LITERATURA

Por onde começar a ler Clarice Lispector? Especialistas revelam caminhos

No aniversário de 48 anos da morte de Clarice Lispector, críticos e estudiosos indicam obras, portas de entrada e formas de se aproximar da escrita densa, sensível e existencial da autora

Confira orientações de quem estudou Clarice para quem deseja descobri-la -  (crédito: Arquivo Clarice Lispector cedido pela Editora Rocco/Divulgação)
Confira orientações de quem estudou Clarice para quem deseja descobri-la - (crédito: Arquivo Clarice Lispector cedido pela Editora Rocco/Divulgação)

Clarice Lispector morreu no dia 9 de dezembro de 1977, um dia antes de completar 57 anos, devido a complicações do câncer de ovário. Nesta terça-feira (9/12), fazem exatos 48 anos desde sua partida. A ucraniana naturalizada brasileira — autodenominada pernambucana por ter vindo ao Brasil ainda na barriga da mãe — deixou obras traduzidas em 32 idiomas e livros que ocupam as prateleiras de 40 países. 

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Por mais que a autora seja pertinente nacionalmente, aparecendo em questões de provas acadêmicas e citações que inundam as redes sociais, muitos se assustam com a escrita de fluxo de pensamento de Clarice. Surge então a dúvida: Por onde começar a ler Lispector?

Segundo Joseana Paganine, crítica literária, historiadora da arte e autora de O engajamento poético em Clarice Lispector, pode-se introduzir os escritos da autora ainda na infância. Ela exemplifica os livros infantis A vida íntima de Laura, O mistério do coelho pensante e A mulher que matou os peixes. “Quem for lê-la pela primeira vez já na fase adulta, eu recomendo começar pelos livros de contos”, acrescenta. 

Joseana descreve as coletâneas Laços de Família e Felicidade Clandestina como uma porta de entrada para o universo clariciano. No campo dos romances, a especialista recomenda iniciar a leitura por Perto do coração selvagem, Uma aprendizagem ou O livro dos prazeres e A hora da estrela.

“Mas a melhor maneira mesmo de começar é por onde o leitor quiser. Pegar o livro na estante da biblioteca ou da livraria, ler a orelha, folheá-lo, sentir se o título ou uma frase ou um trecho colhidos de passagem atiçam a sua curiosidade. Um dos grandes prazeres da leitura está nessa descoberta, única para cada um”, argumenta. 

Para o professor da UnB Dr. André Luís Gomes, autor de Clarice em Cena: as relações entre Clarice Lispector e o Teatro, Clarice é uma das vozes mais singulares da literatura brasileira. “Sua partida precoce não impediu que deixasse um legado literário profundo, poético e transformador”, pontua. 

Entre obras que atravessam gêneros de romances a textos teatrais — marcadas, conforme o especialista, por uma escrita densa, filosófica, existencial e, ao mesmo tempo, sensível e intimista —, Gomes opta por apresentar Clarice sempre por seus contos e crônicas. “Seus contos, em especial, são verdadeiras joias da prosa poética: textos que encantam, provocam, desestabilizam e nos convidam a olhar para dentro”, define. “Como a autora afirma, 'o silêncio está repleto de palavras'. Ler Clarice Lispector é sentir mais do que entender.”

Mesmo com um roteiro para adentrar os escritos de Clarice, a própria escritora já alertou que sua escrita não é para fazer sentido, mas sim para encontrar um eco dentro do leitor. Em entrevista concedida a Júlio Lerner, da TV Cultura, em 1977, Clarice lembrou que um acadêmico a criticou por não entender nada, enquanto uma estudante apaixonou-se por suas palavras. Em suma, não adianta tentar analisá-la se suas palavras não se relacionam com o que existe de mais íntimo em seu âmago.

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postado em 09/12/2025 11:47 / atualizado em 09/12/2025 12:08
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