LIVRO INFANTIL

"Quem limpa?" Livro infantil traz potente mensagem sobre economia do cuidado

Na maioria dos lares os cuidados domésticos são conduzidos, prioritariamente, pelas mulheres. Refletir sobre as responsabilidades de cada um é o primeiro passo em busca de uma sociedade mais justa

Livro "Quem limpa" de Ana Cardoso e Bianca Santana foi publicado pela Companhia das Letrinhas e reflete sobre cuidados domésticos e equidade de gênero  -  (crédito: Jaqueline Fonseca / CB/DAPress)
Livro "Quem limpa" de Ana Cardoso e Bianca Santana foi publicado pela Companhia das Letrinhas e reflete sobre cuidados domésticos e equidade de gênero - (crédito: Jaqueline Fonseca / CB/DAPress)

A divisão das tarefas domésticas e a discussão sobre economia do cuidado são temas fundamentais na construção de uma sociedade mais justa e, por isso, devem ser assuntos para todos os ambientes, principalmente dentro de casa. Essa temática tem ganhado força nos últimos anos e nos leva a repensar papéis, posições e responsabilidades quando o assunto é o cuidado, especialmente no que tange os afazeres domésticos. 

Redesenhar estruturas e desfazer fundamentos equivocados que perduram há várias gerações é uma tarefa para todos que buscam equidade e justiça social. 

Globalmente estima-se que as mulheres são responsáveis por 75% do trabalho de cuidado não remunerado e, segundo a FGV, elas dedicam o dobro de tempo aos afazeres domésticos que os homens. Isso sobrecarga quem cuida e pode impactar diretamente no desenvolvimento acadêmico ou formal das mulheres, além de perpetuar um entendimento — há muito tempo ultrapassado — de que as mulheres devem cuidar do lar enquanto os homens trabalham.

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Você já refletiu sobre isso? Na sua casa quem limpa e quem cozinha? 

O livro infantil "Quem limpa" de Bianca Santana e Ana Cardoso apresenta essa reflexão em uma potente mensagem sobre economia do cuidado para crianças. O livro curto e composto por frases simples, de fácil identificação para qualquer idade, levanta a inquietação necessária para o tema apresentando imagens fortes de casas bagunçadas, tomadas pela sujeira e pelos insetos. O livro foi lançado em 2025 pela Companhia das Letrinhas. 

No começo da história são apresentadas casas sujas com todo tipo de lixo acumulado. Na sequência, meninos aparecem jogando videogame ou assistindo televisão. Em algumas casas, mesmo sem cuidado coletivo, as casas ficam limpas e organizadas e, nestas, as mulheres dominam a imagem de quem limpa e cuida.

Ana Cardoso aponta que a escolha dessas imagens foi proposital com o objetivo de ajudar os pequenos leitores a identificarem a situação dentro dos próprios lares e, a partir dessa identificação, obter uma visão crítica da situação e cooperar para uma sociedade mais justa.

"As mulheres são as maiores responsáveis pelo cuidado do trabalho doméstico dentro das casas por conta de uma estrutura que ainda é muito machista, muito patriarcal, que coloca esses determinados papéis de gêneros como a mulher a responsável pela limpeza. [...] É uma maneira didática para ela gerar uma crítica a respeito de quem está fazendo esse papel e como é importante que para uma sociedade mais igualitária que todo mundo possa participar e compartilhar de todas as tarefas. Assim, ninguém fica sobrecarregado. Se você está sobrecarregando alguém, provavelmente alguém está fazendo o seu trabalho", comentou a ilustradora do livro ao Correio

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    Livro "Quem limpa" de Ana Cardoso e Bianca Santana foi publicado pela Companhia das Letrinhas e reflete sobre cuidados domésticos e equidade de gênero Jaqueline Fonseca / CB/DAPress
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    Livro "Quem limpa" apresenta potente mensagem sobre economia do cuidado e reflexão sobre como todos devem colaborar com o bem-estar coletivo Jaqueline Fonseca / CB/DaPress
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    Livro "Quem limpa" apresenta potente mensagem sobre economia do cuidado e reflexão sobre como todos devem colaborar com o bem-estar coletivo Jaqueline Fonseca / CB/DaPress

Outro aspecto interessante do livro, que levanta reflexão, é a apresentação de imagens de baratas, ratos e outros insetos em locais onde se espera aconchego, como o quarto ou a cozinha. Conforme a sujeira se acumula, os insetos tomam conta. Uma imagem não desejável que gera aversão e repulsa, mesmo nos pequenos leitores. 

Ana explica que esses animais foram escolhidos para comunicar e demonstrar claramente como hábitos de sujeira não combinam com nossa rotina e despertar nas crianças essa vontade de mudança. "Socialmente a gente já entendeu que esse tipo de inseto não combina com a rotina humana porque a gente culturalmente desenvolveu o hábito da limpeza. Então é muito importante que você entenda que como sociedade, como uma questão de saúde, até mesmo da nossa saúde mental, o nosso bem-estar, a gente precisa estar longe desses seres que vivem em ambientes que não são como os nossos. Então, trazer essa repulsa para as crianças é justamente para ela entender que ninguém quer uma barata andando no meu quarto, porque o meu quarto é limpo. Eu não moro num esgoto", reflete Ana. 

A história termina, como uma boa história para crianças deve acabar, com uma mensagem forte uma imagem eficaz: uma casa onde o cuidado faz parte da vida de todos. Neste ambiente crianças, adultos, homens e mulheres se ajudam e buscam um ambiente equilibrado e bem cuidado, ainda que sem perfeição. 

Compartilhar o cuidado e garantir que as próximas gerações tenham consciência de que todos que vivem em uma casa podem ajudar no bem-estar coletivo é fundamental para que possamos caminhar para conquistar a equidade de gênero e qualidade de vida de forma mais ampla para todas as pessoas. 

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postado em 18/08/2025 15:04 / atualizado em 18/08/2025 15:04
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