SUMMIT REFORMA TRIBUTÁRIA

"O governo está pegando o andar de baixo", diz Abranet sobre medidas de taxação das fintechs

Em evento promovido pelo Correio sobre reforma tributária, a presidente do Conselho da Abranet, Carol Conway, criticou medidas do governo taxando bancos digitais e fintechs que foram responsáveis pela inclusão bancária de milhões de brasileiros

Executiva participou do 4º painel do evento sobre reforma tributária, que debateu sobre
Executiva participou do 4º painel do evento sobre reforma tributária, que debateu sobre "As transformações do Sistema Financeiro e os Desafios para as Fintechs" - (crédito: Ed Alves/CB/DA.Press)

As fintechs, startups financeiras, ajudaram a aumentar a inclusão bancária da população e, atualmente, podem estar ameaçadas com o avanço da tributação sobre as operações realizadas por essas entidades e existe risco de comprometer a bancarização justamente dos mais pobres. Quem fez esse alerta foi Carol Conway, presidente do Conselho da Associação Brasileira de Internet (Abranet), nesta terça-feira (19/8), ao comentar sobre os riscos da medida provisória (MP) 1303/25, publicada em junho pelo governo e que altera a alíquota da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) para diversas instituições do sistema financeiro, incluindo fintechs e bancos digitais.  

“A MP aumenta em 60% a tributação da recepção de investimentos e em 65% os tributos dessas empresas. O ministro falou que estava tentando pegar o andar de cima, mas, na verdade ele está pegando o andar de baixo, que são essas pessoas que não têm acesso (a bancarização), nunca tiveram e que dependem de uma conta digital, dependem de uma maquininha pra aceitar seus pagamentos”, afirmou a executiva, em debate no evento Reforma Tributária: regulamentação e competitividade no setor de comércio e serviços e o futuro das fintechs no novo cenário", realizado pela União Nacional de Entidades do Comércio e Serviços (Unecs) e pela Frente Parlamentar do Comércio e Serviços (FCS), em parceria com o Correio

Nessa colocação, Conway fez um contraponto a uma frase que vem sendo dita pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ao defender a MP 1303/25, que tem como objetivo gerar receita para permitir que o governo consiga isentar do Imposto de Renda quem ganha até R$ 5 mil por mês. O chefe da equipe econômica do presidente Luiz Inácio Lula da Silva defende as medidas previstas na proposta legislativa como uma forma de "taxar a cobertura, o andar de cima".

Carol Conway, que participou do 4º painel do evento, que debateu sobre "As transformações do Sistema Financeiro e os Desafios para as Fintechs”, lembrou que as fintechs são empresas que conseguiram dar esse acesso ao andar de baixo por meio da tecnologia. “E conseguiu isso porque o nosso governo federal, o Banco Central e o Congresso Nacional transformaram em lei uma medida provisória que foi inspirada na Europa, a Lei das Fintechs, em 2013”, destacou. 

Segundo ela, essa nova regra separou o serviço de crédito, dos bancos, de um outro serviço que é serviço de conta digital, do moedeiro eletrônico de maquininha, e “permitiu também que as plataformas de investimento começassem a operar, e, hoje, tantas pessoas estão tendo acesso até a investimentos por meio desse mercado que floresceu”. “Existe a Lei dos Bancos e tem a Lei das Fintechs, que também são autorizadas e supervisionadas pelo Banco Central, mas elas têm como missão expandir esses serviços pessoas que não tinham acesso, justamente o andar de baixo”, ressaltou. 

A conselheira da Abranet disse ainda que a principal preocupação é com a tributação das contas digitais, porque os principais clientes delas são trabalhadores informais, como o vendedor de coco que passou a aceitar o pagamento via Pix. “Essas contas digitais são gratuitas, porque existe uma competição entre as fintechs, quando entraram no mercado inovando nesse meio digital”, frisou. “A conta digital gratuita é a base do Pix hoje. Isso é indissociável”, acrescentou. 

Golpes

Ao comentar sobre as fraudes no setor bancário, especialmente nos bancos digitais, Conway enfatizou que a Abranet possui acordo de cooperação para coibir o crime organizado e uma aliança nacional para melhorar o ambiente regulatório. Segundo ela, é preciso coibir o mau uso do sistema financeiro, de forma geral, e, para isso, é preciso uma atuação conjunta de todas as instituições do sistema financeiro e das autoridades, atacando a engenharia social, que é a origem da maioria dos golpes.

“A gente precisa também das pessoas e criminalizar quem usa contas laranja de forma mais incisiva, e sempre pensar no que estamos fazendo, porque, hoje, ninguém imagina a vida sem o digital, porque ele é maravilhoso. Mas temos uma necessidade de cuidado adicional”, orientou a conselheira.

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postado em 19/08/2025 16:16 / atualizado em 19/08/2025 18:31
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