
Sempre à frente do seu tempo, Ângela Diniz era uma mulher independente, livre e segura de si. A socialite mineira vivia no Rio de Janeiro na década de 1970 quando, após o divórcio com o engenheiro Milton Villas Boas, começou a se envolver com Raul Fernando do Amaral Street, conhecido como Doca Street. Em dezembro de 1976, Ângela se tornou vítima de um dos casos de feminicídio mais emblemáticos do país: aos 32 anos, ela foi morta a tiros pelo namorado na Praia dos Ossos, em Búzios.
Em 2020, a Rádio Novelo produziu o podcast Praia dos Ossos, apresentado por Branca Vianna, que conta a história de vida de Ângela, do seu nascimento à sua morte, ao mesmo tempo que realiza uma análise de como a sociedade da época lidou com a personalidade da socialite e o crime de que ela foi vítima. O podcast foi adaptado em uma minissérie da HBO Max, com direção geral de Andrucha Waddington e protagonizada por Marjorie Estiano. Os dois primeiros episódios já estão disponíveis, e os próximos serão lançados às quintas-feiras no streaming.
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Após trabalharem juntos em Sob pressão, Marjorie Estiano conta que aceitaria atuar em qualquer projeto que Andrucha a convidasse, e foi assim que ela tomou conhecimento da série e da história de Ângela. Para a atriz, interpretar a socialite foi um privilégio e uma oportunidade única em sua carreira: "As personagens femininas normalmente não são construídas para o prazer, mas, sim, para sofrer. Estudar sobre temas coletivos, sociais, que são parte integrante de mim é sempre uma oportunidade de me transformar. Ter feito uma personagem que se autoriza ao prazer é algo muito importante. A gente costuma sentir muita culpa, e ela mostra que a beleza da vida é viver, então foi uma oportunidade de me experimentar na liberdade", detalha.
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Quem ama não mata
Doca Street, interpretado por Emílio Dantas na série, teve dois julgamentos. No primeiro, em 1979, foi absolvido. O advogado Evandro Lins e Silva (Antônio Fagundes) afirmou que o caso era de legítima defesa da honra, tese que dava direito ao homem de matar a companheira em caso de traição, e deslegitimou a vítima na frente do júri. Em 1981, quando o movimento feminista e o lema "quem ama não mata" estavam ganhando força, Doca passou por novo julgamento e foi condenado a 15 anos de prisão. O caso foi um marco no que hoje é classificado de feminicídio.
A história da minissérie, ressalta Andrucha, não é sobre o assassinato, mas, sim, sobre a assassinada, e que houve uma preocupação da equipe de não transformar a tragédia em espetáculo. "Os primeiros episódios mostram uma mulher livre vivendo em sua plenitude, enfrentando todos os dilemas e dificuldades que a sociedade colocava para ela, porque era uma época em que o machismo estrutural estava muito presente. A gente percebe na série que nenhum homem presta", explica o diretor.
O elenco inclui nomes como Yara de Novaes, Thiago Lacerda, Joaquim Lopes, Camila Márdila, Renata Gaspar e Emílio de Mello. Segundo eles, a expectativa é que Ângela Diniz: assassinada e condenada fomente discussões sobre o feminismo e a violência contra a mulher: "Acho que a série vai dividir opiniões sobre o julgamento e vai provocar debates nos espectadores. A complexidade de tudo vai ser muito interessante", destaca Camila, que interpreta uma amiga de Ângela no seriado.
*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte

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