mas trouxe uma missão completa do jogo, mostrando Jin em ação. O novo título da Sucker Punch chamou atenção por conta de sua fidelidade com as histórias clássicas de samurai, mostrando um Japão feudal concreto e vivo, e acima disso, um guerreiro tradicional se erguendo para defender os mais fracos.

O combate na prévia é extremamente semelhante ao visto no produto final, sendo o maior diferencial entre o trailer e o jogo pronto, a coloração, que se tornou mais viva. 

Depois da grande sequência de ação, durante a tentativa falha de Jin de salvar seu tio e o jogo de te ensinar todos os comandos necessários durante essa parte de tutorial, o jogador seria liberado direto no mundo aberto, sem a sequência de abertura do título. A ideia veio depois de um feedback para a equipe de que faltava alguma coisa na conclusão do prólogo, Jason Connell, artista principal da equipe, trabalhou então para criar uma sequência marcante na abertura do jogo. 

Foi Connell que encontrou o lugar perfeito para fazer essa conclusão, trabalhou em que tempo estaria no céu, como Jin entraria da floresta para o campo em uma volta a cavalo, escolhendo tudo nos mínimos detalhes, principalmente para a música encaixar perfeitamente com o momento em que o samurai chega ao local. Tudo isso para introduzir o jogador de forma épica ao mundo aberto que ele estava prestes a experienciar. 

O caminho do samurai 

Jin sacrifica sua honra para proteger o seu povo.
Jin sacrifica sua honra para proteger o seu povo. (foto: Reprodução/Sucker Punch)

Depois da derrota na praia de Komoda, Jin é resgatado por Yuna, uma arqueira habilidosa que trata os ferimentos. Juntos, eles tentam um arriscado ataque contra Khotun Khan, que novamente dá errado e Khan joga o samurai da ponte em que batalhavam, acreditando em sua morte. 

Depois de ser salvo por Yuna uma vez mais, Jin parte em uma jornada para reunir aliados, construir um exército forte o suficiente para salvar o Lorde Shimura. Ele encontra um sensei do arco, Ishikawa, que lhe ensina técnicas de disparo a distância.

A senhorita Masako Adachi, esposa de um dos samurais falecidos na batalha de Komoda, jura a espada para Sakai em troca de vingança. Kenji, um vendedor de saque malandro, Ryuzo, um antigo amigo de Jin que se tornou um ronin (Um samurai sem mestre) fundando um grupo de chapéus de palha que lutam para não morrer de fome em meio a guerra. E, por fim, o irmão de Yuna, o ferreiro talentoso Taka, sendo quem produz o gancho que permite Jin acessar a base de Khutun pelas montanhas. 

Ao longo de sua jornada, Jin vai aprendendo a agir fora do Bushido (O código dos samurais) percebendo que o inimigo não luta limpo. Então, ele como protetor daquela terra, também não pode seguir regras. Assim, com as habilidades de espada e diversos itens para auxiliar o combate, como bombas de fumaça, explosivos e kunais, Jin vai criando sua lenda de um espírito vingativo, nascido para expulsar os mongóis do Japão. Sistema esse que gera pontos para o jogador melhorar as habilidades de combate e até de exploração. 

Graças a falta de uma interface, o guia do jogador pelo mundo é o vento, e a direção que ele aponta mostra o caminho até o próximo objetivo. Como dito anteriormente, o vento guia pode ser utilizado pelo jogador durante a exploração, com ele dando indicações focadas em algum objetivo específico, como itens de customização, aumento para o medidor de cura, aumentar a vida de Jin ou receber símbolos sagrados que concedem bônus ao personagem. 

O jogo ainda conta com golpes especiais, os quais são adquiridos através de missões paralelas, esses são os Contos de Tsushima. As lendas presentes no jogo, que dão novas habilidades ao Jin, foram inspiradas em contos reais que os moradores de Tsushima relataram aos desenvolvedores e que habitam aquela crença cultural da ilha, envolvendo criaturas mitológicas e feitos incríveis. O título é dividido em três atos, com cada um deles liberando um novo pedaço da ilha para explorar e expandir o mapa, além de introduzir novos NPCs e lendas.

Ghost of Tsushima ainda recebeu um modo online um tempo depois de seu lançamento, chamado apenas de Lendas. Nele, o jogador e mais três amigos enfrentam ondas de inimigos, com equipamentos customizados pelos próprios jogadores, recebidos ao completar as missões até o fim. Nesse modo, os inimigos ganharam variações próprias e desafiadoras até para os experientes do modo história, assim como o jogador também recebeu novas possibilidades de jogabilidade com quatro tipos diferentes de classes para escolher que tinham habilidades diferentes.

E no ano seguinte, Ghost of Tsushima recebeu uma versão do diretor, com isso o jogo ganhou uma expansão, introduzindo uma nova região em apuros com ameaça dos mongóis, a Ilha Iki, uma área completamente nova para o jogador explorar, acompanhado de uma história inédita. Novos tipos de inimigos foram adicionados, mais itens customizáveis também chegaram, além de revelar mais sobre o passado do clã Sakai no enredo. 

Sequência espiritual

O jogo tem uma sequência anunciada que chega ainda em 2025.
O jogo tem uma sequência anunciada que chega ainda em 2025. (foto: Reprodução/Sucker Punch)

Após o grande sucesso do primeiro jogo, era questão de tempo até a Sucker Punch anunciar seu sucessor. Em setembro de 2024, Ghost of Yotei foi mostrado ao público, trazendo uma nova protagonista, uma nova região para explorar e uma história não mais de liberdade, mas de vingança. 

Uma gangue de foras da lei conhecidos como os Seis Yotei tiraram tudo de Atsu. Mataram a família e a deixaram para morrer, presa a uma árvore ginkgo do lado de fora de sua casa. Mas Atsu sobreviveu. Ela aprendeu a lutar, matar e caçar, e depois de todos esses anos longe ela retornou para casa com uma lista com seis nomes: A Cobra, O Oni, A Raposa, A Aranha, O Dragão e Lord Saito.

O novo jogo promete ser uma experiência no mesmo nível que o anterior, trazendo a exploração livre e o combate primoroso de volta, além de novidades como mais material inspirado em grandes diretores do gênero de samurai, Takashi Miike, diretor de 13 Assassinos, que vai tornar os combates com uma câmera mais próxima e aumentar a quantidade de sangue e lama em cena. E o diretor Shinichiro Watanabe, conhecido pelos animes Cowboy Bebop e Samurai Champloo, em modo especial, o jogador vai ouvir uma seleção especial de músicas Lo-fi durante sua jornada.

Ghost of Yotei vai ser lançado exclusivamente para PlayStation 5, chegando oficialmente em 2 de outubro deste ano.

Siga o canal do Correio no WhatsApp e receba as principais notícias do dia no seu celular

Enquanto isso, para os curiosos que nunca experienciaram o jogo ou apenas desejam celebrar a comemoração retornando ao Japão da Sucker Punch, Ghost of Tsushima está disponível para PlayStation 4, PlayStation 5 e PC.

  • Jogo passou por um longo processo de 6 anos, desde encontrar o tema para o título até o lançamento.
    Jogo passou por um longo processo de 6 anos, desde encontrar o tema para o título até o lançamento. Foto: Reprodução/Sucker Punch
  • Jin sacrifica sua honra para proteger o seu povo.
    Jin sacrifica sua honra para proteger o seu povo. Foto: Reprodução/Sucker Punch
  • A história do Japão foi um dos principais pilares de como estabelecer a trama da Sucker Punch.
    A história do Japão foi um dos principais pilares de como estabelecer a trama da Sucker Punch. Foto: Reprodução/Sucker Punch
  • O diretor visionário imprimiu um estilo próprio em suas obras, o que inspirou muitas pessoas a criar, incluindo a ideia do samurai ideal da Sucker Punch.
    O diretor visionário imprimiu um estilo próprio em suas obras, o que inspirou muitas pessoas a criar, incluindo a ideia do samurai ideal da Sucker Punch. Foto: Reprodução/Sucker Punch
  • O jogo tem uma sequência anunciada que chega ainda em 2025.
    O jogo tem uma sequência anunciada que chega ainda em 2025. Foto: Reprodução/Sucker Punch
  • Um dos pergaminhos que mostra uma batalha em Hakata e principalmente sua muralha defensiva. A obra data de pelo menos 1293.
    Um dos pergaminhos que mostra uma batalha em Hakata e principalmente sua muralha defensiva. A obra data de pelo menos 1293. Foto: Reprodução/Moko Shurai Ekotoba
  • O pergaminho mostra os samurais abordando embarcações dos mongóis, retrando o ataque de 1281.
    O pergaminho mostra os samurais abordando embarcações dos mongóis, retrando o ataque de 1281. Foto: Reprodução/Moko Shurai Ekotoba
  • Google Discover Icon
postado em 17/07/2025 17:10 / atualizado em 17/07/2025 17:11
x