Brigitte Bardot, que morreu neste domingo (28/12) aos 91 anos, entrou para a história do cinema ao se tornar um fenômeno internacional com E Deus Criou a Mulher (1956). Dirigido por Roger Vadim, então seu marido, o filme não apenas lançou a atriz ao estrelato mundial aos seus 22 anos como também provocou reações intensas, enfrentando cortes e censura em diversos países por desafiar frontalmente os códigos morais da época.
Na trama, Bardot vive Juliette, uma órfã de 18 anos cuja postura livre e despreocupada rompe com as convenções sociais. A personagem exibe sua sensualidade sem pudor: toma sol de biquíni, anda descalça e ignora julgamentos alheios. Desejada por um homem extremamente rico, Juliette, no entanto, sonha em fugir com o filho mais velho de uma família tradicional da região, aprofundando o choque entre desejo, liberdade e moralidade.
A forma como a figura feminina é retratada no filme causou indignação entre autoridades e críticos conservadores. Roger Vadim relatou que, após uma sessão inicial para os censores franceses, ouviu que deveria cortar uma cena em que Bardot “desfila nua” diante de um adolescente. O diretor respondeu com ironia: na sequência mencionada, a atriz estava completamente vestida. “Essa era uma das coisas mais incríveis sobre a presença de Bardot no cinema. As pessoas achavam que ela estava nua mesmo quando ela estava de roupa”, afirmou Vadim, segundo o Criterion Collection.
Já Simone de Beauvoir, intelectual feminista, foi conquistada pela proposta disruptiva da atriz. "Anda descalça, ignora deliberadamente as roupas sofisticadas, as joias, os perfumes, a maquiagem, todos os planos (...) Faz o que lhe dá vontade e é isso que perturba", escreveu.
Uma das cenas mais emblemáticas ocorre no clímax da narrativa, quando Juliette foge de casa e se abriga em um bar, onde dança ao som de tambores tocados por homens negros. A sequência causou forte polêmica na época, tanto pelo conteúdo sexual quanto pela presença interracial. Sobre o momento, o crítico Richard Brody escreveu na New Yorker, em 2009: “A dança de Bardot é uma expressão livre e exuberante de uma sexualidade jovem muito rara na França da época”.
Para o lançamento nos Estados Unidos, o filme sofreu alterações significativas. O país ainda seguia um rígido código de censura que defendia que as produções não poderiam “abaixar os padrões morais daqueles que os assistem”. Entre as proibições estavam relações inter-raciais e relações sexuais fora do casamento, o que motivou cortes e adaptações da obra original.
Além de seu impacto cultural e cinematográfico, E Deus Criou a Mulher transformou Saint-Tropez em um símbolo de luxo e desejo. Nos anos 1950, a comuna francesa era uma simples vila de pescadores, mas a exibição de suas praias e do estilo de vida mediterrâneo atraiu um novo público e redefiniu o destino. Décadas depois, a passagem de Brigitte Bardot por Búzios, no litoral do Rio de Janeiro, nos anos 1960, provocaria um efeito semelhante, consolidando a cidade como referência turística internacional.
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