CINEMA

Brasil no Oscar 2026: a força das narrativas indígenas, nipo-brasileiras e políticas

Para a premiação de 2026, o Brasil marcou presença na lista pré-selecionados com quatro filmes nacionais, o que turbina o audiovisual nacional com muita visibilidade lá fora

Amarela, de André Hayato Saito, aparece na lista de pré-selecionados em Melhor curta-metragem  -  (crédito: Divulgação)
Amarela, de André Hayato Saito, aparece na lista de pré-selecionados em Melhor curta-metragem - (crédito: Divulgação)

O agente secreto, longa de Kleber Mendonça Filho, tomou os holofotes, na última semana, com a aparição em duas categorias na lista de pré-selecionados ao Oscar: Melhor elenco, categoria inédita que premia diretor de elenco, e Melhor filme internacional. Porém, mais três filmes nacionais apareceram na shortlist em três diferentes categorias: Melhor documentário, Melhor documentário em curta-metragem e Melhor curta-metragem.

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Um deles é Apocalipse nos trópicos, da cineasta Petra Costa. A diretora está aparecendo na lista de pré-seleção em Melhor documentário pela segunda vez, a primeira foi em 2020 com o longa Democracia em vertigem. No documentário selecionado para o Oscar de 2026, a cineasta analisa as relações entre política e religião no Brasil, fazendo um paralelo de como o movimento evangélico teve impacto na ascensão de Jair Bolsonaro. O documentário está disponível na Netflix.

Também em uma das categorias de documentário, mas em curta-metragem, a produção brasileira e indígena Yanuni está presente na lista. O filme acompanha Juma Xipaia, cacica da aldeia Kaarimãe, na Terra Indígena Xipaya, no município de Altamira (PA). Ao lado do marido, Hugo Loss, agente ambiental e coordenador de operações de fiscalização do Ibama, o casal luta contra o avanço da mineração e do garimpo em terras indígenas.

Dirigido por Richard Ladkani e com produção de Leonardo DiCaprio, Juma Xipaia afirma que quando recebeu a proposta, enxergou uma oportunidade de amplificar vozes e fortalecer a luta em defesa da floresta. "Desde o início, quis que o filme fosse mais do que um documentário, mas que gerasse conexão e ajudasse as pessoas a entender por que arriscamos nossas vidas por algo que vai além de nós. Yanuni é um chamado à ação, e cada retorno reforça a esperança de que essa voz chegue cada vez mais longe", afirma Juma ao Correio.

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Juma protagonizou e produziu Yanuni, sem deixar de lado seus trabalhos como mãe, esposa, cacica e gestora pública. Para ela, a voz e a perspectiva dos povos indígenas estão presentes no projeto pela liderança indígena nas equipes responsáveis pelo filme. "Eu sabia que estava ali como uma ferramenta do meu povo. Para contar nossas histórias de forma verdadeira, precisamos ser nós mesmos falando de nossos territórios e desafios. O filme reflete exatamente isso: a potência da criatividade indígena e a realidade de quem vive e resiste na floresta", ressalta.

Aparecer na lista de pré-selecionados ao Oscar é muito gratificante para Juma. "Mostra que a nossa história está criando uma conexão real com o mundo e que a mensagem do filme está chegando longe. Cada reconhecimento me confirma que estamos sendo ouvidos e vistos, algo que sempre foi a minha maior preocupação. Yanuni é um chamado para entender que não existe nós e eles, mas todos nós", complementa.

O diretor nipo-brasileiro André Hayato Saito compõe a shortlist do Oscar em Melhor curta-metragem com Amarela. Na trama, a adolescente Erika Oguihara rejeita as tradições da família japonesa. Em 1998, na final da Copa do Mundo entre Brasil e França, Erika vivencia uma violência que passa despercebida pelos seus amigos e precisa enfrentar mais uma vez o sentimento de não pertencimento.

Segundo André, o projeto nasceu de uma inquietação intima. "Cresci como um garoto nipo-brasileiro em São Paulo, num país que muitas vezes nos enxerga como estrangeiros, mesmo quando essa é a nossa única casa", afirma. Explorar a final da Copa do Mundo veio da necessidade de olhar um episódio muito brasileiro. "A partir dele, revelar uma experiência silenciosa, mas profundamente marcante: o impacto do racismo na formação da identidade de uma adolescente", destaca o diretor.

Ter uma história nipo-brasileira na shortlist é um marco muito simbólico para o diretor. "O Brasil é um país profundamente diverso, mas nem sempre essa diversidade chega aos espaços de maior visibilidade internacional. Uma história asiático-brasileira entre os pré-indicados ao Oscar amplia o imaginário sobre o que é o cinema brasileiro e sobre quem pode ocupar o centro da narrativa", ressalta.

O diretor descreve a pré-indicação como uma mistura de alegria, surpresa e responsabilidade. " Alegria por ver um filme tão pessoal alcançar esse nível de reconhecimento; surpresa porque o caminho do curta-metragem é sempre muito incerto; e responsabilidade porque percebo que Amarela passa a carregar algo que vai além de mim", ressalta André.

 

  • Amarela, de André Hayato Saito, aparece na lista de pré-selecionados em Melhor curta-metragem
    Amarela, de André Hayato Saito, aparece na lista de pré-selecionados em Melhor curta-metragem Foto: Divulgação
  •  Filme O Agente Secreto.
    Filme O Agente Secreto. Foto: Vitrine Filmes /Divulgação
  • Petra Costa aparece na shortlist com Apocalipse 
nos trópicos
    Petra Costa aparece na shortlist com Apocalipse nos trópicos Foto: Divulgação
  • Juma Xipaia no documentário Yanuni
    Juma Xipaia no documentário Yanuni Foto: Divulgação
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postado em 21/12/2025 06:00
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