
Há três anos, o artista visual e cineasta Lino Valente iniciou um estudo sobre os rios que cortam o Distrito Federal e que, pela urbanização do espaço, foram aterrados ou canalizados. Dessa percepção surgiu Na cidade mora um rio, exposição fotográfica que retrata a saudade e efemeridade a partir da questão ambiental, que está em cartaz no Museu da República até 15 de fevereiro. A entrada é gratuita, e a visitação fica aberta de terça-feira a domingo, de 9h as 18h30.
Com fotografias, videoinstalação e projeções, os dois temas retratados ficam evidenciados pela passagem gráfica do tempo e paisagens impressas. "O artista fez esta série concebida com muita coerência estética e alicerçada numa poética muito ousada para educar nossa visão quase sempre viciada em olhar as coisas como elas são, e não vislumbrar de forma imagética o corpo da transcendência", conta Bené Fonteles, curador da mostra.
Usar a ideia dos rios para representar a passagem do tempo, explica Lino Valente, surgiu de forma "natural". "Para mim, o rio sempre foi uma metáfora do tempo: ele existe em movimento, muda sem parar, leva e traz, desaparece e reaparece. Ao observar um rio dentro da cidade, percebi que ele carrega duas camadas inseparáveis: a vida natural que resiste e a fragilidade de tudo o que passa", explica.
As instalações surgem da percepção do que nos escapa com o tempo e o que se revela apenas quando "desaceleramos". "O trabalho foi um diálogo constante de observação e pensamento, uma forma de interpretar silêncios e ausências, de manter o olhar desatento ao relógio e atento à natureza das coisas", diz Valente.
Os rios são integrados à exposição a partir da ideia da ausência, ou, de outra forma, "pela ideia de presença invisível". "Uma frase do Guimarães Rosa me acompanhou durante todo o processo: 'o rio é uma palavra mágica para conjugar eternidade'", afirma o artista. "Essa magia, para mim, é um corpo que insiste em permanecer, mesmo quando não o vemos. Nos trabalhos, essa presença se revela de maneira sensível: não mostro o rio diretamente, mas deixo que ele apareça nas lacunas, nos vestígios, nos movimentos de luz e memória", resume.
*Estagiária sob a supervisão de Severino Francisco

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