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Clarissa Pinheiro traz leveza às sombras da trama macabra de "Dias perfeitos"

A atriz pernambucana Clarissa Pinheiro vive Marli, a vizinha que traz um respiro à trama macabra de "Dias perfeitos", nova série do Globoplay baseada em best-seller de suspense de Raphael Montes: "Intensidade, essa é a palavra"

Clarissa Pinheiro, atriz -  (crédito: Arquivo pessoal)
Clarissa Pinheiro, atriz - (crédito: Arquivo pessoal)

Clarissa Pinheiro, com seu sorriso largo e olhos que guardam histórias, está de volta à telinha e às telonas. Após uma participação na série original Globoplay Pablo e Luisão — que conta a história da família do humorista Paulo Vieira —, agora ela está em Dias perfeitos, a nova série da plataforma de streaming da Globo, baseada no best-seller de Raphael Montes. Nos cinemas, a atriz poderá ser vista no longa O último azul, filme de Gabriel Mascaro, protagonizado por Rodrigo Santoro, que concorre a uma vaga no Oscar.

Clarissa falou dos caminhos que a levaram até Dias perfeitos, onde ela agora se debruça sobre Marli, uma vizinha sensível que percebe, sob a superfície da normalidade, os fios de uma teia perigosa. "Ela sente que algo não está certo, mas não tem abertura para interferir", explica a pernambucana de 42 anos, mergulhando na psicologia da personagem.

Marli não é uma personagem qualquer. Pintora de feira, leitora de cartas, mulher que observa o mundo com um misto de curiosidade e cautela. A preparação veio da observação do cotidiano — "daqueles instantes em que pressentimos o perigo, mas hesitamos diante da linha tênue entre o cuidado e a invasão".

E, então, há o jogo de olhares com Téo (Jaffar Bambirra), o protagonista perturbador da trama. "A presença dele balizou os limites da Marli", revela a atriz. "Esta série vai ser daquelas que a gente termina um episódio querendo ver o outro e pensando se tem fôlego para tanto. Intensidade, essa é a palavra", define a veterana, que ganhou projeção nacional em 2019 ao fazer parte do elenco da novela Amor de mãe, na pele de Penha, uma empregada doméstica que, ao longo da trama, acabou se tornando uma das grandes vilãs. 

Ao lado de Débora Bloch, que interpreta a mãe do psicopata Téo, a amizade das personagens ganhou tons mais orgânicos. "Já trabalhamos juntas antes, e isso traz uma cumplicidade que se reflete na tela", diz Clarissa, com um brilho de admiração ao mencionar a colega com quem dividiu os créditos em Justiça (2016). "Uma honra, na verdade, trocar assim de pertinho com essa fera que sigo admirando."

O riso e o drama

Apesar da densidade da narrativa — que aborda violência, obsessão e segredos —, Marli traz um sopro de leveza. "De fato, a Marli traz um respiro leve para a trama, acho que pela própria construção dentro da história — a vizinha que busca distrair a amiga das preocupações de casa — mas também pelo humor estar, de alguma forma, nas minhas entranhas", admite Clarissa, com a tranquilidade de receber a característica cômica atribuída a ela, mas confessando que flerta bastante com o drama. "Essa série foi legal porque explora essas duas vertentes", reforça a atriz, que, em seu currículo constam, ainda, a novela Mar do sertão (2022) e as séries Onde nascem os fortes (2017) e Sob pressão, na Globo. 

Quando o assunto é violência contra a mulher, Clarissa fala com a urgência de quem conhece o peso do tema. "A violência contra a mulher vem de uma cultura extremamente machista e marcada pelo medo das vítimas em denunciar. Infelizmente, a sensação de que 'não vai dar em nada' alimenta a covardia de agressores. É necessário agilizar processos, aplicar medidas protetivas com rigor", argumenta.

"O silêncio das vítimas é também reflexo de uma sociedade que naturaliza a violência e descredibiliza mulheres. É preciso trabalhar desde cedo, nas escolas, com campanhas de mídia, formação de professores e políticas públicas que ensinem respeito, igualdade e empatia. Romper o silêncio, no entanto, exige que a vítima saiba que não está sozinha — e romper a impunidade exige que o agressor tenha certeza de que não ficará impune", defende a atriz.

Atualmente, Clarissa também encanta na série Pablo e Luisão como a dançarina transformada em Monga, um papel que exigiu ilusão de ótica e entrega física. "O efeito de transformação da dançarina na Monga é uma coisa que eu só pude descobrir graças a essa experiência! Incrível a ilusão de ótica, o jogo de espelhos, essa magia de efeitos criados há tanto tempo, em uma época em que os recursos visuais eram tão limitados. Fora que as aventuras da família do Paulo Vieira são uma diversão em saber, imagina dar corpo a tudo isso!", derrete-se ela.

Enquanto Dias perfeitos vem para arrebatar o público, Clarissa mira novos horizontes: dois projetos teatrais e a codireção de um curta-metragem. Ela — que atuou em vários filmes premiados, como Casa grande (2014) e Aquarius (2016) — não esconde a empolgação com a estreia de O último azul, filme de Gabriel Mascaro que concorre a uma vaga no Oscar. "É um orgulho ver o cinema pernambucano ganhando o mundo", diz, com um sorriso que carrega a resistência e a alegria de quem sabe que sua arte é, acima de tudo, um movimento contínuo. 

"É um trabalho que tenho muito orgulho de ter feito parte. Feliz pelo nosso cinema brasileiro e, mais ainda, pela sétima arte pernambucana. Alegria em dobro", finaliza a atriz que, entre luzes e sombras, risos e dramas, está sempre em busca da emoção da próxima cena.

 


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postado em 18/08/2025 17:20 / atualizado em 18/08/2025 18:41
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