
Aos 12 anos, Giullia Buscaccio já trocava o recreio do colégio por gravações. Enquanto os colegas brincavam no pátio, ela decorava falas, fazia testes de figurino e mergulhava no universo encantado — e exigente — da televisão. Hoje, aos 28, a atriz luso-brasileira colhe os frutos de uma trajetória marcada por amadurecimento precoce e inquietude artística.
Depois de papéis marcantes em novelas como I love Paraisópolis (2015), Velho Chico (2016), Novo mundo (2017), O sétimo guardião (2018), Éramos seis (2019) e Renascer (2024), Giullia se prepara para um momento decisivo na carreira: o lançamento de dois grandes projetos em plataformas de streaming — a série Os donos do jogo, da Netflix, na próxima quarta-feira, e a quarta temporada de Arcanjo Renegado, em 6 de novembro, no Globoplay. Além disso, ela chega às telonas com a comédia Álibi, ao lado de Leandro Hassum e Maurício Destri.
"Essa transição da infância para o ambiente profissional foi muito desafiadora", conta Giullia. "Precisei aprender a equilibrar o universo leve e espontâneo da infância com a responsabilidade e a disciplina da televisão. Eu me tornei muito exigente comigo mesma. Queria tirar boas notas na vida profissional." O tempo e a experiência, no entanto, a ensinaram que a arte também se faz do erro, da imperfeição e da vulnerabilidade. "Hoje entendo que é através do erro que surgem as grandes obras", reflete.
Entre memórias e reinvenções
Giullia tem um carinho especial pelos remakes — e não é à toa. Em Éramos seis e Renascer, ela encarou o desafio de reinterpretar papéis que já fazem parte da memória afetiva do público — curiosamente ambos interpretados anteriormente pela veterana Luciana Braga. "Um remake é duplamente desafiador. Existe a lembrança do público e a responsabilidade de reverenciar quem veio antes", explica. "É bonito quando conseguimos honrar esse legado e, ao mesmo tempo, oferecer uma nova leitura para o presente."
Essa busca por complexidade e novas camadas é o que move Giullia. "Minhas duas próximas personagens foram as mais desafiadoras da carreira", revela. "A Tay, de Arcanjo Renegado, e a Suzana, de Os donos do jogo, fogem completamente do universo das mocinhas e heroínas que marcaram minha trajetória. Elas me tiraram da zona de conforto — e isso é incrível."
Na série da Netflix, dirigida por Heitor Dhalia, Giullia encarna Suzana Guerra — uma mulher sedutora, ambiciosa e estratégica, inspirada em um dos bichos do jogo do bicho. "Suzana é como o gato: observadora, articulada, planeja todos os seus passos em busca de poder", conta a atriz. "Ela vive um romance intenso com o personagem do Xamã, o Búfalo, mas também o vê como uma peça dentro de um plano maior."
A série marca um novo patamar na carreira de Giullia, não só pela complexidade da personagem, mas pelo alcance internacional. "Atuar para uma plataforma global como a Netflix é uma realização pessoal. Eu cresci conhecendo diferentes culturas e idiomas — falo coreano, inglês e espanhol — e sempre quis que o Brasil se comunicasse com o mundo. É lindo ver o nosso audiovisual ganhando espaço lá fora", celebra.
Na quarta temporada de Arcanjo Renegado, ela vive Tay, uma mulher de valores e comportamentos bem diferentes dos seus. "Brinquei com meus pais dizendo para eles não me assistirem nesse projeto", ri. "A Tay me levou a lugares muito distantes da Giu, mas é isso que me encanta na profissão. A gente se abre para as diferenças, e esse respeito pelas várias formas de existir é o que me faz amar o que faço", completa a aquariana.
Da tevê ao cinema
Depois de transitar pela tevê aberta, pela televisão por assinatura e pelo streaming, Giullia agora se aventura no cinema com Álibi, comédia dirigida por Cris D'Amato. Para ela, cada meio tem um tempo próprio, mas todos partem da mesma essência: contar boas histórias. "O que muda é o ritmo. A tevê aberta tem um alcance popular que é muito brasileiro, o streaming e o cinema permitem mergulhos mais íntimos. A preparação é diferente, mas a entrega emocional é total em qualquer formato", argumenta a atriz, que ficou em terceiro lugar na Dança dos famosos, em 2019.
Entre gravações, entrevistas e lançamentos, Giullia confessa que a agenda anda intensa — mas também muito recompensadora: "Às vezes é cansativo conciliar tudo, mas eu gosto desse movimento. Quando vejo o público se conectando com o que faço, tudo vale a pena".
Raízes e horizontes
Filha de um ex-jogador de futebol português e de mãe brasileira, Giullia nasceu em Portugal, mas cresceu entre culturas. "Tenho muito carinho por Portugal e adoraria participar de uma coprodução que unisse os dois países. Seria uma forma linda de juntar as duas partes da minha história", afirma.
E há também uma conexão afetiva com o Oriente. Em 2005, ela morou na Coreia do Sul e conheceu o universo dos doramas — antes mesmo de o gênero se tornar fenômeno mundial. "O dorama me abraçou quando eu era criança e me sentia deslocada. Ele me aproximou da cultura e, de certa forma, da profissão que tenho hoje. Fico feliz em ver o mundo se abrindo para diferentes culturas."
Com tantos projetos simultâneos, Giullia segue em movimento, curiosa e disposta a se reinventar. "Sou movida pela curiosidade. Quero experimentar tudo o que puder dentro da arte. Não me limito como atriz e não nego um bom desafio", conclui.
E talvez seja justamente essa inquietude — o desejo constante de transformação — que define Giullia Buscaccio. A menina que começou aos 12 anos entre livros e câmeras cresceu sem perder o brilho do olhar. Agora, é dona do próprio jogo.

Diversão e Arte
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