
Crítica O agente Secreto // 5 estrelas
O agente secreto é um filme intrinsecamente brasileiro, não só pela tensa narrativa política situada em um momento marcante da história do país, a ditadura militar, mas pelos elementos que o compõem. A trilha sonora e ambientação carnavalesca, o plano de fundo recifense e a pirraça pernambucana tornam o filme uma ode à cultura e audiovisual nacional, de maneira única que só o cinema de Kleber Mendonça Filho consegue alcançar.
Como muitas outras obras nacionais, o longa retrata o período sombrio e conturbado do regime militar. O foco da narrativa é Marcelo (Wagner Moura), um professor que preza pela pesquisa acadêmica e pelos avanços tecnológicos do país em uma época em que as universidades federais eram consideradas subversivas e seus estudantes, silenciados. Na recusa de ser manipulado pelos agentes corruptos que cercavam o governo na época, Marcelo se vê obrigado a fugir de São Paulo para Pernambuco, temendo pela própria vida, e na esperança de escapar do país com o filho.
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Apesar de se passar na década de 1970, a trama continua sendo um reflexo da sociedade brasileira atual. A ascensão da extrema-direita no país, a aclamação da ditadura por políticos que pedem seu retorno e a falta de investimento enfrentada pelas universidades públicas ainda são cenários recorrentes em uma nação que, como Kleber Mendonça coloca, tem uma grande capacidade de esquecer a própria história. O "fantasma do comunismo" assombra uma narrativa em que os vilões são, como sempre, os militares.
Wagner interpreta um personagem cheio de nuances, dividido entre a fuga, a procura pela identidade da mãe e a dedicação em criar uma conexão e relação com o filho pequeno. Todo o elenco dá vida à obra, os personagens de Carlos Francisco, Tânia Maria, Alice Carvalho e Maria Fernanda Cândido agregam à rede de cumplicidade de Marcelo, trazendo, na mesma medida, um tom humorístico e mais aflições para a inquietante história. Em uma Hollywood tomada por filmes cinzas e opacos, a fotografia de O agente secreto encanta com sua vivacidade e tons vibrantes.
De elementos surrealistas a referências ao clássico Tubarão (1975), de Steven Spielberg, Kleber Mendonça entrega um roteiro sagaz em um thriller emocionante que pode ser coroado como uma das melhores produções do ano. O esmero com que o cineasta produziu o longa não só justifica a sua vitória e de Wagner em Cannes, como coloca a obra em um caminho claro para o Oscar e outras premiações internacionais, fazendo o Brasil ser reconhecido, mais uma vez, pelo cinema único que reflete a cultura do país.
*Estagiária sob a supervisão de Nahima Maciel

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