
Foi durante a pandemia que Sergio Maggio começou a escrever O arco-íris no concreto, uma peça que retoma a história da boate New Aquarius. Inaugurado no Conic em 1974, o estabelecimento se tornou ícone do local e referência da cena alternativa gay da cidade. Frequentada por artistas, jornalistas, boêmios, intelectuais, estudantes, servidores públicos e pela comunidade LGBTQIA da época, era um espaço de entretenimento com palco para apresentações e performances teatrais. Depois de deixar o projeto um pouco de lado durante a pandemia, Maggio retomou o texto e montou a peça, que está em cartaz com sessões gratuitas no Sesc Silvio Barbato neste fim de semana e no próximo.
Com elenco formado por Hugo Leonardo, Maria Leo Araruna e Pedro Olivo e participação da drag queen LuShonda, O arco-íris no concreto parte de uma personagem cujos pais se conheceram na New Aquarius para contar a história da boate. "Desde quando cheguei em Brasília, a New Aquarius era um espaço muito lúdico e estava no meu imaginário, que não vivi a época da boate. Mas ela estava muito viva em quem viveu. Então tinha muitas histórias, histórias teatrais, inclusive, sobre performances que aconteciam lá dentro, cabarés mesmo. O próprio dono, Oswaldo Gessner, é dramaturgo", conta Maggio, que veio de Salvador para Brasília em 2001.
Ao fazer a pesquisa para escrever o texto, o diretor se deu conta de que o local era também um palco importante até mesmo para a produção teatral da cidade. Nomes como Alexandre Ribondi, Gê Martu e Gisele Lemberger se apresentaram na boate, uma referência de diversidade em tempos de ditadura. "Tinha esse contraponto, pensando nas travestis e transformistas, e nos próprios gays e lésbicas: era ditadura militar e, quando saíam do Conic, de manhã, muitas vezes tinha revista, eles eram humilhados, as transformistas não podiam sair vestidas, se saíssem eram levadas para uma delegacia de jogos e costumes", conta Maggio. "Tinha toda uma repressão comportamental e lá era um território livre, liberado para viver as histórias."
No palco, três personagens se revezam em uma história narrada por muitas vozes, algumas delas ouvidas durante a pesquisa realizada pelo diretor, mas transformadas em ficção. A montagem é conduzida pela filha de um casal que se conheceu na boate, sendo que o rapaz estava fugindo da ditadura. Perseguido, ele entra na boate para se esconder e o único jeito de enganar a ditadura é subir no palco como uma transformista. Ele sobe e canta Elis Regina. "E tinha uma mulher lésbica muito militante na plateia, e eles se apaixonam. Então a filha volta para entender a história dos pais, que morreram na pandemia de covid-19", conta o diretor.
O Arco-íris no Concreto
Direção e dramaturgia: Sérgio Maggio. Elenco: Hugo Leonardo, Maria Leo Araruna, Pedro Olivo e LuShonda. Hoje e amanhã, às 19h30, e domingo, às 18h30, no Sesc Silvio Barbato (Setor Comercial Sul). Entrada gratuita
Diversão e Arte
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