Mineração

Mesmo proibido, mercúrio ainda é usado no Brasil

Mineração ignora a Convenção de Miramata, da qual o Brasil é signatário, utilizando, inclusive mercúrio ilegal

Operações do Ibama encontraram mercúrio em terras indígenas -  (crédito:  ALAN CHAVES)
Operações do Ibama encontraram mercúrio em terras indígenas - (crédito: ALAN CHAVES)

Metal tóxico e amplamente usado na mineração, o mercúrio causa prejuízos à saúde, à economia e ao meio ambiente do país. É o que diz o estudo De onde vem tanto mercúrio, realizado pelo Instituto Escolhas. De acordo com a pesquisa, cerca de 185 toneladas de mercúrio ilegal foram usadas na extração de ouro, no Brasil, entre 2018 e 2022. 

"O Brasil é um dos signatários da Convenção de Minamata, que é um compromisso internacional que trata da eliminação do uso do mercúrio em nível global. Mas, apesar de já ter deixado de usar o mercúrio em diversos produtos e setores, ainda continua usando muito mercúrio para a extração de ouro e, muitas vezes, mercúrio ilegal", alerta a diretora de pesquisa do Instituto Escolhas, Larissa Rodrigues. 

O perito da Polícia Federal, Gustavo Geiser, afirma que existe uma abordagem prevista por leis para casos de uso do elemento químico de maneira ilegal.

 Geiser cita a operação Hermes, em que o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) e a PF flagraram pessoas jurídicas e físicas envolvidas em um esquema organizado de comércio não autorizado do mercúrio,em garimpos de ouro.Foram cumpridos 34 mandados de busca e apreensão. "Em Santarém, onde eu trabalhava até mês retrasado, também era comum ter apreensão de mercúrio oriunda do comércio local ilegal", diz o perito, ao citar outro exemplo. 

Levantamentos da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que serviram de base para estudo do Instituto Escolhas, revelam a maior forma de contaminação do metal: o mercúrio é descartado nos rios, é absorvido pelos peixes e contamina os seres humanos. Em 2019, mais da metade dos indígenas Munduruku analisados possuíam nível maior de mercúrio do que o recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS).  

“Propomos interromper a mineração ilegal nessas áreas e desenvolver um plano de gerenciamento de riscos que vise garantir a saúde, os meios de subsistência e os direitos humanos dos povos indígenas da Bacia Amazônica”, dizem os autores dos artigos. 

Possíveis soluções 

“A principal alternativa ao uso do mercúrio é mais simples do que imaginamos. É o chamado método gravimétrico, que consiste, basicamente, em limpar os sedimentos com água até que sobre apenas ouro. Esse é um método eficiente e totalmente seguro e livre de químicos. A gravidade é que faz todo o trabalho, porque, como o ouro é mais pesado do que o restante dos sedimentos, ele se acumula no fundo dos recipientes durante o processo de lavagem. Para esse processo, geralmente os garimpeiros usam bateias, mesas vibratórias. Mas, independentemente dos instrumentos, o princípio é usar água, lavar o material e deixar o ouro se acumular no fundo por conta da gravidade, já que ele é mais pesado. Essa é a opção preferencial para o momento, pois já está totalmente disponível”, explica Rodrigues.

De acordo com ela, o uso da planta pau de balsa também pode ser uma alternativa. “Essa planta tem propriedades que fazem com que ela se ligue às partículas de ouro, semelhante ao que faz o mercúrio, por isso pode ajudar na extração do metal. Além de ser uma alternativa natural ao mercúrio, plantações de pau de balsa também podem servir para a recuperação de áreas degradadas pela atividade mineral, trazendo então um duplo benefício. Essa é uma alternativa que ainda não está em uso comercial, mas é muito promissora”. 

No dia 7 de outubro, o Correio promoverá, em parceria com o Instituto Escolhas, o evento Controles sobre o uso de mercúrio na extração do ouro no Brasil. O intuito é debater o uso do metal na extração do ouro no Brasil e discutir possíveis soluções com o governo, o setor privado e a sociedade. 

Mais informações sobre o evento no link abaixo: 

https://eventos.correiobraziliense.com.br/controledomercurio

* Estagiária sob a supervisão de Edla Lula

 

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LC
postado em 01/10/2025 04:12
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