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Múltipla artista, Evelyn Castro afirma: "Quero fazer tudo ao mesmo tempo"

Evelyn Castro iniciou na tevê como cantora no reality show "Fama", brilhou como comediante no Porta dos fundos e destaca-se como atriz em humorísticos como "Tô de Graça", novelas como "Êta mundo melhor!" e filmes como "Caindo na real"

Evelyn Castro, atriz e cantora -  (crédito: Jhonne de Oliveira)
Evelyn Castro, atriz e cantora - (crédito: Jhonne de Oliveira)

Evelyn Castro é muitas em uma só. A cantora que surgiu para o grande público no reality Fama (2005); a atriz que encontrou no teatro musical o despertar do sonho de infância; a comediante que se tornou rosto familiar no humor televisivo; a protagonista de cinema que encara papéis desafiadores; a atriz que se destaca em novelas; e a mãe que, por trás de todos esses papéis, equilibra a vida com a intensidade de quem não sabe — nem quer — caber em uma única definição.

Hoje, vivendo a personagem Zenaide em Êta mundo melhor!, novela das 18h da Globo, Evelyn se consolida como uma das figuras mais completas da cena artística brasileira. Mas sua trajetória é marcada por curvas, reinvenções e uma busca incessante por verdade — seja no palco, seja diante das câmeras, seja no microfone.

Quando Evelyn se lançou no Fama, há 20 anos, era uma jovem cantora com sede de palco. O reality — do qual foi vice-campeã — foi sua vitrine inicial, mas também a primeira encruzilhada. "Ali, eu era cantora e consegui me consolidar enquanto atriz", reflete. O deslocamento de foco não apagou sua relação com a música, mas trouxe novas inquietações. "Ainda tenho muita coisa para viver na música. Já passei por altos e baixos, já desanimei, mas sigo tentando entender quem sou eu nesse lugar."

Essa relação pendular se traduz na sua própria obra. Nos musicais, encontrou a ponte entre o canto e a atuação. Não à toa, viveu — ou melhor, celebrou — obras de gigantes como Tina Turner, Tim Maia e Cássia Eller. Evelyn não os imitou; os encarnou em cena. "Eu não fiz Tina Turner, eu vivia a obra dela. Foi um enorme presente homenagear artistas que me influenciaram tanto", defende. A experiência foi formadora em múltiplos sentidos. Ao lado de João Fonseca, diretor que ela considera sua verdadeira escola, reencontrou a atriz que sempre esteve dentro dela. "Quando me perguntam qual a minha formação, eu digo: é João Fonseca. Foi ele quem me moldou."

E, ao dar voz a artistas de timbres singulares, entendeu também os próprios limites e singularidades. "Ter uma voz única é presente e desafio ao mesmo tempo, porque em musicais da Broadway, muitas vezes, o padrão é outro. Mas aprendi a transformar isso em força."

Evelyn Castro
Evelyn Castro (foto: Jhonne de Oliveira)

O riso como ofício sério

Se a música lhe deu chão e o teatro musical lhe devolveu o sonho, o humor foi o território que a popularizou. Evelyn é presença cativa no Porta dos fundos e no sitcom Tô de Graça, experiências que considera complementares.

No Porta, a atriz de 44 anos aprendeu o rigor do audiovisual: improviso certeiro, tempo de piada, texto decorado em segundos, tudo diante de um time de comediantes que ela não hesita em chamar de mestres. "A grande formação que tive diante das câmeras veio dali. Eu sou fã de cada colega que passa pelo Porta."

Já em Tô de Graça, o aprendizado foi outro: a liberdade. Sob a batuta de Rodrigo Santana e em cena com Isabelle Marques e Andy Gercker, Evelyn mergulhou no improviso de quem se conhece há décadas. "Eles já têm quase 30 anos de convivência e me ensinaram essa intimidade. Ali aprendi a improvisar com naturalidade, a trazer verdade para personagens que, mesmo caricatos, precisam de humanidade."

É essa visão que a torna uma atriz cômica de exceção: não há piada sem entrega. "Se você tenta ser engraçado, não vai ser. A comédia é trágica, é séria. Eu levo muito a sério para que funcione", argumenta.

Após estrear em novelas em Quanto mais vida, melhor, em 2021, hoje, na novela das 18h, Evelyn vive Zenaide, personagem que a desafia a flertar com a vilania e com a linguagem de época. Ao lado de Heloísa Perissé, forma uma dupla que mistura cumplicidade e admiração. "É como se minha adolescência tivesse me dado um grande abraço", diz, emocionada. Dividir cena com uma atriz que foi ídolo é, para Evelyn, mais do que realização: é uma nova aula. "Heloísa é incrível. Aprendo todos os dias com ela e, ao mesmo tempo, tenho a chance de trocar. É um presente estar ao lado dela, como atriz e como pessoa."

Zenaide, por sua vez, trouxe novidades: "Ela é uma trambiqueira de caráter duvidoso, mas o verdadeiro desafio foi fazer humor dentro de um texto de época. É difícil colocar piada no português perfeito dos anos 1950. Mas quando acontece, é delicioso".

Entre a trupe e o protagonismo

A carreira no cinema também tem sido fértil. Evelyn já transitou entre comédias de grande público, como Tô ryca 2, e produções mais densas, como O mecanismo e Um contra todos. "Eu gostaria até de explorar mais o drama. Mas lido da mesma forma: com naturalidade. Nunca tento ser engraçada — quando tentei, deu errado", confessa.

Em Caindo na real, sua estreia como protagonista, encarou um dos maiores desafios da carreira. "Foi difícil por várias questões, mas também uma das experiências mais ricas. Eu sempre penso como teatro: protagonista não existe sem trupe. E eu tive colegas maravilhosos, com quem mantenho amizades até hoje", conta. Mas o aprendizado não foi apenas artístico. Evelyn confessa que, por vezes, tomou as dores de outros, algo que precisou equilibrar: "Aprendi que liderar também é saber dosar as próprias emoções".

Entre televisão, cinema, música e teatro, Evelyn não esconde o caos. "Eu não consigo conciliar. É uma loucura", admite, rindo. No momento, a prioridade é a Zenaide da novela, mas o incômodo com a música em stand-by persiste. "Quero fazer tudo ao mesmo tempo, mas isso exige saúde vocal, disciplina, sono. E ainda tem a maternidade, que está em primeiro lugar. O bem-estar do meu filho é o meu bem-estar."

A agenda pode parecer sobre-humana, mas ela não recua. "Se depender de mim, emendo duas, três novelas. Só me chamar, Rede Globo", brinca, sem esconder a devoção ao trabalho.

Entre o mais difícil e o mais bonito

Ao olhar para trás, Evelyn aponta dois momentos marcantes. O mais desafiador: Caindo na real, pela responsabilidade do protagonismo. O mais gratificante: o monólogo musical inspirado em Tina Turner, espetáculo que uniu confissão pessoal, homenagem e catarse. "Foi algo que veio da minha alma. Pude falar da minha infância, da minha trajetória. Tina não só me influenciou artisticamente, mas como mulher", revela a mãe de Juan, de 10 anos.

No presente, dois projetos se destacam. A nova temporada de Encantados, que exalta sua ancestralidade, e a comédia A sogra perfeita 2, lançado em setembro. Evelyn fala dos dois com entusiasmo: "Encantado's é o projeto mais lindo que já fiz. Ali me reconheço, reconheço meus amigos, minha família. É sobre nos vermos na tela", enaltece.

Já sobre A sogra perfeita 2, garante que o filme amadureceu junto com o elenco. "Está melhor que o primeiro. E contracenar com Fafy Siqueira foi um privilégio. Eu sempre digo a ela: é graças a você que eu estou aqui. Precisamos exaltar os que vieram antes." Para o público, a promessa é clara: diversão para a família inteira, mas também emoção. "É uma comédia, sim, mas com uma camada de dramédia. Você ri e se emociona. Isso é importante."

Evelyn pode ter surgido em realities musicais e até participado do The masked singer — onde ficou em terceiro lugar como a Sereia Iara — e do LOL: Se rir, já era!, mas não se considera competitiva. "Sempre fui a que ria quando perdia. Meus colegas ficavam com raiva, mas, para mim, tudo era brincadeira." O que a movia não era o prêmio, mas a chance de continuar cantando. "Queria estar no ar mostrando minha arte. A competição nunca foi prioridade. A arte, sim."

A multiplicidade como identidade

Da jovem cantora do Fama à atriz múltipla de hoje, Evelyn Castro se recusa a ser apenas uma coisa. Ela canta, atua, improvisa, protagoniza, observa o cotidiano e o transforma em personagem. Traz para o palco sua avó, para a tela suas raízes, para o público sua verdade. 

No fim, talvez sua carreira seja menos sobre escolher caminhos e mais sobre abraçar todos ao mesmo tempo. "Foi positiva até aqui. Mas ainda tenho muito a trilhar", afirma. E o público agradece: quanto mais Evelyn, melhor.

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    Evelyn Castro retorna às novelas como Zenaide em Êta mundo melhor!, na Globo Divulgação
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    Na série Encantados, a atriz encontrou o que define como "projeto do coração" Divulgação
  • Com Andy Gercker, Rodrigo Santanna e Isabelle Marques no sitcom Tô de Graça
    Com Andy Gercker, Rodrigo Santanna e Isabelle Marques no sitcom Tô de Graça Divulgação
  •  Ao lado do cantor Belo, protagonizou no cinema o filme Caindo na real
    Ao lado do cantor Belo, protagonizou no cinema o filme Caindo na real Serendipity Inc./Elo Studios/Divulgação

 


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postado em 28/09/2025 08:00
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