Cinema

Novo filme com Leonardo DiCaprio tece crítica aos valores reacionários

Uma batalha após a outra, estrelado por Leonardo DiCaprio, em cartaz nos cinemas, tece uma trama com crítica contundente aos valores reacionários

Uma batalha após a outra -  (crédito:  Warner)
Uma batalha após a outra - (crédito: Warner)

Com uma reclusão pública e uma qualidade de visão que tem o aproximado do celebrado Terrence Malick (do clássico Terra de ninguém), o cineasta Paul Thomas Anderson, indicado a 11 prêmios Oscar, dá sempre, por meio do cinema, o seu recado. O mais recente trabalho, encabeçado pelos atores Leonardo DiCaprio e Sean Penn, é um soco no estômago das ondas reacionárias e do nacionalismo com etiqueta patriarcal: Uma batalha após a outra, recém-chegado aos cinemas.

Em tempos de extremada violência política contemporânea, o mesmo autor de Sangue negro julga "inapropriado" surfar na ferocidade do discurso de Trump (que, desavergonhadamente, usa expressões como "lixo democrata") ou mesmo ficar atrelado a comparativos do filme com o assassinato do ativista Charlie Kirk. "Houve um assassinato horrível. Não acho que possamos vincular fatos com meu filme, uma comédia de ação distanciada da realidade. (Nas falas públicas) estou apenas tentando vender ingressos para um filme de ficção", observou ao francês Le Figaro. Há mais de 20 anos, Paul Thomas tem desenvolvido filmes de época e traz guinada nisso, com a nova produção puxada por calibre grosso de orçamento, U$ 120 milhões, um montante quase dobrado em relação aos ganhos do mais exitoso filme na carreira: Sangue negro (2008), fita que perdeu o Oscar de melhor filme para Onde os fracos não têm vez.

Adotando escritos de Thomas Pynthon (que deu base para o longa Vício inerente), o também roteirista Paul Thomas (um admirador de Robert Altman e Jonathan Demme) que, recentemente, deu pitacos em enredos de filmes de Ridley Scott e Martin Scorsese, bebeu do compêndio de ações revolucionárias relatadas por Bryan Burrough, em A era da raiva (numa livre tradução), na publicação Days of rage: America's radical underground, the FBI, and the forgotten age of revolutionary violence. No filme que exalta rebeliões, e examina suas consequências, moldes de atividades de guerrilha setentista ficam demarcados com o terrorismo derivado da esquerda marxista, que resultou em episódios como o sequestro de Patty Hearst (pelo Exército Simbionês de Libertação) e na célula gestada na Universidade de Michigan e deu alicerce para o grupo Weather Underground. Tudo foi inspiração para o realizador de O mestre, entre outros.

Com quê operacional ligado ao famoso Panteras Negras, no novo filme, há o grupo French 75, que combate comandos imperialistas e racistas. O sacode proposto no roteiro do longa do mesmo criador de Magnolia e Licorice Pizza teve prenúncio da atenta veia de espectador cultivada por Paul Thomas Anderson. Ele aponta que ficou motivado pela trama de O peso de um passado (1988), de Sidney Lumet. Com pais ativistas, o personagem de River Phoenix (indicado ao Oscar de coadjuvante), Danny Pope, quer se desvencilhar de cátedras e politicagens. "Nossa questão central, na trama, é a mesma: examinamos como as ações e crenças de alguém, na juventude, continuam a assombrar, pelo resto da vida", avaliou ao Le Figaro. Uma seita reacionária que traz figuras deprimentes como Tim (John Hoogenakker) e o asqueroso coronel interpretado por Sean Penn (hilário, quando clama ter sido violentado "ao contrário" por uma mulher) preconiza um mundo "seguro e puro", que achata tipos judeus e a naturalidade do "sexo inter-racial". 

Na pele de um pai paranoico e imaturo, que diz ter abusado das drogas e da bebida, Leonardo DiCaprio traz brilho extra para Bob, um quase aposentado revolucionário, dotado da verve de um irado Jack Nicholson. Por trás de óculos escuros e vestindo um roupão, DiCaprio faz ecoar a originalidade defendida por Paul Thomas Anderson, autor de longas como Trama fantasma. Numa roupagem de ópera, Uma batalha após a outra avoluma inventividade, ao tratar de "camaradas" caxias, perseguições políticas, logística revolucionária, imigração, defesas feministas, e regime social em que cidadãos facilmente são "vistos como infratores".

Universo à la Star Wars

Mariana Reginato

A caracterização "orgânica" de Leonardo DiCaprio, em Uma batalha após a outra, no qual interpreta um paranoico, somou demais, na avaliação de Paul Thomas Anderson, atento a cada gesto dos atores: "Eles (atores) sabem o que melhor serve à história, à câmera e aos seus parceiros". Fator pra lá de cômico na telona, DiCaprio entusiasmou em cheio o diretor, que elogiou: "Se (ele) nos faz rir, é um ótimo sinal". Em coletiva internacional, Leonardo DiCaprio falou sobre Uma batalha após a outra.

 


  • Paul Thomas Anderson, no Oscar de 2018, ao lado da companheira Maya Rudolph
    Paul Thomas Anderson, no Oscar de 2018, ao lado da companheira Maya Rudolph Foto: VALERIE MACON
  • Seann Penn em Uma batalha após a outra: supremacia branca?
    Seann Penn em Uma batalha após a outra: supremacia branca? Foto: Warner
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postado em 27/09/2025 04:05
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