Celebrado nesta terça-feira (2/12), o Dia do Samba evidencia como o gênero musical permanece como uma das mais potentes heranças culturais do Brasil. Estudos acadêmicos e análises historiográficas recolocam o samba no centro das discussões sobre identidade, memória e disputa narrativa — temas que seguem fundamentais num país marcado pela pluralidade e pela desigualdade, cuja cultura destaca vozes antes apagadas. Para entender melhor as origens, importância e luta racial do gênero musical brasileiro, o Correio separou uma série de artigos que analisam os pontos. Confira:
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Educação ancestral antirracista
O artigo O ensino da história e cultura afro-brasileira através do samba, publicado pela Revista UEG, propõe o samba como ferramenta pedagógica para ensinar história e cultura afro-brasileira, destacando como as letras, ritmos e tradições desse universo expressam experiências de resistência, sociabilidade e ancestralidade. O estudo reforça que o samba, muito além do entretenimento, é documento vivo da trajetória negra no país.
Incorporar o samba ao ambiente educacional rompe, segundo o texto, com a lógica tradicional de ensino, que frequentemente marginaliza expressões culturais negras ou as restringe a datas comemorativas. Seria a partir da incorporação sistemática do gênero musical — analisando letras, contextos, territórios e práticas — que a educação apresentaria a legitimação de epistemologias afro-brasileiras. Conforme o artigo, a educação antirracista repara invisibilizações históricas e permite que estudantes negros reconheçam sua própria ancestralidade como parte estruturante da história nacional.
Origem do samba: reinvenção constante e cultura híbrida
Já a pesquisa Desde que o samba é samba: a questão das origens no debate historiográfico sobre a música popular brasileira, publicada na RBH (SciELO), revisita as disputas históricas sobre “onde nasceu” o samba — um tema que, há décadas, envolve tensões entre Rio de Janeiro, Bahia e matrizes africanas. O estudo demonstra que mais importante do que localizar um ponto de partida é compreender o processo de formação cultural híbrida que fez do samba uma expressão urbana, afro-brasileira e profundamente social.
A busca por uma “origem definitiva” do samba muitas vezes serviu a interesses políticos, regionais e identitários ao longo do século XX, conforme o artigo.O estudo sugere que a insistência em localizar um “marco inaugural” simplifica um processo mais complexo, que envolve fluxos migratórios, encontros urbanos, circulação de práticas culturais de matriz africana e transformações estruturais da modernidade brasileira. Em suma, o texto convida a compreender o samba não como um ponto fixo, mas como um processo contínuo de reinvenção.
Da marginalização a popularidade: periferia silenciada e ressignificada
O caráter político do samba também aparece em análises como Samba: da margem social à identidade nacional (Redalyc), que discute a passagem do gênero do campo da marginalização — alvo de criminalização e racismo no início do século XX — para o status de símbolo nacional, especialmente a partir das políticas culturais do Estado Novo. O estudo revela as contradições desse processo, mostrando como a nacionalização do samba conviveu com o silenciamento de vozes negras, autorias femininas e tradições periféricas.
Foi a partir do uso do samba como ferramenta de integração nacional que o Estado brasileiro difundiu o gênero, que, ao mesmo tempo, enfrentou censura, moralização e policialização dos corpos negros. Mesmo quando se tornou símbolo nacional, o samba continuou a enfrentar tensões raciais, econômicas e políticas. O estudo também destaca que a ascensão do samba ao status de “música oficial do Brasil” não significou reconhecimento pleno de seus criadores — muitos permaneceram invisibilizados ou tiveram suas obras apropriadas por intermediários brancos. A identidade nacional construída sobre o samba é atravessada por hierarquias e contradições que persistem até os dias de hoje.
Identidade brasileira reconhecida mundialmente
No campo internacional, a pesquisa Samba as a symbol of Brazilian cultural identity. Historical origins, formation, evolution (2023) amplia o olhar e reafirma o samba como uma síntese de experiências africanas, europeias e brasileiras, destacando sua capacidade de se reinventar cultural e musicalmente. A perspectiva global ajuda a situar o gênero não apenas como patrimônio nacional, mas como parte de diálogos culturais transatlânticos.
Ao longo de sua trajetória, o samba se tornou um símbolo reconhecido globalmente — não apenas pela musicalidade, mas como expressão de um imaginário cultural brasileiro. O artigo mostra como o gênero foi incorporado a circuitos artísticos mundo afora e como sua presença no exterior ajudou a moldar percepções sobre o Brasil enquanto país mestiço, plural e criativo. Contudo, a pesquisa também alerta para o risco de exotização, apontando que a circulação internacional do samba muitas vezes simplifica sua complexidade histórica e social. O texto propõe que compreender o samba no cenário global exige reconhecer suas raízes afro-diaspóricas e os processos de resistência que possibilitaram sua sobrevivência.
Por fim, os estudos evidenciam como o samba ultrapassa o campo musical e se torna fonte de conhecimento, resistência e construção coletiva. Neste Dia do Samba, vale lembrar que cada roda, cada verso e cada batida carrega histórias de luta, pertencimento e identidade, memórias que o Brasil segue aprendendo a reconhecer e valorizar.
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