SÉRIE

Pílula de Farinha: o escândalo que gerou gestações inesperadas ganha série

Documentário revisita o caso de 1998 que provocou gestações inesperadas em mulheres de todo o país e expõe os impactos de um dos maiores escândalos da indústria farmacêutica nacional

"Pílulas de Farinha: O Escândalo que Gerou Vidas" revisita o caso do Microvlar e dá voz às mulheres surpreendidas por gestações não planejadas - (crédito: Divulgação / HBO Max)

Em 1998, cerca de 600 mil comprimidos sem efeito do anticoncepcional foram distribuídos em farmácias brasileiras devido ao uso de placebos em testes de embalagem pelo laboratório Schering do Brasil. O resultado foi inúmeras gestações inesperadas e o surgimento de um dos episódios mais controversos da indústria farmacêutica do país. Mulheres de diferentes idades foram afetadas, algumas com condições de saúde que tornavam uma gestação ainda mais arriscada.

Nesta segunda-feira (30/9), o caso ganhou repercussão com o lançamento do documentário Pílulas de Farinha: O Escândalo que Gerou Vidas, da HBO Max. A série revisita as primeiras denúncias e dá voz às mulheres surpreendidas por gravidezes não planejadas. Paloma, Silvana, Meire, Maria Lúcia e Inês compartilham suas experiências, revelando a misoginia presente durante as investigações e a tentativa de responsabilizar as próprias vítimas.

Na época, a empresa Schering do Brasil negou a distribuição das embalagens, alegando que se tratava de material de descarte e que qualquer venda ocorreu de forma irregular. O processo judicial, incluindo a discussão sobre indenizações, se arrastou por anos até encontrar desfecho. O segundo episódio da série documental será lançado em 7 de outubro, e o terceiro e último em 14 de outubro.

Essa semana, o Correio conversou com a diretora de conteúdo criativo Jana Medeiros, que contou sobre a produção da série. "Na época, eu estava me formando em jornalismo, começando minha vida profissional como repórter na imprensa escrita, e fui testemunha em tempo real do que ocorreu. Isso me impactou muito como mulher no início da vida reprodutiva, pensando no impacto que isso poderia me causar se eu tivesse ingerido essa pílula da farinha", disse em entrevista exclusiva. 

O Correio estava lá!

Durante a repercussão do caso em 1998, o Correio produziu uma cobertura dos desdobramentos. Conforme noticiou o jornal, o escândalo do anticoncepcional falsificado levou o governo federal a criar uma série de medidas emergenciais para enfrentar a falsificação de medicamentos no país. Em São Paulo, ao menos nove mulheres engravidaram após consumir o produto adulterado.

As primeiras vítimas identificadas foram quatro primas, moradoras de Mauá, que descobriram estar grávidas após anos de uso do anticoncepcional. Entre elas, Maria Seila, 32 anos, já mãe de dois filhos, e Valquíria de Souza Carvalho, 25, que relataram choque e frustração com a notícia. Todas pediram indenização à farmacêutica Schering do Brasil.

Indignado com o caso, o então ministro da Saúde, José Serra, determinou a interdição por cinco dias do laboratório da empresa em São Paulo, alegando que a Schering não dispunha de mecanismos adequados para descartar os lotes falsos, o que teria facilitado sua entrada no mercado. Segundo cálculos da Vigilância Sanitária, o prejuízo causado pela fraude ficou entre R$ 50 milhões e R$ 600 milhões. 

O Ministério da Justiça, sob comando de Renan Calheiros à época, criou a Delegacia de Repressão e Combate à Falsificação de Medicamentos, dentro da Polícia Federal. O então novo órgão, sediado em Brasília, abriu inquéritos, prendeu responsáveis em flagrante, pediu quebra de sigilo telefônico e bancário e atuou em conjunto com a Vigilância Sanitária. Um serviço de disque-denúncia também foi criado pelo número 0800-610033.

Posteriormente, Serra anunciou a instalação de promotorias de saúde em capitais e grandes centros urbanos para investigar crimes relacionados a medicamentos falsificados e adulterados. Técnicos do Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde (INCQS) alertaram que o caso Microvlar seria apenas “a ponta do iceberg”, já que outros medicamentos comuns, como antibióticos e analgésicos, também foram alvo de falsificação.

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No Congresso, avançou um projeto de lei que endurece as punições para falsificação de medicamentos. A proposta, aprovada pela Câmara, previu pena de 10 a 30 anos de prisão para quem falsificar, vender ou distribuir remédios adulterados — até três vezes maior que a pena vigente à época, de dois a 12 anos. 

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postado em 01/10/2025 13:16 / atualizado em 01/10/2025 13:17
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