Tarifaço

No México, Alckmin busca abrir portas para os produtos brasileiros

Principal negociador brasileiro na guerra comercial criada por Trump, vice-presidente disse que viagem é um passo para "destravar oportunidades" e intensificar a integração

Na reunião ministerial, o vice-presidente falou das medidas adotadas para minimizar o impacto da taxação  -  (crédito: Cadu Gomes/VPR)
Na reunião ministerial, o vice-presidente falou das medidas adotadas para minimizar o impacto da taxação - (crédito: Cadu Gomes/VPR)

O vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin está, nesta quarta-feira (27) e até amanhã, na Cidade do México, onde lidera uma missão oficial com ministros, empresários e representantes de órgãos públicos. O objetivo é consolidar parcerias estratégicas e ampliar os investimentos entre Brasil e México, as duas maiores economias da América Latina.

A viagem ocorre no momento em que o Brasil busca ampliar suas parcerias comerciais, como alternativa à taxação de 50% aplicada pelo governo dos Estados Unidos sobre produtos brasileiros.

Amanhã, Alckmin terá audiência com a presidente do México, Claudia Sheinbaum, no Palácio Nacional. "Temos esse encontro para fortalecer as relações, para a complementaridade de nossas economias. Não estamos apenas falando sobre comércio em algumas áreas, mas também sobre investimentos daqui para lá e de lá para cá. Vai ser uma reunião muito importante", afirmou Sheinbaum em entrevista à imprensa local.

Alckmin, por sua vez, pontuou, antes de embarcar, que o México é um parceiro importante para o Brasil. "A visita é uma oportunidade estratégica para aprofundarmos o diálogo político e, principalmente, para abrir novas frentes de comércio e investimento que gerarão prosperidade para nossos povos", destacou. A agenda da comitiva inclui encontros com integrantes do governo mexicano e do setor privado, em áreas como indústria, agronegócio e saúde.

Na abertura da reunião ministerial, ontem, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva também reforçou a relevância da viagem. "O Alckmin vai fazer uma viagem muito importante para o México a convite da presidente Claudia. Depois da taxação, eu conversei com a Claudia e disse que ia mandar o meu vice-presidente da república e ministro para que a gente possa descobrir o potencial de relação que têm entre México e Brasil", afirmou Lula.

A missão começa hoje, pela manhã, com um café da manhã com empresários, seguido de reuniões de Alckmin com o presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado mexicano, Alejandro Murat Hinojosa, e com três ministros: Julio Berdegué Sacristán (Agricultura e Desenvolvimento Rural), Juan Ramón de la Fuente (Relações Exteriores) e Marcelo Ebrard (Economia). O dia se encerra no Encontro Empresarial Brasil-México.

Amanhã, o vice-presidente receberá as Chaves da Cidade do México das mãos da chefe de governo, Clara Brugada Molina, em cerimônia no Antigo Palácio da Prefeitura. Mais tarde, se reúne com o secretário de Saúde, David Kershenobich, e com a presidente Claudia Sheinbaum. À tarde, participa de encontros com empresários e encerra a missão no evento da Associação Brasileira de Proteína Animal.

A comitiva brasileira é formada pelo ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro; a ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet; a secretária-geral do Itamaraty, Maria Laura da Rocha; além dos presidentes da ApexBrasil, Jorge Viana; da Conab, Edegar Pretto; e da Anvisa, Leandro Safatle. Representantes do Ministério da Saúde, da Fiocruz, do Instituto Butantan, da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e empresários também integram o grupo.

Em 2024, a corrente de comércio entre Brasil e México alcançou US$ 13,6 bilhões. Do lado brasileiro, os principais produtos exportados foram automóveis de passageiros (US$ 715,4 milhões), carnes de aves e suas miudezas (US$ 563,7 milhões) e veículos para transporte de mercadorias (US$ 507 milhões). Já as importações de produtos mexicanos somaram US$ 5,8 bilhões, com destaque para partes e acessórios de veículos (US$ 849 milhões), automóveis de passageiros (US$ 757,8 milhões) e veículos de carga (US$ 264,2 milhões).

Segundo Alckmin, a viagem representa um passo para "destravar oportunidades" e intensificar a integração produtiva regional. "Vamos nos reunir com o governo e com o setor privado para fortalecer a cooperação em áreas estratégicas", afirmou.

Taxação

Na reunião ministerial, Alckmin apresentou um balanço das medidas adotas para minimizar os danos da taxação. Ele afirmou que a política tarifária de Donald Trump é "totalmente injustificada" e destacou medidas lançadas pelo governo federal para apoiar as empresas exportadoras.

"Sobre a questão das tarifas, o último número que nós temos é de 41,3% de produtos excluídos da tarifa de 40%. Entre eles, avião, suco de laranja e ferro-liga. Temos também 23,2% incluídos na chamada Seção 232, que atinge o mundo inteiro, com tarifas de 50% para aço, alumínio e cobre. Nesse caso, não perdemos competitividade. Automóveis e autopeças pagam 25%, mas também para todos os países, não apenas para nós", explicou.

Segundo ele, porém, há segmentos mais prejudicados pela taxação. "Temos, de fato, 35,6% dos produtos que estão, injustificadamente, com tarifa de 10% mais 40%, somando 50%. Entre eles, alimentos como café, carne, pescado e frutas, além da indústria de máquinas e equipamentos, que é a mais afetada."

O vice-presidente disse que houve um avanço recente após negociação com autoridades norte-americanas, com a inclusão, pelo departamento de Comércio, de todos o produtos que contenham aço ou alumínio em sua composição na Seção 232. "Isso representa US$ 2,6 bilhões, o equivalente a 6,4% das nossas vendas para os Estados Unidos no ano passado, que totalizaram US$ 40,4 bilhões", avaliou.

Para reduzir os impactos das tarifas, o vice-presidente lembrou que o governo lançou o plano Brasil Soberano, com R$ 40 bilhões em crédito — R$ 30 bilhões mais R$ 10 bilhões do BNDES — com juros mais baixos. Além disso, recordou, o governo prorrogou o Drawback e ampliou o Reintegra.

Produtividade

O vice-presidente apresentou, durante reunião ministerial, iniciativas do governo federal para impulsionar a competitividade da indústria nacional e ampliar o acesso da população a veículos mais sustentáveis. Ele citou o programa para aquisição de bens de capital, num total de R$ 12 bilhões e juros que variam entre 8% e 10%. "O objetivo é renovar o parque industrial brasileiro, máquinas e equipamentos", afirmou o vice-presidente.

A segunda medida citada por Alckmin é a do carro sustentável, que já está em vigor, com redução do IPI a zero para os chamados carros de entrada, que são mais baratos. "O programa já é um sucesso: representa quase 17% das vendas. Tenho visitado concessionárias nos fins de semana, e todas estão lotadas", comemorou.

 

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postado em 27/08/2025 03:26
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