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Em comédia cearense, Monique Hortolani destaca versatilidade do nordestino

De agente secreta da comédia de ação CIC – Central de Inteligência Cearense, dirigida por Halder Gomes: a atriz Monique Hortolani fala sobre novo filme, paixão por artes marciais e a representatividade nordestina: "Existe um olhar engessado", lamenta

Com uma trajetória sólida na televisão e no streaming, a atriz Monique Hortolani embarca em uma nova missão nas telonas. Aos 37 anos e com 12 anos de carreira, ela está no elenco da comédia de ação CIC – Central de Inteligência Cearense, dirigida por Halder Gomes. Longe de ser uma estreante, Monique conversou sobre o novo projeto, os desafios do humor e da ação, e refletiu sobre as barreiras que ainda persistem para artistas nordestinos na indústria do entretenimento.
No filme, que mistura espionagem com o humor característico do cinema regional, Monique vive Divina, o cérebro por trás da agência secreta e braço direito do chefe Espírito Santo, personagem de Nill Marcondes. “Foi uma experiência incrível, de verdade!”, disse a atriz, empolgada. “A gente está muito acostumado a ver esse tipo de produção vindo de fora, então poder trazer esse universo pro Brasil, com o nosso jeito e o nosso humor, foi massa demais. São as nossas piadas, a nossa cultura.”

Apesar de sua personagem não ser a principal especialista em combate, Monique se dedicou intensamente à preparação física, mergulhando no universo das artes marciais. O que começou como uma ferramenta para o trabalho, no entanto, transformou-se em uma paixão.
“Confesso que, no começo, pensei: ‘ok, é só uma preparação pro filme’… mas acabei me apaixonando (risos)!”, contou. “Isso fez toda a diferença, porque me ajudou a encontrar essa postura de agente.” Ela revela que o maior desafio foi físico, exigindo disciplina e quebra de limites, especialmente os da flexibilidade. “O que era para ser só preparação acabou virando paixão. Hoje, sigo treinando, já faz parte da minha vida e tenho até orgulho de dizer que conquistei a faixa camuflada (risos).”

Dupla missão: ação e comédia

Questionada sobre o que foi mais desafiador entre as cenas de ação e as de comédia, Monique foi enfática ao dizer que cada uma tem sua complexidade. “A ação exige bastante do corpo, é treino, técnica e disciplina”, explicou. “Já a comédia tem outra complexidade: fazer rir é realmente uma arte, porque exige tempo, ritmo, escuta e muita generosidade em cena.”

Ela destaca que o humor de Divina não vem de piadas prontas, mas da forma como ela interage com os outros personagens e da sagacidade que carrega. “Eu não sou comediante, mas cada projeto nesse gênero é uma oportunidade de aprender, de experimentar novos registros, de me desafiar como atriz e isso é o que mais me motiva.”
Esta não é a primeira vez que Monique trabalha com Halder Gomes. Os dois já haviam colaborado em O Cangaceiro do Futuro, da Netflix. “Voltar a trabalhar com o Halder foi um presente. Ele é simplesmente genial!”, elogiou. “É aquele diretor que sabe muito bem o que quer, mas que ao mesmo tempo dá liberdade total pro ator criar, arriscar e propor.” Para ela, trabalhar com alguém que coloca a cultura nordestina no centro das narrativas é “sempre muito gratificante”.

Além de falar sobre o filme, Monique abordou um tema urgente: a persistência de estereótipos que limitam artistas nordestinos no mercado audiovisual. “Infelizmente, essa ainda é uma realidade”, afirmou. “Existe um olhar engessado que tenta colocar todo mundo dentro do mesmo estereótipo, como se houvesse uma única forma de ser ou de representar o Nordeste.”

Sem estereótipos

Ela criticou a ideia de “ter cara de tal lugar” e destacou a multiplicidade da região. “O próprio Nordeste é gigante e múltiplo, impossível de resumir em um único molde.” Monique, que já interpretou personagens com sotaques diferentes da Bahia e do Ceará, enfatizou que a versatilidade é parte fundamental do ofício do ator. “Atores nordestinos podem e devem interpretar personagens da sua própria região, mas também de qualquer outra parte do Brasil.”

Apesar dos desafios, ela vê avanços. “Hoje vemos cada vez mais produções trazendo atores nordestinos em personagens complexos, diversos e potentes, ocupando papéis centrais. E isso, sem dúvida, é um passo muito importante.”

Com um currículo que inclui séries na HBO (A vida secreta dos casais) e Netflix, e uma novela na Record TV (Gênesis), Monique não esconde o desejo de voltar à telinha. “Eu adoraria fazer mais projetos na televisão, inclusive novelas.” Para ela, o formato continua extremamente relevante. “Ela chega diariamente à casa das pessoas, cria um vínculo imediato com o público e tem um alcance que poucos outros formatos conseguem. Além disso, é uma verdadeira escola para o ator.”

Monique também enxerga a novela como uma ferramenta de impacto social. “Ela também traz discussões para o dia a dia das pessoas, provoca reflexões, ajuda a colocar certos temas em pauta.” Fazer novelas, conclui, seria uma chance de se conectar com o público de um jeito “mais cotidiano, mais próximo, quase como fazer parte da rotina das pessoas”.

Enquanto isso, o público pode conferir sua performance em CIC – Central de Inteligência Cearense, onde Monique Hortolani prova que sua versatilidade e talento são armas secretas mais do que eficazes para conquistar qualquer missão, seja nas telas ou na luta por um mercado mais plural.

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