
Nascida e criada no subúrbio de Sorocaba, cidade do interior de São Paulo, a empreendedora e artista Raissa Leme, 28 anos, passou por vários desafios e rompeu barreiras sociais, culturais e de gênero para hoje ocupar um dos setores mais competitivos — e masculinos — do mercado digital: o dos games. Hoje, Raissa está à frente de um estúdio de tecnologia, o Mother, que fica localizada em Nova York (EUA). A equipe se prepara para o lançamento de Le zoo.
A hoje empresária começou no mundo da moda, desfilou para marcas de grife como Louis Vuitton e estrelou campanhas para Calvin Klein e Revlon, isso tudo abriu diversas portas, mas também a expôs ao racismo estrutural. “A maior dificuldade foi acreditar que eu poderia estar aqui, liderando um estúdio e criando algo tão inovador”, desabafa Raissa.
O Mother surgiu em parceria com a sócia Kelsey Falter. A dupla retirou dinheiro das poupanças para fundar o estúdio. A ousadia deu resultado: com cerca de R$ 30 milhões arrecadados e destinados ao desenvolvimento de Le zoo.
Mas o que faz o Le zoo se diferenciar de outros games? O conceito.
O game coloca o jogador em um parque temático multidimensional, onde existem três reinos e cinco casas. O player pode participar de minigames, completar missões épicas e aproveitar momentos de pura contemplação. “O verdadeiro desafio é encarar a si mesmo, diante das reflexões, perguntas e experiências, que surgem no caminho”, explica Raissa.
Outro diferencial é a aplicação de conceitos da neurociência. O Mother busca impactar a neuroplasticidade das pessoas através dos jogos, ou seja, utilizar ciclos de ação e resposta para o cérebro se reorganizar. Como por exemplo, os momentos de surpresa em que você percebe que nunca havia pensado em algo óbvio.
A maternidade de Raissa atravessou o processo criativo do jogo, trazendo um olhar mais sensível e a ideia de que expandir a mente também é um ato de acolhimento. A gestação do primeiro filho, Rio, mudou a percepção do jogo “Passei a olhar para o jogo de outra forma: não só como um espaço de diversão, mas como um universo capaz de acolher complexidades”, relata.
Chegar onde chegou não foi fácil para Raissa. A experiência no exterior, desde os 16 anos, quando se mudou para a China — e passou por outros países como Líbano, África do Sul, Itália —, todos esses lugares formaram uma empreendedora cosmopolita, mas que nunca abandonou as raízes.
Le zoo é apenas o começo, segundo Raissa. O Mother tem o propósito de criar aplicações que ajudam as pessoas a refletirem. “Estamos construindo experiências que, na superfície, parecem brincadeiras, mas que, em profundidade, carregam um poder de transformação”, detalha.
Para as mulheres, que assim como Raissa, sonham em ocupar espaços majoritariamente masculinos, fica a dica: “Não espere o convite. Crie o seu próprio espaço. Acredite no seu potencial e não deixe que nada limite os seus sonhos”.
*Estagiária sob supervisão de Ronayre Nunes
Diversão e Arte
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Revista do Correio