
Uma lembrança da vida de Cazuza, guardada por décadas entre as paredes de um quarto hospitalar, acaba de ganhar forma pública. Quem atravessa o Hospital São Lucas Copacabana, no Rio de Janeiro, encontra agora uma escultura que materializa a cena que acompanhou o cantor em 1985.
Na época, Cazuza enfrentava um período de internação marcado por febre persistente e convulsões, quando beija-flores apareciam diariamente em sua janela. Os animais inspiraram Codinome Beija-Flor, música que completa 40 anos em 2025. Transformado agora em escultura, o beija-flor retrata o que, durante muito tempo, existiu apenas na memória do artista e no imaginário dos fãs.
Assinada por Mario Pitanguy, a peça em bronze apresenta o pássaro no momento em que atravessa uma moldura cercada por flores, configurando uma imagem de passagem e de luz. O artista construiu a escultura inspirado no ambiente natural que sempre envolveu o hospital — paisagem preservada até hoje — e pensou o movimento do beija-flor como uma tradução visual da delicadeza que marcou o processo criativo de Cazuza naquele período frágil e íntimo.
O hospital escolheu o parque ecológico da instituição para abrigar a obra, área de vegetação nativa que funciona como um espaço de silêncio e contemplação. A instalação se integra a outras iniciativas do São Lucas que destacam a importância histórica e afetiva de Codinome Beija-Flor, reforçando o elo entre natureza, criação artística e memória.
A inauguração aconteceu nesta terça-feira (9/12) e reuniu familiares e admiradores. Lucinha Araújo, mãe do cantor, participou da cerimônia e lembrou que o filho observava atentamente os beija-flores que se aproximavam da janela, encontrando neles uma companhia silenciosa que lhe oferecia conforto. “Espero que os beija-flores, que o inspiraram a compor a canção continuem a levar esperança para os pacientes internados, suas famílias e funcionários do hospital”, disse.
A celebração reforça a permanência de Codinome Beija-Flor como uma das músicas mais fortes da carreira do artista. Ao longo de quatro décadas, a canção criada diante de uma paisagem de Mata Atlântica continuou despertando interpretações sobre amor, fragilidade, liberdade e mistério, inclusive porque nunca se soube ao certo para quem foi escrita.
A homenagem ocorre em dezembro, mês nacional de conscientização sobre HIV, Aids e outras ISTs. Quarenta anos após a internação em que compôs a música, o artista é lembrado no mesmo espaço onde viveu seus primeiros sintomas, ainda sem diagnóstico de Aids, que só seria confirmado em 1987. A trajetória posterior de Cazuza ficou marcada por sua decisão de enfrentar publicamente o preconceito e por obras como Ideologia (1988), álbum em que abordou morte, política, hipocrisia e economia.
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Mesmo debilitado, apresentou o espetáculo O Tempo Não Para, dirigido por Ney Matogrosso, amigo e ex-namorado, poucos meses antes de morrer, em julho de 1990, em decorrência de complicações da doença.

Diversão e Arte
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