Banco Central

Inadimplência no crédito livre atinge 5,4% e preocupa especialistas

Com juros elevados, a maioria dos clientes endividados já atingiu o ‘muro inglês’, limite máximo permitido de cobrança no cartão de crédito

Rocha: mais da metade dos devedores já atingiram o
Rocha: mais da metade dos devedores já atingiram o "muro inglês" - (crédito: Edilson Rodrigues/Agencia Senado/Reprodução)

A taxa de inadimplência no crédito livre subiu de 5,2% em julho para 5,4% em agosto, de acordo com o relatório de Estatísticas Monetárias e de Crédito divulgado pelo Banco Central (BC). Entre pessoas físicas, o índice avançou de 6,5% para 6,8%, enquanto para empresas, permaneceu em 3,3%. No crédito direcionado, a inadimplência passou de 1,8% para 2,0%, e no crédito total, que combina operações livres e direcionadas, aumentou de 3,8% para 3,9%.

O volume de concessões de crédito livre somou R$ 555,6 bilhões em agosto, queda de 3,3% em relação a julho. No acumulado de 12 meses, porém, houve crescimento de 11,7%. O recuo foi mais intenso entre empresas, de 4,9%, para R$ 242,1 bilhões, enquanto o crédito a pessoas físicas caiu 2,0%, para R$ 313,5 bilhões.

A taxa média de juros no crédito livre também subiu, passando de 45,6%, em julho, para 46,0% em agosto, bem acima dos 39,7% registrados no mesmo mês do ano passado. Para pessoas físicas, a taxa avançou de 57,9% para 58,4%, e, no caso das empresas, de 25,0% para 25,2%.

O chefe do Departamento de Estatísticas do BC, Fernando Rocha, alertou que parte dos clientes de cartão de crédito já atingiu o chamado "muro inglês", limite legal que interrompe a cobrança de juros acumulados nessa modalidade. "Das 68 instituições, 38 informaram que, no percentil 100 — que corresponde ao 1% dos maiores devedores no cartão de crédito — os valores estavam iguais ou superiores a 99. Isso significa que, em mais da metade dos casos, esses clientes já chegaram ao teto. A partir desse momento, a cobrança de juros é interrompida, e a legislação passa a atuar de forma efetiva", explicou.

Segundo especialistas, a combinação de juros altos e expansão do crédito nos últimos anos criou um cenário delicado para muitas famílias. Thiago Pinotti Duarte, economista e Chief Revenue Officer (CRO) da Base39, alerta que, embora o mercado de trabalho permaneça aquecido, a renda extra tem sido absorvida pelo custo dos financiamentos e pelo peso das dívidas. "A inadimplência em alta não indica fragilidade imediata da economia, mas revela um risco social que pode frear o consumo e abalar a confiança", afirma.

 


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postado em 30/09/2025 04:17
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